Como foi a adaptação no novo clube?

Foi complicado, difícil pelo calor, pela umidade. O estilo dos jogadores é bem diferente, a qualidade… Eles não vivem do futebol, a maioria trabalha com outras coisas. É difícil motivá-los para jogos importantes. Agora está acabando, é o ultimo mês, dei uma relaxada e procurei esquecer isso. Têm alguns que trabalham para o governo, para a alfândega, o outro é policial, os mais novos são obrigados a estudar na universidade, outros têm o próprio negócio. Isso influencia muito no rendimento. Eles não acham motivação, o futebol é hobby. Jogam e treinam para se divertir. No meu caso e no dos quatro estrangeiros que estão aqui, vivemos do futebol. Infelizmente, temos que nos adaptar. Lógico que não sigo no ritmo deles, senão complica mesmo (risos).

 
 
 

Do que mais sente falta do Brasil?

Sinto falta dos meus amigos e familiares, sou muito apegado a eles. Sempre fui de jogar pelada com eles, toda semana estávamos fazendo alguma coisa, barzinho, conversa fora. Agora conheci uma galera boa do Brasil aqui em Abu Dhabi. Saímos, jogamos pôquer. Estou quase chegando perto da vida que levava no Rio.

O pôquer é uma das distrações em um país que não proporciona tanta liberdade quanto o Brasil?

Sim. Depois que eu aprendi, nunca mais parei de jogar. É para se divertir, tirar um sarro e tirar um dinheiro do Fred. Ele é chamado de Banco do Brasil (risos), está sempre perdendo dinheiro para a gente. Ele é muito ruim. Perde no pôquer e no Fifa. Pode escrever que ele é muito ruim, pode escrever bem grande. O negócio dele é jogar bola.

O futebol não é um esporte tão popular em Abu Dhabi. Como é o reconhecimento dos torcedores nas ruas?

Aqui eles nem conhecem a gente. Os jogadores daqui não são muito conhecidos. O negócio é que mora muito saudita aqui. Em alguns lugares que eu vou, eles me reconhecem. O Al Hilal é muito grande aqui no Golfo, é como se fosse o Corinthians ou o Flamengo. Tem uma torcida grande, mas é bem menos do que quando eu morava lá. Tem o lado bom: aqui podemos fazer tudo, ir a um barzinho com a esposa, é tranquilo. Não se compara ao Brasil, onde pegam no pé se o cara joga mal determinado jogo.

Você se acostumou a atuar em estádios lotados, especialmente, no Rio de Janeiro. Como é jogar com o estádio praticamente vazio?

(Risos) É uma coisa muito difícil, muito mesmo. Não tem ninguém gritando o nome. Você escuta o treinador, o auxiliar gritando seu nome. É chato, às vezes, você quer jogar e tem alguém buzinando no seu ouvido. Aqui até quando é clássico tem pouca gente. O clube dá alimentação para algumas pessoas irem ao estádio. Isso não é só com o Al Jazira, todos fazem. O Al Ain e o Al Ahly têm um pouco mais de torcida, os outros, não. Fico comentando sempre no aquecimento. Qualquer barulhinho de longe você escuta, mas torcedor, nenhum. Eu entro e falo para o Jones, nosso atacante: “Hoje está cheio… Cheio de assento livre (risos).

O Abel Braga era o treinador da equipe e foi um dos responsáveis pela sua contratação. Você se arrependeu de ter acertado com o Al Jazira depois que ele foi demitido, logo após a sua chegada?

No começo, sim. Depois que ele saiu… A gente começou muito mal. Hoje estamos livres de rebaixamento, mas o início foi ruim. Fazíamos tudo certo, mas dava tudo errado. Quando o Abel saiu, achei que não tivesse feito a coisa certa. Estava bem desmotivado. Agora eu me animei de novo. É ver o que vai ser montado para o ano que vem. O time precisa de reforços, porque passar vergonha que nem este ano, não dá.

Você despejou sua Insatisfação no Twitter ano passado. O que aconteceu?

Estava bem desanimado, desmotivado, queria sair, trocar de time por aqui. Estava chateado. O Al Jazira tinha um time bom no ano passado, mas vendeu vários jogadores: três para equipes locais, o Jucilei foi para a China. O time quebrou e não contrataram ninguém. Ficamos com muitos jogadores da base, que não possuem experiência. Ficou muito fraco.

Você se lembra do que aconteceu no dia do desabafo?

Perdemos o jogo, estávamos em uma sequência de derrotas. Vim do clube para casa no telefone, revoltado, postei que estava complicado, algo assim. Recebi uma punição do clube, um puxão de orelhas. Pedi desculpas aos jogadores e a todos. O começo foi… Nossa! Foi o momento mais difícil da minha carreira. Olhava e falava: “Meu Deus do céu, o que eu vim fazer aqui?”. Deu uma melhorada, os jogadores viram que cairíamos para a segunda divisão e estamos nos animando para o ano que vem.

