Amigos, o Rio de Janeiro já respira os dois Fla-Flus que decidirão o Campeonato Carioca de 2017, nos próximos domingos. Os clássicos vindouros são o assunto obrigatório dos bares, das padarias, dos botecos, dos cafés e dos restaurantes. Em cada esquina da cidade, só se fala dos Fla-Flus.
Convenhamos: só mesmo a pujança do Fla-Flu poderia salvar essa competição mal-amada, mal-formulada e mal-executada, que não chega nem perto de ser a sombra do que era no século passado, quando levou ao Maracanã os maiores públicos da história do esporte no mundo. Relembrando as finais dos Campeonatos de 1963 e 1969, acreditem, amigos: cada uma delas levou duzentas mil almas ao antigo Maracanã.
Já posso imaginar como será linda a festa nas arquibancadas, o pó-de-arroz, as bandeiras, os cânticos, os gritos. O Maracanã pulsará como se um monumental ser vivo fosse.
Os dois rivais já se enfrentaram duas vezes em 2017: no Fla-Flu 396, a decisão da Taça Guanabara, no Engenhão, o empate em 3 a 3 e a vitória tricolor na definição por pênaltis. No Fla-Flu 397, em Cariacica, pela Taça Rio, novo empate em 1 a 1. Para a decisão, o clássico volta a seu habitat, o Maracanã de tantas e tantas emoções, desde 22 de outubro de 1950, quando o Fluminense venceu o Flamengo por 2 a 1 no primeiro Fla-Flu do estádio.
Antes ainda do Maracanã, o Fla-Flu já decidira o Campeonato Carioca em três ocasiões, com três triunfos tricolores. Em 1919, em Laranjeiras, Marcos Carneiro de Mendonça defendeu aquele pênalti, o Fluminense venceu por 4 a 0 e conquistou o Tri. Em 1936, novamente em Laranjeiras, melhor-de-três: 2 x 2, 4 x 1 e 1 x 1. Em 1941, na Gávea, o épico Fla-Flu da Lagoa terminou empatado em 2 a 2, com o heróico Batatais fazendo milagres sob a trave, com a clavícula deslocada, garantindo o título para o Fluminense.
Depois da construção do Maracanã, o Fla-Flu decidiu oito vezes o Campeonato Carioca. Em 1963, o empate sem gols deu a taça para o Flamengo – pela primeira vez, campeão sobre o maior rival. Em 1969, o Fluminense deu o troco: derrotou o rival por 3 a 2, e levou a taça para a rua Álvaro Chaves. Estes dois Fla-Flus são, até hoje e provavelmente para sempre, os dois maiores públicos da história do futebol, em jogos de clubes.
Em 1972, o Flamengo voltou a ser campeão sobre o Fluminense, mas os tricolores se vingaram no ano seguinte, com a vitória por 4 a 2 sob intensa chuva.
Em 1983 e 1984, Assis se tornou o grande personagem do Fla-Flu, decidindo o título duas vezes seguidas para o Fluminense: em 1983, com aquele chute rasteiro aos 45 do segundo tempo; em 1984, com uma cabeçada de beija-flor aos 30 da etapa final, inaugurando a estátua de Fillol na pequena área do Maracanã.
Em 1991, o Flamengo conseguiu ser campeão pela terceira vez em um Fla-Flu. Em 1995, o Fluminense chegou a estar oito pontos atrás do Flamengo na tabela de classificação. Numa arrancada espetacular, chegou ao Fla-Flu decisivo somente dois pontos atrás. A vantagem do empate era rubro-negra, mas o Fluminense abriu 2 a 0 no primeiro tempo. O Flamengo não desistiu e empatou, com Romário (então o melhor futebolista do mundo) e Fabinho. Foi a vez de o Fluminense, com um a menos, provar que também não desiste. Aos 41 do segundo tempo, Ronald acionou Ailton, e o craque do Acari chutou cruzado. Renato Gaúcho desviou a bola com a barriga e decretou a vitória tricolor no maior Fla-Flu de todos os tempos.
Vinte e dois anos depois, cá estão Fluminense e Flamengo, prontos para decidir o Campeonato Carioca pela décima-segunda vez. Entram dois rivais, sai um campeão. Daqui a cento e oitenta minutos, saberemos qual dos quadros estará coberto de glórias, do goleiro ao ponta-esquerda.
Só o Fla-Flu salva.
PCFilho
(escrevo aqui no NETFLU às terças-feiras; você também pode me encontrar no Twitter)