Após a confusão entre Fluminense e Vasco antes e durante a final da Taça Guanabara disputada neste domingo, no Maracanã, o Tricolor foi denunciado por André Valentim, procurador geral do TJD-RJ, bem como o seu presidente, Pedro Abad. Enquanto o Flu corre o risco de receber uma multa e ainda ser excluído da competição, o mandatário pode levar um gancho de até 720 dias, de acordo com o artigo 243-D.
Em entrevista ao NETFLU, o procurador explicou as razões pelas quais entrou com o pedido na Justiça contra o Tricolor e Abad e eximiu de qualquer tipo de culpa o Vasco da Gama e a FERJ sobre o conflito entre os torcedores vascaínos e a Polícia Militar nos arredores do Maracanã. Confira, na íntegra, a entrevista completa de André Valentim, procurador do TJD-RJ, ao site número da torcida tricolor:
NF: Você entende que o Fluminense não esgotou as esferas esportivas, mesmo a luta jurídica do Fluminense fosse por uma questão comercial, previsto no contrato entre o clube e a Concessionária que administra o Maracanã?
AV: Eu não entendi desta forma. No meu modo de ver, tanto não é, que o clube estava buscando ficar no setor sul. Se fosse comercial, por que a desembargadora mandou fechar o portão? O contrato diz o seguinte, pelo que eu tive acesso: o Fluminense tem a prioridade sim do lado sul, sendo o mandante. Ele não sendo o mandante, aí vai depender de negociação do time adversário, certo?
NF: Sim, mas desde de que o clube das Laranjeiras esteja de acordo…
AV: Como o Vasco não anuiu, até porque não poderia por conta do regulamento do campeonato, já que foi sorteado como mandante, eles começaram a vender ingresso.
NF: Mas mesmo com liminar favorável ao Fluminense, bem como o contrato, a ação não foi, no mínimo, temerária?
AV: A da desembargadora? Então, isso foi posterior. O Vasco já tinha vendido muitos ingressos, pelo que eu sei.
NF: Entretanto, desde 2013, quando o Fluminense assinou contrato com o Maracanã, os clubes se enfrentaram no estádio em nove oportunidades. Em todas elas os torcedores do Vasco ficaram no setor norte, respeitando o contrato vigente entre Flu e concessionária. Por que deveria mudar agora sem consentimento do Tricolor, baseado no contrato?
AV: É verdade. Antes de te responder, vou te fazer uma outra pergunta: por que o Fluminense, quando teve o arbitral, não falou isso na hora de concordar com essa cláusula? Por que aceitou as cláusulas do Carioca? Entendeu o meu questionamento? Se tivesse questionado naquela época e tivesse uma cláusula lá, tudo bem. Mas foi unanimidade, todo mundo assinou. Se o Flu adimpliu, tem que cumprir. Meu entendimento é esse. Não adianta mudar o jogo para poder se beneficiar.
NF: Você falou sobre se beneficiar, mas em qual sentido o clube se beneficiaria esportivamente, fazendo valer seu contrato com o Maracanã, ficando no setor sul?
AV: Nenhum (risos). Esse é que é o problema! Por que os caras estão brigando pra ficar no sul? Não tem benefício nenhum! Estão brigando por nada. Qual diferença fez?
NF: Mas se não faz diferença, por que a tentativa de mudança, afetando um contrato? O Fluminense utiliza o espaço para fidelizar seu torcedor, onde há a ideia da construção de uma loja e possui quiosque de vendas de produtos, além de outras campanhas específicas…
AV: Você já foi lá? Onde estão as lojas que eles disseram que botariam? Meu problema não é esse, entendeu? Meu problema não é questionar contrato, é o regulamento específico da competição, do Campeonato Carioca. O mandante era o Vasco, quem arrumou a confusão toda foi o Fluminense. Quem deu declarações bombásticas, chamando para a guerra, foi o presidente do Fluminense. Eu tenho que analisar o que eu tenho. Não posso ficar viajando sobre isso e aquilo, analiso apenas o que eu tenho sobre a partida.
NF: Nessa mesma coletiva que o senhor afirma que o Abad chamou os torcedores para a “guerra”, ele explicou depois que era no sentido de incentivar os jogadores, não no sentido literal. Mesmo ele tendo explicado isso, você considera que a fala dele incitou o ódio e a violência?
AV: Me responde uma coisa: o que aconteceu ontem, lá fora, no Maracanã? Não foi uma guerra?
NF: Mas pelo que consta em registros de imagem, a briga foi entre torcedores do Vasco, que tinham ingressos e queriam entrar e a polícia, impedindo a entrada dos mesmos, baseada numa decisão judicial.
AV: Não, claro… mas estimulado por qual motivo? Os caras compraram ingressos, vão para a porta do Maracanã, são barrados e o cara chama pra briga, para batalha, para não sei quê… estamos falando de futebol, cara! Mexe com emoção, já tem tumulto por si só. Acho que é complicado demais para ficar mexendo com esse tipo de situação, de chamar para batalha, chamar para guerra, Time de Guerreiros, isso não existe, cara… vamos estimular de outro jeito, pedindo para comparecer. O que ele fez pra mim ali foi chamar pra briga.
