Quatro Libertadores em sequência

 
 
 

Há mais de uma maneira de enxergar a chegada de Paulo Henrique Ganso no Fluminense. A dos pragmáticos, que é correta, é desconfiada. Será que um cara que não rodou nos seus anos de futebol europeu pode liderar o time em meio a uma de suas maiores crises institucionais de sua história? A dos otimistas, que também é correta, é efusiva. Trata-se do maior meia armador surgido no Brasil na última década, um cara que ainda tem bastante tempo para jogar futebol e desequilibrar partidas e campeonatos.

Eu, pessoalmente, fico no segundo grupo. Mas querem saber? Isso é absolutamente irrelevante.

Porque o que faz do futebol esse esporte apaixonante é o imponderável. Ganso pode ser o melhor jogador do Brasil em 2019. E pode amargar um banco num time limitado, se repetir o padrão de suas últimas temporadas.

O que de fato importa para o Fluminense e sua torcida é que, independentemente do resultado esportivo que trouxer, Ganso realinha o Fluminense às expectativas históricas de seu torcedor.

Não dá para olhar para o Matheus Alessandro e dizer “olha… esse cara vai fazer o time jogar”; não dá para pensar no Cláudio Aquino e imaginá-lo dando o passe decisivo aos 44 do segundo tempo numa semifinal de um mata-mata qualquer.

Ganso sequer pisou no Rio de Janeiro, ao que parece. Mas sua contratação veio com o pé na porta do coração do tricolor. Não conheço qualquer um que tenha torcido o nariz, mesmo diante das naturais dúvidas sobre desempenho, remuneração e tempo de contrato.

A verdade é que ao posar para foto com nossa camisa, Paulo Henrique Ganso já deu algo que – hoje – importa mais que gols e assistências para a maltratada torcida tricolor. Ganso nos presenteou com a volta do insumo mais importante para qualquer torcedor: a esperança.

E esperançosos, amigos, somos capazes de encarar o diabo pelo Fluminense. Sem esperança? Nada somos. E por isso que há anos vamos minguando, derretendo como um picolé ao sol. E é também por isso que o torcedor vem sistematicamente criticando Abad e sua turma de usurpadores da grandeza do clube.

Ganso é a torcida engalanada indo para o Maracanã ver a estreia do Romário contra o Cruzeiro. Ganso é a eletricidade da arquibancada naquela apresentação do Deco. Ganso é o orgulho da torcida defendendo o Fred quando foi covardemente achincalhado pela imprensa esportiva na copa do mundo. Ganso é o Renato Gaúcho vestido de Rei na capa dos jornais da Flapress em 1995. Ganso é Assis. Ganso é Fluminense de Rivelino goleando o Corinthians num maracanã lotado no sábado de carnaval.

O Ganso não faz a menor ideia, mas hoje materializa o Fluminense que existe na memória e no desejo do torcedor. E isso é coisa pra cacete.

Se vai rodar, se vai fracassar, se vai isso ou aquilo, por agora, não importa.

Não importa mesmo.

O futebol é travessia. Às vezes chegamos quando tudo parece mostrar que é impossível, como quando Renato Gaúcho saiu da rede de futevôlei em Búzios para fazer o gol mais memorável da história do futebol; às vezes não chegamos mesmo com tudo indicando que chegaremos, como na vinda do Ronaldinho Gaúcho que veio com o time brigando pela liderança e saiu com ele em frangalhos, despencando pela tabela.

O que importa é que o sonho pulse, insista em martelar nossa cabeça. E jogadores como Ganso deixam sonhar.

Sem ter que correr atrás de lateral, sem a obrigação de marcar como um volante e num time cujo principal encanto é manter a posse da bola, Ganso tem tudo para cair como uma luva no Fluminense. Na sua frente vai encontrar jogadores velozes e no banco de reservas um treinador que luta para impor um modelo de jogo que tem tudo para envergonhar esses motivadores com salários de três dígitos que enchem suas equipes de brucutus e minam dia após dia a beleza do futebol brasileiro.

Ganso encantava mais que Neymar enquanto jogavam juntos. Ganso foi o 10 mais 10 das últimas décadas do futebol brasileiro.

Quis o destino que sua carreira não brilhasse como era o esperado. E agora esse destino o coloca no clube com as características certas para fazer com que volte aos trilhos: um bom treinador, uma equipe sem estrelas, uma torcida mordida e uma história repleta de glórias.

Não sei amanhã, mas hoje eu estou pensando em enfileirar quatro Libertadores em sequencia após a Sul-Americana que ganharemos este ano. E estou pensando em repatriar o Thiago Silva, o Marcelo e quem mais tenha estofo para jogar num Fluminense que tem jogadores com o nível de um Paulo Henrique Ganso.

Sempre fomos e sempre seremos gigantes.

Mas hoje dizemos isso com mais clareza.

Vamos!!!!!!!

Abraços tricolores.

CURTAS

– Pelo que li das negociações entre Flu, Ganso e Sevilla, foi muito boa a condução do Angioni. Pensou grande, agiu com habilidade e concretizou a vinda do jogador. Os parabéns são devidos também ao Abad. O presidente é criticado quase sempre, e quase sempre justamente. Mas não me parece certo tirá-lo da fotografia de uma bola dentro como foi essa. Direção, futebol e marketing (ótimo anúncio!). Parabéns!

– Queria uma ajuda de vocês. Não consegui nenhum registro do que vou dizer. E olha que procurei. Mas eu tenho a lembrança de que assim que surgiu pro futebol saiu uma matéria com o Ganso (acho que no O Lance, impresso) na qual entrevistaram o Pai ou padrasto dele lá no Pará. O cara era Fluminense. Torcedor apaixonado. Posso estar trocando alguma coisa na cabeça por aqui, mas seria ótimo poder confirmar essa história.

– Ganso quis jogar no Fluminense. Isso diz muito. Confiança lá em cima.