“Punições por má gestão não interessam à CBF”, destaca especialista

Amir Samoggi criticou duramente a maior entidade do futebol brasileiro

Administrador de empresas formado pela ESPM, especializado em gestão esportiva pela FGV e pós-graduado em marketing esportivo pela Universidade de Barcelona. Amir Samoggi, através de seu blog no portal Lancenet, pontuou os motivos pelos quais a CBF não tem interesse em punir clubes por má gestão.

Confira:

 
 
 

Nessa semana o Lance! publicou uma extensa entrevista com o diretor da CBF, Rogério Caboclo. O que chamou muita minha atenção foi como as respostas mostram uma realidade que mais parece uma fantasia.

A CBF considera que o futebol brasileiro está maravilhoso. O que convenhamos é um completo absurdo.

Alguns exemplos: clubes com péssimas gestões, competições com baixo apelo, estádios vazios, arbitragens sofríveis, elefantes brancos, denúncias de corrupção, presidente da CBF que não viaja, violência das torcidas organizadas, são ótimos argumentos de como as coisas não são tão boas no mundo fora do escritório da CBF, na Barra da Tijuca.

E para piorar ainda o cartola deixa claro o interesse da entidade em sabotar o PROFUT, lei que tinha como grande função reorganizar a administração dos times brasileiros.

Com o argumento que possíveis punições esportivas por má administração poderiam prejudicar o bom andamento das competições, enterra qualquer possibilidade de punir clubes mal administrados.

Para o dirigente não interessa o que o clube faz fora de campo, isso não pode ser considerado na hora de decretar uma punição. Um argumento facilmente questionável.

Um clube de futebol não é um time de 25-30 jogadores. Um clube é uma organização que tem obrigações perante à sociedade. Deve sim ser enxergado dessa maneira.

A partir do momento que aja mal fora de campo, isso é mais do que suficiente para que o clube seja punido.

A obrigatoriedade de pagar salários em dia, bem como o recolhimento de impostos e contribuições sociais são obrigações dos clubes. Bem diferente do que pensa a CBF.

Lembrando que os grandes times brasileiros já receberam mais de R$ 700 milhões em receitas pela aprovação do PROFUT. Caso alterem o PROFUT vão devolver os valores recebidos?

Se o nosso mercado está absolutamente enfraquecido e nem de longe tem o poderio econômico que poderia é por culpa exatamente da falta de regulação e controle na gestão dos nossos clubes.

Já que não temos uma liga, a CBF é a única responsável pelo baixo nível da administração do nosso futebol.

Os clubes têm dívidas que somadas superam R$ 7 bilhões os déficits acumulados já ultrapassam R$ 3 bilhões. E mesmo assim a entidade máxima do futebol nacional fará de tudo para derrubar uma lei que tinha como objetivo regular a gestão dos clubes no longo prazo.

Está claro que a falta de interesse da CBF é a prova que somente uma cisão com a entidade, com a criação de uma liga, poderia alterar esse cenário.

Na Europa as regras são para serem cumpridas

Bem diferente do que pensa a CBF, no futebol europeu as regras criadas como, por exemplo, o Licenciamento de clubes da UEFA e Fair Play Financeiro devem ser cumpridas.

Boa parte dessas regras inclusive lidam com questões extracampo como o não pagamento de salários, recolhimento de impostos, dívidas entre clubes e déficits.

Portanto o argumento da CBF, que questões extracampo não podem ser consideradas em punições esportivas é um completo absurdo.

Se for comprovada a má gestão de um clube, pode e deve sofrer consequências, como punições esportivas.

Vários clubes foram punidos por suas ligas ou pela UEFA, como por exemplo: Juventus, Olympique de Marseille, PSG, Manchester City, Estrela Vermelha, Besiktas, Galtasaray, Bursaspor, Partizan, Lokomotiv Moscow, Dynamo Moscow, Twente, etc.

Segundo a UEFA mais de 53 clubes foram punidos desde que a entidade instituiu o Licenciamento de clubes na temporada 2003-04.

Alemanha é um exemplo

O que no Brasil os clubes sonegaram ao longo de décadas de má gestão, equivale a um ano de recolhimento de impostos do futebol na Alemanha.

Os 36 times alemães pagaram na temporada 2015-16 um total de R$ 4 bilhões em impostos.

7×1 foi pouco!