Chegou a hora de Roger Machado e Marcão assumirem o Fluminense. Após Ailton Ferraz comandar um time alternativo nas duas primeiras rodadas do Campeonato Carioca, a dupla estreia no comando tricolor com uma equipe ainda sem os titulares, que estão de férias, mas já reforçada por peças do elenco profissional neste domingo, às 18h (de Brasília), contra o Flamengo no Maracanã.
Além dos tricolores, outros técnicos também estarão na torcida por uma causa maior: o racismo. Pela primeira vez, um clube da Série A terá dois treinadores negros, com carreiras solo na elite do futebol brasileiro, que se uniram para trabalhar em um cenário cada vez mais raro para afrodescendentes.
O Portal GE lembrou que, se no passado houve treinadores negros renomados no país, como por exemplo Gentil Cardoso, que comandou uma seleção brasileira alternativa na Copa América Extra de 1959; Didi, que levou a seleção peruana à Copa do Mundo de 1970; Valmir Louruz, campeão da Copa do Brasil de 1999; Lula Pereira, que trabalhou em mais de 20 clubes e conquistou vários estaduais… Atualmente, entre as equipes da Série A, há apenas Jair Ventura, no Sport, além de Roger e Marcão.
Mas da mesma forma que o português Jorge Jesus reabriu as portas do Brasil para técnicos estrangeiros após conquistar o Campeonato Brasileiro e a Libertadores em 2019, o sucesso de Roger Machado e Marcão no Fluminense pode significar mais oportunidades na visão de treinadores negros que já trabalharam na Série A e esperam voltar. O portal conversou com técnicos negros e pegou depoimento deles sobre o tema.
- Andrade: “Fico feliz, espero que isso seja mantido. Parabenizar o trabalho que Marcão e Ailton fizeram no Fluminense. Muitos não acreditavam, mas eles fizeram um grande trabalho, quero dar os parabéns aos dois. Agora, com a chegada do Roger, vou torcer mais ainda por eles. Espero que já façam um bom Campeonato Carioca”.
- Celso Rodrigues: “A gente se sente muito orgulhoso por ver dois técnicos negros em uma equipe muito grande, como o Fluminense. O Roger Machado dispensa comentários, é um excelente treinador que já teve suas conquistas, é estudioso, competente, assim como o próprio Marcão, que fez uma excelente campanha no Brasileiro. Precisa ter mais oportunidades para outros profissionais negros também, como preparadores físicos. Mas é motivo de orgulho e felicidade. Que eles possam estar levantando essa bandeira e abrindo portas”.
- Dyego Coelho: “Eu, particularmente, fico muito feliz. Mas com sentimento de estar sempre querendo mais. A gente sabe da dificuldade, do preconceito que tem com relação a nossa cor, que eu me orgulho muito, mas a torcida que eu tenho pelos dois é algo absurdo, de um querer que esteja tudo sempre dando certo. São referências. Marcão pelo trabalho que vem fazendo há muito tempo no Fluminense, desde as categorias de base, como auxiliar e até mesmo quando chamado para apagar incêndio, está sempre indo muito bem. E o Roger é uma referência, um grande treinador. Eu me orgulho de vê-los no comando de um grande clube”.
- Hélio dos Anjos: “Acho muito legal que o Fluminense tenha dois treinadores negros, mas vejo também como uma coisa normal. Sou negro, fico vendo pessoas falarem sobre isso, mas nunca tive problema por ser negro em minha carreira. Comecei no Joinville, que é um reduto alemão, passei quatro vezes no Juventude em Caxias do Sul, que é colônia italiana… Nunca fui ofendido ou senti fecharem portas para mim. Meu auxiliar há 20 anos também é negro, estamos sempre trabalhando. Mas acho uma coisa muito boa em se tratando de terem dois em um grande clube”.