Qual a mãe que mais ama? A que arruma o quarto para o filho que vai voltar, ou a que arruma o quarto para o filho que não vai voltar? E qual o torcedor que mais quer o bem de seu clube: o passional ou o racional? O Fluminense carece de todos eles, juntos, harmônicos. Carece também de paz, de harmonia, enfim, reencontradas. O Fluminense carrega a pureza de uma criança sentada no balanço de uma praça florida às oito e meia da manhã, só à espera de alguém para empurrá-lo, a fim de sentir a brisa gostosa no rosto da ingenuidade. E quanto mais forte for o empurrão, maior a sensação de prazer. O Flu é a alma pueril de uma humanidade atormentada com sede de poesia.
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Contra o Madureira, na noite de sábado, em Macaé, a brisa bateu cedo no rosto dos tricolores, porque Gustavo Scarpa se aprimora a cada dia e marcou mais um gol de falta, logo no quinto minuto. É o motorzinho do time. O meia mantém a consistência ofensiva, é agressivo, vive ótimo momento.
Neste Flu de Levir, defesa, meio de campo e ataque jogam em linhas bem mais próximas, compactas. Há diálogo entre os setores, com transição de pé em pé. Quando se defende para armar o bote, o time consegue chegar ao ataque com apenas dois ou três toques, o que ilustra o aprimoramento do esquema
de jogo, hoje notoriamente mais organizado, embora o técnico ressalte, com punhado de razão, a necessidade constante de evolução.
A solidez defensiva também surpreende. Antes, era raro o Fluminense sair de campo sem levar gol. Por conta de uma hesitação de Diego Cavalieri, voltou a sofrer contra o Madureira. Nesta Taça Guanabara, o time havia sido vazado apenas na primeira rodada, no clássico com o Botafogo.
Levir definiu sua dupla de zaga, apostando no desgastado mas experiente Gum e em Henrique, que, até chegar às Laranjeiras, estava havia oito meses sem atuar. Era natural que sentisse o ritmo e a transição do futebol italiano para o brasileiro. Mandou Wellington Silva para esquerda e apostou em Jonathan, que, como Henrique, estava na Itália antes de vir para o Flu. Na nova realidade, a dupla houve de não ter sentido qualquer diferença ao menos com as cores da camisa.
Apesar de ter mantido a defesa (trocou apenas Silva por Giovanni), desta vez o treinador não pôde repetir a escalação porque Gerson e Osvaldo, lesionados, sequer viajaram para o Norte Fluminense. Por isso, entrou com Douglas na cabeça de área e teve que adiantar Cícero, que marcou dois gols, destacando-se. Foi tão bem que, após a partida, Levir disse que avaliará a possibilidade de efetivá-lo na nova função.
Marco Junior substituiu Osvaldo e atuou com gana de quem quer brigar por um lugar na frente. Só Fred destoou. O capitão tornou a perder pênalti e, sem as condições ideais, só não foi de novo substituído porque Levir precisou tirar outro jogador.
O Fluminense chegou aos 11 pontos, manteve-se na parte alta da tabela e praticamente assegurou uma vaga nas semifinais. Se vencer o Volta Redonda no próximo domingo, deverá decidir contra o Vasco o título da Taça Guanabara, na última rodada.
Que a brisa seja eterna enquanto dure.
Que empurrão, Levir!
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Coluna bissemanal, publicada geralmente às segundas e quintas, e sempre nos dias seguintes aos jogos do Fluminense.