NF: No caso, o senhor sabe que a alcunha “Time de Guerreiros” vem desde 2009, por conta da campanha do Fluminense no Brasileiro daquele ano, quando tinha apenas 2% de chance de permanecer na primeira divisão e, mesmo assim, logrou êxito…
AV: É verdade. Eu sei, claro. Não foi o que mais mexeu comigo. O que mexeu comigo é o “vamos para guerra, vamos para batalha!”. O Time de Guerreiros eu sei que é por conta da virada do Brasileiro naquela época.
NF: Então o senhor pegou esse trecho específico da fala de Abad para justificar sua denúncia, mesmo ele mesmo se aprofundando sobre o tema, explicando o sentido do termo posteriormente?
AV: Também não sou tão radical assim em relação ao Time de Guerreiros (risos). Eu senti depois que ele sentiu que falou besteira e tentou mudar o tom. Mas torcedor é torcedor.
NF: Mesmo assim, depois disto, o Fluminense lançou uma nota aconselhando o torcedor a não ir para o estádio e o mesmo aconteceu com a PM, também não aconselhando, enquanto o presidente do Vasco e a Ferj mantinham a ideia de que o público poderia ir… o senhor assim entende que o grande culpado pelos conflitos foi Abad?
AV: Não tenho a menor dúvida. A menor dúvida! Inclusive, na última fala dele, ele diz que quem arranjar não sei o quê vai ser responsabilizado… vai ser sim! Ele deve ser responsabilizado pelo TJD e pelo Ministério Público, porque ele é o culpado por tudo o que aconteceu ali.
NF: O senhor defende isso mesmo depois da liminares para manter os portões fechados, que inclusive o Jecrim acatou, mudando de ideia posteriormente com um juiz que estava de plantão no estádio?
AV: Eu estou falando de uma liminar de uma desembargadora. Como que o juiz de um Jecrim vai caçar uma liminar de desembargadora? Você acha que o pessoal entrou por quê? Porque quando apertou o negócio, viu que o “pau tava cantando” lá fora, tinham crianças, idosos, mulher, pode ter certeza que a desembargadora falou que iria morrer gente ali se não liberassem. Alguém, o Prefeito, o presidente da república, ligou pro cara e mandou liberar. Não tenho a menor dúvida.
NF: O fato do Fluminense ter seguido à risca as liminares, na sua opinião, não exime o clube de culpa na questão envolvendo todo o conflito?
AV: Não. De maneira nenhuma.
NF: Mas o Vasco e a Ferj, que disseram que correriam o risco processual, bancando a multa de R$ 500 mil, não incorreriam num erro gravíssimo, podendo ser acusados até criminalmente?
AV: Isso. Mas o problema não é a liminar em si. Foi o modo pelo qual o Fluminense conseguiu a liminar. Esse pra mim é o “X” da questão. Liminar é o de menos. Agora, ele (Abad) agiu de forma ardilosa num plantão totalmente fora de horário. Não deu chance pra ninguém. Quando amanheceu, já tinha estourado o negócio. E a liminar não beneficia a ninguém. A liminar dizia que já que não havia acordo entre as partes, o jogo deveria ser de portões fechados, não vai ter torcida nenhuma. Ou seja, ninguém descumpriu. Só que ele fez isso de forma irregular. Ele tinha que ir lá no nosso tribunal desportivo, mandado de garantia e outras coisa para depois fazer o que fez. Ele não foi lá.
NF: O fato do Vasco ter posto os ingressos à venda sem comunicar ao Fluminense pode ser considerado normal, na medida em que não havia um acordo selado entre as partes?
AV: Claro! Quem manda fazer o ingresso não é o Fluminense, é a federação. Se o mando é do Vasco, coisa que já se sabia desde quarta-feira, entregou a carga do Vasco e o Vasco começou a vender. Onde que está o erro? Tem que esperar autorização do Fluminense para vender ingresso?
NF: Mas me refiro a um acordo entre Fluminense (parte interessada), já que o contrato entre o clube e o Maracanã fala em se discutir um acordo quanto ao lado onde ficarão os torcedores, caso o Flu não seja o mandante, como já discutimos nesse bate-papo…
AV: (risos) A gente vai ficar discutindo isso toda hora (risos). Vamos deixar o tribunal julgar lá e ver o que vai acontecer (risos). Meu entendimento é esse infelizmente, eu conheço o Abad, fui apresentado a ele e acho que ele extrapolou. Esse tumulto todo partiu de uma infelicidade dele numa entrevista. Devia ter pensado antes nas palavras que utilizou, que acabou ocasionando isso tudo. Cada um assume a sua responsabilidade.
NF: O senhor crê na punição de Pedro Abad e do Fluminense?
AV: Eu não posso te responder isso porque eu não julgo, eu só faço a denúncia. Quem julga são os auditores. A minha parte já está feita. Eles estão lá apreciando a liminar que eu pedi. Agora o resto eu não posso dar palpite uma vez que não vou participar do julgamento. Seria leviano da minha parte adiantar alguma coisa aqui. Só em segunda instância que eu atuo como procurador e como acusador. Só isso.