Oi pessoal!

 
 
 

O Maracanã é lindo demais para não ser apreciado. Estar nele é mágico demais para não ser sentido.

No entanto, posso dizer que me assustei, pela primeira vez, com o que vi do time sem Sornoza, Gilberto e Pedro, embora aliviada pelo Marcelo Oliveira fazer o time agredir, atacar,  diferente da proposta de jogo bacteriana do seu antecessor.

Mas, assustada, busquei o céu. Estava nublado mas com temperatura agradável. Passaria madrugada adentro ali, sentada no setor sul inferior, de frente para a baliza dos gols de Assis nos Fla-Flus de 83 e 84.

Diante da tristeza que me tomava ao constatar que acabaram com o meu Fluminense, inevitáveis foram as lembranças.

Entre elas, a torcida, ansiosa e agitada, quase em demência entre cantos belos em vozes engasgadas por um time na sargeta técnica e um clube na sargeta administrativa, estava longe de ser aureada pela luz do pó-de-arroz.

Enquanto persistia o 0x0 diante de um Vitória, por sorte nossa, defensivo como um time Abel, na metade do segundo tempo, um pequeno tumulto fez com que todos no setor esquecessem que havia um time em campo, vestindo nosso manto.

Dois torcedores se desentenderam. A polícia foi acionada. Afastei-me com calma ao lado dos meus amigos. Foi o que me fez sair momentaneamente de minha paralisia emocional, dominada pelo desânimo e culpa: por que gastei um dinheiro que não tenho para estar aqui?

Via um funeral e a indignação tomou conta de mim. Indignação não é cólera. São sentimentos diferentes. A cólera é descontrolada e agressiva. A indignação é um estado emocional por vezes necessário.

Só havia visto um time tão incapaz de sequer escolher a jogada certa, sem saber dar um chute naquele objeto redondo chamado bola, em 1999, na Série C, com Betinho e Cia.

Voltando a minha infância e adolescência, repassei meu olhar num Maracanã com cerca de 63 mil lugares vazios e “caiu a ficha”. Vocês conseguiram! É com vocês mesmos que estou falando! Vocês que administram o Fluminense desde 1987.

Vocês conseguiram: vocês mataram o Fluminense! Desunido e fraco, o pior adversário do nosso clube de coração é o “Flusócio Piscina Tênis Clube”  cujo time titular conta com craques do descaramento, artilheiros que furam as redes do Estatuto: os membros do Conselho Deliberativo.

Em campo, a camisa do nosso amor sucateada. Vestida por jogadores que, naquela noite da última quinta-feira, despertaram em mim mais pena que irritabilidade com os erros sucessivos.
Era a limitação técnica ungida pela falta de salários e ausência surreal de noção do que seja o movimento de corpo correto e a escolha certa da jogada no futebol.

Evitarei citar nomes, claro. Até porque eles sangram em campo para conseguirem acertar.

E também por não serem os únicos no futebol brasileiro com as mesmas (des) características.

Realmente a programação de treinos deve ser integralmente com base na condição atlética. Formação técnica deve ter, por semana, 40 minutos de treino, no máximo. Alguém me daria essa informação?

A maioria dos jogadores profissionais, atuando em grandes clubes, não sabe dar um passe, um chute, um cabeceio. Ter esses três básicos recursos técnicos então, Nossa Senhora! Conta-se nos dedos da mão. Só da direita ou da esquerda.

Reafirmo o que disse semana passada: a briga mais “emocionante” do Brasileiro de 2018 será descobrir quais serão os quatro péssimos dos péssimos.

O efeito não é diferente em nosso time, mas muito mais perigoso porque nunca tivemos mídia nem arbitragem como as cinco maiores torcidas têm; e não temos diretoria que saiba o que seja esse esporte chamado futebol, embora o use para “não sei o que”.

Como eu, milhões de corações espalhados por todo país e em muitos lugares do mundo permanecem estarrecidos, angustiados, maltratados pelo descaso, desmando, abandono e, repito, o deboche dos conselheiros que descumprem o Estatuto para protegerem uma diretoria assassina de sonhos, alegrias, esperanças e da nossa força, glória e tradição.

Ao sair e ver a torcida se dispersar como vultos cambaleantes, conformados com mais um episódio da série “Flusócio Piscina Tênis Clube usando a camisa do CLUBE DE FUTEBOL MAIS IMPORTANTE DO RIO DE JANEIRO”, sem mais força sequer para se indignar, me deixou completamente arrasada.

Em minha inflexão, desabafei: – Covardes! Assassinos do meu clube: a conta vai chegar e será alta. Haverá choro e ranger de dentes por nos imporem, goela abaixo, todo esse desencanto. Vocês mataram nosso clube.

A vitória sobre a cachorrada da Flusócio e “seus” conselheiros no Clássico Vovô foi tão fundamental quanto milagrosa para que nós, a torcida, e a dignidade desses jogadores façam o FLUMINENSE sonhar com sua ressurreição, se se salvar do frio e abandono da tumba qual foi arremessado.

“O resto é silêncio”. Ou: sua vocação é a eternidade. Volte! Volte! Ou me leve até você pois imenso é o vazio com sua já longa demais ausência.

Volte, meu Fluminense! Volte, meu eterno amor! Porque “o resto é silêncio.”

 

Imagem: Bruno Haddad / Fluminense F.C.