No início deste ano, a imprensa noticiou que Flamengo e Fluminense estariam interessados na sua contratação. Você foi procurado por esses clubes?

Não… Pelo menos, para mim, não chegou nada, até porque deixei claro para o meu empresário que não quero voltar ao Brasil. Não tem nem chance. Estou pensando nos estudos da minha filha, e não quero que ela perca o inglês que está aprendendo aqui. Estou com 31 anos, prefiro viver aqui, estou bem. É hora de pensar neles.

Caso volte ao Brasil, tem preferência por alguma equipe?

Não tenho preferência, mas tenho vontade de jogar em alguns times.

Quais?

Tenho vontade de jogar no Corinthians, no Internacional, até por ter vários amigos que torcem pelo clube e falam muito. Deixa eu ver… Atlético Mineiro. O Fluminense é a minha casa, ali, se tiver a oportunidade de voltar, claro que vai ser uma das primeiras propostas que vou analisar.

Você tem muita identificação com o Fluminense. Arrepende-se de ter jogado no Flamengo?

Não, faz parte do futebol, vários fizeram isso. Na época muitos me crucificaram, chamaram de mercenário, mas ninguém sabe o que aconteceu realmente, quando fui do Flamengo para o Fluminense. O Flamengo tinha uma data para pagar ao Al Hilal e não cumpriu. E, aí, o Fluminense apareceu como interessado em me comprar. O Al Hilal falou que não negociava mais com o Flamengo, que perdeu a data, e ouviu o Flu. Eu queria ficar no Brasil. O Flu negociou, acertei com o Celso Barros, rapidamente, e eles acertaram com o Al Hilal. A prioridade era do Flamengo, mas o clube não respeitou a data que o Al Hilal tinha dado.

Fred e Levir Culpi entraram em rota de colisão neste mês. Acompanhou a situação ou falou com o atacante neste período?

O Fred e eu temos vários amigos em comum. Ninguém sabe direito (o que aconteceu). O Fred é na dele, e se resolveu com o Levir. Tenho certeza que vão arrebentar juntos. Um depende do outro. A gente se fala pouco. E difícil achar o Fred, é um cara complicado, não responde no Whatsapp (risos). Para falar com ele, ou você liga ou vai na casa dele.

Como é a liderança que o Fred exerce sobre os jogadores?

É um bom capitão, um bom líder. Eu vi que ele reclamou que o Levir pegou no pé dele pelo jeito que ele falou com o (Gustavo) Scarpa. O Fred é assim. Ele reclama, briga, xinga no vestiário, mas fica tudo ali. Fora dali, acabou. Ele briga pelos mais novos, pelo salário, discute premiação.

A perda da Libertadores de 2008 ainda não foi digerida por boa parte da torcida do Fluminense. Você ainda lamenta a derrota na final para a LDU?

Aqui passa a Libertadores da América, e a lembrança sempre vem à cabeça. Vejo jogos do Boca, da LDU, que acho que jogou contra o Grêmio, recentemente. Você olha o estádio e lembra como foi. Não dá para deixar para trás. Às vezes, dá vontade de voltar ao Brasil só por causa da Libertadores. Eu queria voltar ao Fluminense, disputar e ganhar. Tem que ser com o Fluminense. A gente tinha que ter levantado aquele caneco. Fizemos tudo certo, ainda não foi digerido.

Na prorrogação, você quase fez o gol que daria o título ao Fluminense. Ainda pensa sobre esse lance?

Está vivo, muito. Estava 3 a 1, o Washington deu um tapa de cabeça para trás, dei uma chapada na bola e o goleiro pegou. Não era para ser…. Não adianta. Saímos perdendo, viramos… Não sei de onde tiramos forças para reverter. Não sei mesmo. Fizemos tudo, tudo, tudo. Meu Deus do céu! Essa era para eles mesmo. O goleiro foi bem malandro nos pênaltis, atrapalhou muito. Na hora do meu pênalti, eu esperei, ele saiu do gol, não entendi o que o juiz deu na hora. Ele não podia ter saído do gol. É a malandragem, foi experiente, e atrapalhou. Eu ia bater no canto, mudei e ele pegou. Não bati com muita força, bati para não errar e ele deu sorte de pegar com o pé. O Conca, que não errava, errou, assim como o Washington. Os principais batedores perderam. O Cícero fez o gol. Antes dessa Libertadores, poucos clubes (do continente) conheciam o Flu e sua torcida. Depois disso viram a força, passaram a respeitar mais, até nas outras edições que jogamos. Deixamos uma imagem.

O Fluminense foi campeão da Primeira Liga neste mês. Consegue acompanhar o clube e o futebol brasileiro?

