Carla Matera, repórter da Rádio Tupi, trouxe toda a história do afastamento de Fred da partida contra o Volta Redonda. A profissional, responsável pelo furo de reportagem, em um longo texto explica tudo o que aconteceu para que o atacante tenha feito seu ultimato: “Ou Levir ou eu”. Confira abaixo, na íntegra:

FRED RICO mas sem as CHAVES
Sem gols, sem poder e sem paciência, Fred declara guerra a treinador

 
 
 

Parecia ser mais um sábado ensolarado na sede tricolor, com treino em véspera de jogo. Mas o capitão chegou e não encontrou seu nome na lista de jogadores relacionados para a partida.
Normal, afinal, jogador que não tem condições de treinar dois dias seguidos, não deve ter condições de jogar. Não, não estamos falando de algo normal. Não para quem até ontem tinha CHAVES não apenas como sobrenome, mas tinha as chaves do comando, dos jogadores e do clube.
Quando assinou uma prorrogação de contrato de seis temporadas ( período muito largo para o mundo da bola), convencido pelo então vice de futebol Mario Bittencourt, Fred virou a alma, o líder, e principalmente o COMANDANTE das laranjeiras.
Não houve problema com o desconhecido Drubsky, com o polido Cristóvão Borges, muito menos com o não menos mineiro Enderson Moreira que em suas mais polemicas entrevistas disparava “ o mais importante é que a gennnte connnquissste mais três ponnntos”.
Enderson parou de conquistar mais três pontos, e menos 3, menos 3, menos 3 … e pela primeira vez nós últimos anos, até para surpresa de muitos, o presidente Peter Siemsen por iniciativa própria, sem o aval e nem opinião de sua cúpula, definiu um novo nome para o comando: o jovem Eduardo Baptista.
Apresentado sem pompas, mas com total respaldo do mandatários, numa sala de imprensa dentro da escola do exercito onde o time treinava há alguns dias para fugir um pouco das justas reivindicações da torcida, Eduardo tomou posse de sua oportunidade ou problema) sem a aprovação do vice de futebol e do gerente que apenas “assistiram” escanteados a apresentação feita pelo presidente do clube.
Bem intencionado, capaz, mas sem a malicia necessária a malandragem de craques da bola, aos poucos Eduardo foi cedendo a admiração pelo capitão do time que um dia , como trator, atropelou seu comando, quase que decretando sua impossibilidade de tomar as rédeas da situação.
A jornalista pára um segundo de escrever e dá lugar ao ser humano que convive com Fred há anos. Sujeito de coração bom, boa praça, com DNA que ídolo que a torcida tricolor não via há décadas. Admiro e tenho respeito pelo moço. Mas cabe a jornalista trazer fatos e deixar que sejam interpretados por mentes conscientes.

