A LIBRA (Liga do Futebol Brasileiro) definiu a manutenção de 40% da receita igualmente entre todos os participantes da competição, 30% de variável por performance e 30% por engajamento, mas só se as receitas se mantiverem até R$ 4 bilhões. O presidente do Fluminense, Mário Bittencourt, esclareceu aos nordestinos presentes no evento Tricolor em Toda Terra, em Fortaleza, de que maneira o clube, institucionalmente, briga por uma divisão mais justa das receitas. E usou o Flamengo como o maior exemplo da defasagem que existe hoje e que, segundo Mário, continuará, dependendo dos fundadores da LIBRA
– O Fluminense faz parte de um grupo que defende um rateio melhor das cotas de televisão e das cotas futuras de uma liga. Cuidado porque boa parte da opinião pública tenta confundir a cabeça dos torcedores dizendo que colocando pra 50-25-25 está resolvido o problema. E não está. Os clubes de maior poderio financeiro estão propondo uma liga que no longo prazo o distanciamento só vai aumentar. A retórica é a seguinte: “Ué, mas todo mundo vai ganhar mais dinheiro”. Mas o que tenho respondido é que se a diferença continuar a de hoje não vai adiantar nada. Se eu ganhava 300 e vou para 600 e quem ganhava 1 bilhão vai para 2 bilhões não vai adiantar nada. Porque os meus custos para fazer futebol são os mesmos dos clubes que faturam 1 bilhão. Eu pago o mesmo preço de avião, taxa de arbitragem, taxas da federação. Tem clubes que ganham no payperview 880 vezes mais do que o último colocado do campeonato. No payperview de 2021, o Fluminense recebeu R$ 15 milhões e o nosso arquirrival R$ 162 milhões. É muito importante que vocês (torcedores) nos ajudem, nas redes, no discurso. Isso que eu estou falando é muito importante, porque é o futuro do Fluminense – declarou Bittencourt, seguindo:
– Se eu estivesse olhando única e simplesmente para esse momento, a melhor coisa do mundo é assinar rapidamente a liga, porque daqui a dois anos pode ter um investidor que colocará um caminhão de dinheiro à vista. Mas daqui a 10 ano vocês vão se questionar porque eu aceitei assinar algo que só manteve a distância pelo resto da vida. É um assunto que parece chato, mas fundamental para o seguimento da instituição. O projeto deles lá é levar em conta a performance dos últimos cinco anos para virar uma média garantida, o que é uma baita injustiça. Porque quem tem as melhores performances são os clubes que tem mais dinheiro. Só três clubes no Brasil possuem mínimo garantido de mais de R$ 100 milhões no payperview. Então quando se aplicar a taxa de inflação e o longo prazo, esses clubes continuariam ganhando muito mais dinheiro que os outros. No nosso critério comercial, engajamento, não tenhamos o mínimo garantido para não ficarmos defasados.
Um argumento que incomoda o Fluminense e os demais 22 clubes integrantes do grupo é sobre o critério relativo a números de redes sociais. Eles entendem que essa máxima não faz sentido, pois nem todos os clubes que possuem um grande número de seguidores nas redes representam engajamento comercial proporcional. Mário citou o exemplo da Chapecoense, que após a queda do avião em 2016 ganhou vários seguidores que se comoveram com o acidente.
– Lutamos por critérios de engajamento mais sólidos. Porque eles defendem, por exemplo, redes sociais, número de seguidores onde se compram robôs. O maior argumento que usamos nas reuniões é que engajamento nas redes sociais não significa engajamento da torcida. O exemplo clássico, que é triste, a Chapecoense. Tem mais seguidores do que a gente porque, em função da tragédia muita gente foi se solidarizar com a Chape nas redes sociais. Não é justo que um clube com média de 23 mil pessoas, que nós temos, com a quantidade de sócios, aceite esse critério de engajamento. Outra coisa que mais brigamos para uma futura liga é que se fala muito em tamanho de torcida e é o que baliza a pesquisa do payperview hoje, a pesquisa do Ibope, que não avalia a força comercial do torcedor. A Adidas patrocinou o Fluminense por 20 anos. Está no nosso arquirrival há 10 anos. Conversando com o diretor comercial da Adidas outro dia, perguntei quantas camisas nosso rival vende mais do que a gente. E ele me falou que é 4 para 1 e não 10 para 1. Eles não vendem 10 vezes mais do que payperview, não compram 10 vezes mais ingressos, não tem 10 vezes mais sócios. É a diferença de sócio-torcedor e simpatizante. Talvez eles tenham muito mais simpatizantes do que nós, mas pessoas que amam o clube temos muito mais do que eles, porque proporcionalmente temos mais sócios do que eles. Nossa briga é para que o Fluminense seja respeitado, pelo que ele realmente vende. O Fluminense lá no passado abriu mão desse mínimo garantido e ficou com uma diferença injusta de 10 vezes menos do que os nosso rivais.