Os leitores que me acompanham há algum tempo sabem que sou um otimista incorrigível. Em 2009, quando os jornalistas já haviam decretado o rebaixamento do Fluminense, e os matemáticos nos davam 98% de chances de descenso, eu convocava a torcida tricolor ao Maracanã, argumentando que a Arrancada era possível – felizmente, o Fluminense provou que eu estava certo, e concretizou o maior milagre da história dos esportes no mundo.
Em 2010, quando ainda faltavam meses para a última rodada, meu sábio Profeta cravava que o Fluminense seria o campeão brasileiro, mesmo após os tropeços. Minha esperança na conquista era incomensurável – tanto que viajei o país atrás do time, estando fisicamente presente em 27 dos 38 jogos do título. Darío Conca foi monumental e, após o triunfo contra o Guarani na rodada derradeira, levantamos a taça, vinte e seis anos depois de 1984.
Em 2012, não era mais tão difícil acreditar, mas lá estávamos eu e o Profeta vaticinando que o tetracampeonato era questão de tempo, mesmo quando o Atlético Mineiro ainda somava alguns pontos a mais que nós, no primeiro turno. Liderado por Fred, o onze tricolor fez uma campanha espetacular, e a taça repousa feliz na rua Álvaro Chaves, quarenta e um.
Meu otimismo com relação ao Fluminense sempre foi tamanho que, algumas vezes, cheguei a ser comparado à “Pollyanna”, personagem de Eleanor H. Porter, que enxerga tudo “cor-de-rosa”. Principalmente em 2009, fui acusado de fugir da realidade, de acreditar em utopias irrealizáveis. Felizmente, muitas vezes ao longo de sua história, o Fluminense deu razão a nós, os otimistas.
Entretanto, para 2017, eu não estou nada otimista. O Fluminense disputará cinco torneios, e meu prognóstico é que sairemos eliminados de todos os cinco. Com alguma sorte, talvez levantemos uma das taças – alguma das quatro competições mata-mata, formato em que o acaso exerce um papel tão ou mais fundamental que o talento, a competência e a organização.
Após terminar 2016 com sua pior sequência de resultados na história do Campeonato Brasileiro, o Fluminense não melhorou seu plantel significativamente. Vieram os equatorianos Orejuela e Sornoza para o meio-campo, Abel Braga para o comando técnico, e mais uns gatos pingados das divisões de base. É pouco, muito pouco, para um clube conseguir ser competitivo no difícil futebol brasileiro.
E a desesperança não se resume às quatro linhas: o amadorismo da gestão do Fluminense invade todos os setores do clube. Os últimos anos criaram e ampliaram uma diferença abissal de receitas entre o Fluminense e os principais concorrentes; não sabemos em que estádio jogaremos; não sabemos nem que marca de material esportivo vestiremos; e por aí vai. Nem a padaria da esquina é tão desorganizada quanto o Fluminense.
Recentemente, algum sábio tricolor escreveu algo assim: “sempre tenho esperança com o Fluminense, sou dependente químico da esperança, mas até mesmo a esperança mais ingênua precisa de matéria-prima”. Deve ter sido o Beto Sales. Aliás, só pode ter sido o Beto Sales, leitura obrigatória aqui no NETFLU. É a frase que resume estas minhas mal escritas linhas: o otimismo precisa de matéria-prima.
Obviamente, estou torcendo para estar enganado. Estou rezando para que o que vejo como medíocre se revele excepcional. Para que possamos voltar a gritar “é campeão”. A torcida tricolor merece voltar a sorrir.
Prova que eu estou errado, Fluminense.
PCFilho
(escrevo aqui no NETFLU às terças-feiras; você me encontra também no Jornalheiros e no Twitter)