O jejum de vitórias, também com Eduardo Baptista, e agora declaradamente com as ordens de Fred, deu ao vice Mario Bittencourt a possibilidade de se “vingar” da desmoralização de não ter sido ele a eleger o então treinador. Com a legenda subliminar de “tá vendo, eu sabia que não daria certo”, durante a madrugada após mais um resultado adverso e sem o aval, nem a aprovação do mandatário, o vice DEMITIU o treinador.
Mas o dirigente esqueceu que “vingança é um prato que se come frio” e durante a madrugada pode causar indigestão.
O resultado de sua atitude foi a sua própria demissão e o afastamento de seu fiel escudeiro.
Foram 10 dias de apuração constante até ser confirmado o nome de Levir Culpi para substituir Eduardo.
Levir, aos 63 anos, recém completados, já em sua primeira aparição como técnico tricolor já deixou bem claro que a partir dali, jogaria quem estivesse em melhores condições e quem comandaria o time seria ele. Ninguém mais.
Fred de artilheiro da temporada parou de deixar sua marca a partir de 11 de fevereiro (quando fez 3 num só jogo), no dia 24 sofreu uma lesão muscular que o afastou por quase um mês e desde que voltou a atuar, não marcou mais. E foi substituído em todos os jogos sob a alegação justa de que quando se fica muito tempo fora, é necessário que se coloque o atleta aos poucos.
Na partida contra o Madureira, semana passada em Macaé, ao ser questionado se Fred havia pedido para sair, Levir sem pestanejar disse: “ entra e sai do time quem eu acho necessária a substituição” e quando eu perguntei sobre como era sua relação com os jogadores, Levir com a mesma rapidez me respondeu “ o que acontece lá dentro do vestiário eu não conto, mas posso te adiantar que houve sim um stress hoje lá dentro, mas não não vou te contar”
E houve. Repórteres não precisam de informações mastigadas. Quem tem jornalismo no sangue sabe que o que estou dizendo é fato. O trabalho, a correção, a sensibilidade e a credibilidade conquistadas por muito trabalho, são fatores que nos levam a apuração e confirmação de fatos sem interesses políticos ou de simples favorecimentos.
Até a “era Levir”, a ordem era seguir as ordens de Fred. As ordens de Fred eram: “ quando qualquer um receber a bola, me acha e toca pra mim”. Naquele dia, o treinador no vestiário escutou o camisa 9 reclamar de forma áspera com os “de menor” que não tinham cruzado pra ele. Ali acabou.
“Quem manda sou eu e quem tiver a bola não tem que procurar ninguém, a não ser o gol. E tem mais. Não quero saber de ninguém reclamando de falta de oportunidade. Antes, é melhor ter a consciência se tem ou não rendido para depois cobrar alguma coisa de alguém”
Assim, Levir conquistou de uma vez por todas o desafeto do “cara” que hoje não vai jogar. Não porque não quis, mas porque o treinador não o escalou. E não o escalou porque ele não treinou sexta e ontem ao ver seu nome fora da lista convocou toda a cúpula e fez de um sábado simples para o trabalho de uma repórter dedicada, um dia longo, cheio de perguntas aos poucos respondidas. De correria para encontrar esconderijos que me permitissem ficar ali, ao lado da informação, que estava dentro, lacrada , trancada a 6, não 7 CHAVES na sala do departamento de futebol. Foram horas intensas e tensas de pé, de um lado para o outro buscando tomadas para carregar equipamentos, tirando literalmente o salto e de pés descalços e no chão para evitar barulho.
Eu disse 6 CHAVES porque dentro do departamento de futebol, estavam: o presidente Peter Siemsen, o diretor Jorge Macedo e Fred, e depois chegaram o amigo e “representante Rodrigo “barriga” e o empresário e assessor Francis Mello. Além de um fiel funcionário do clube que a todo momento saia da sala para garantir que não havia ninguém perto da porta que pudesse ouvir o que estava sendo dito.
Faço questão de contar bastidores, porque não quero que pensem que um dia eu daria uma informação de forma leviana ou que comprometeria algum conhecido para ter privilégio de informação. Eu estava ali. Anoiteceu. Fred saiu e não quis falar. Seus representantes em seguda também deixaram o clube sem uma palavra sequer. E os dirigentes também não responderam os chamados da repórter que já estava sem bateria e sem sapatos ali, ao lado da notícia.
21h30 do dia 9 de abril. Assessoria de imprensa informa oficialmente: Fred não viaja porque pediu dispensa de 3 dias para resolver problemas particulares.
Amigos, ninguém convocaria uma reunião de mais de duas horas com a cúpula de futebol e seus representantes para pedir uns diazinhos de afastamento. Fred inclusive cogitou ser emprestado a outro clube brasileiro já que só aqui estão abertos períodos de transferências neste momento. Surgiu a informação de que o Palmeiras seria candidato, mas o verdão de São paulo pretende Nenê e não Fred. E quem pagaria os vencimentos de mais de 800 mil reais do capitão tricolor e o que o Flu lucraria ao emprestá-lo, já que na reunião, Peter, apesar de sem fugir de sua serenidade, deixou claro que não abrirá mão de multa rescisória caso Fred queira deixar o clube. Inevitável . Tenho que citar “ 09. Está insatisfeito? Pede pra sair”. Obvio que o aristocrático e elegante cartola tricolor, seguindo o principio da fidalguia e jamais desprezando a história escrita por Frederico nas laranjeiras não usaria tal vocabulário de “capitão nascimento, personagem de tropa de elite”, mas nas entrelinhas, se Fred não quiseer se submeter ao treinador, vai ter que pedir para sair.
Talvez naquele momento, o Fred, ainda RICO tenha usado pela ultima vez CHAVES para fechar suas portas nas laranjeiras.
Já vi um filme parecido. Só os personagens não eram os mesmos. Dia 16 de outubro de 2004. Alexandre Gama, escala “sugerido” pelo então presidente David Fishel , o capitão e craque Romário. Fluminense perde por 4 x 1 do Goiás. Gama, chorando, pede desculpas a torcida por dua fraqueza de como treinador ter cedido a ordens de cima e ter prejudicado o time. Naquela antiga sala do maracanã, tomei conhecimento que Romário, do alto de sua arrogante soberania teria disparado: “O Gama ou eu!”
E a coletiva foi aberta pela inexperiente repórter, que hoje com quase 20 anos de estrada da bola, perguntou:
– Presidente David Fishel. Quem fica? Romário ou Alexandre Gama? E Fishel com olhos azuis marejados me respondeu: “ O Gama fica.”
Tão logo eu tenha a oportunidade de ser atendida por dirigentes, a pergunta inevitável será:
Peter. Quem fica? Fred ou Levir?