Acompanho o Fluminense, o Paraná Clube, time onde eu me criei. Instalei a Globo aqui e vejo todos os jogos quando tenho tempo. Aqui passa 3h da manhã dependendo do jogo. Leio na Globo.com, vejo tudo que está acontecendo. O Fluminense ainda está encaixando, falta algumas coisas para jogar o Brasileiro. É competitivo, mas não sei se chegaria. O Levir vai reforçar a equipe, faltam peças para deixar o time forte mesmo.

Depois de sua primeira passagem pelo Fluminense, você se transferiu para o Hamburgo. Por que acha que não foi mais longe no clube alemão?

Quando eu saí do Rio, estava muito bem, tinha voltado das Olimpíadas, estava na minha melhor fase. Joguei dois ou três jogos no Hamburgo e o treinador falou que eu precisava ganhar massa. Ele me trocou de posição, me botou como volante e comecei a sentir algumas coisas. Estava muito frio também. Fui ficando chateado, ele falando que daria oportunidade e eu nunca jogava. Chegou uma hora que não aguentei mais, foram seis meses só treinando. Joguei três jogos. Houve uma hora que não queria mais jogar. Hoje eu me arrependo de ter abandonado a barca, de ter saído cedo.

Por falar em seleção brasileira, você ainda pensa nisso?

Eu não fico alimentando mais, deixo rolar. Obviamente é quase impossível, não por estar jogando aqui ou pela qualidade, mas pelos jogadores que temos. O Dunga está fazendo a coisa certa ao colocar os mais novos. Tem que dar experiência ao Coutinho, ao William, é para botar mesmo. Não adianta trazer quem já jogou, tem que dar chance para a garotada. Esses são o futuro da Seleção. O Brasil tem muito jogador bom, por isso, fico torcendo. Sei que é quase impossível.

Está vivo, muito. Estava 3 a 1, o Washington deu um tapa de cabeça para trás, dei uma chapada na bola e o goleiro pegou. Não era para ser…. Não adianta. Saímos perdendo, viramos… Não sei de onde tiramos forças para reverter. Não sei mesmo. Fizemos tudo, tudo, tudo. Meu Deus do céu! Essa era para eles mesmo. O goleiro foi bem malandro nos pênaltis, atrapalhou muito. Na hora do meu pênalti, eu esperei, ele saiu do gol, não entendi o que o juiz deu na hora. Ele não podia ter saído do gol. É a malandragem, foi experiente, e atrapalhou. Eu ia bater no canto, mudei e ele pegou. Não bati com muita força, bati para não errar e ele deu sorte de pegar com o pé. O Conca, que não errava, errou, assim como o Washington. Os principais batedores perderam. O Cícero fez o gol. Antes dessa Libertadores, poucos clubes (do continente) conheciam o Flu e sua torcida. Depois disso viram a força, passaram a respeitar mais, até nas outras edições que jogamos. Deixamos uma imagem.

O Fluminense foi campeão da Primeira Liga neste mês. Consegue acompanhar o clube e o futebol brasileiro?

Acompanho o Fluminense, o Paraná Clube, time onde eu me criei. Instalei a Globo aqui e vejo todos os jogos quando tenho tempo. Aqui passa 3h da manhã dependendo do jogo. Leio na Globo.com, vejo tudo que está acontecendo. O Fluminense ainda está encaixando, falta algumas coisas para jogar o Brasileiro. É competitivo, mas não sei se chegaria. O Levir vai reforçar a equipe, faltam peças para deixar o time forte mesmo.

Depois de sua primeira passagem pelo Fluminense, você se transferiu para o Hamburgo. Por que acha que não foi mais longe no clube alemão?

Quando eu saí do Rio, estava muito bem, tinha voltado das Olimpíadas, estava na minha melhor fase. Joguei dois ou três jogos no Hamburgo e o treinador falou que eu precisava ganhar massa. Ele me trocou de posição, me botou como volante e comecei a sentir algumas coisas. Estava muito frio também. Fui ficando chateado, ele falando que daria oportunidade e eu nunca jogava. Chegou uma hora que não aguentei mais, foram seis meses só treinando. Joguei três jogos. Houve uma hora que não queria mais jogar. Hoje eu me arrependo de ter abandonado a barca, de ter saído cedo.

Por falar em seleção brasileira, você ainda pensa nisso?

Eu não fico alimentando mais, deixo rolar. Obviamente é quase impossível, não por estar jogando aqui ou pela qualidade, mas pelos jogadores que temos. O Dunga está fazendo a coisa certa ao colocar os mais novos. Tem que dar experiência ao Coutinho, ao William, é para botar mesmo. Não adianta trazer quem já jogou, tem que dar chance para a garotada. Esses são o futuro da Seleção. O Brasil tem muito jogador bom, por isso, fico torcendo. Sei que é quase impossível.