O Fluminense deve mesmo participar da Liga Sul-Minas-Rio, na temporada que vem. Enquanto a confirmação oficial não é anunciada, o presidente da liga, Alexandre Kalil, deu uma extensa entrevista ao portal Globoesporte.com, falando sobre os rumos da competição e as conversas com a CBF.
Confira:
Foi boa a reunião com a CBF?
Foi ótima porque não houve confronto, não foi beligerante, não é para ter rompimento ou confronto. Foi uma reunião de gente preparada. Não estávamos no meio de moleques, de irresponsáveis. Mas sim de gente preocupada com a modernização do futebol brasileiro.
O senhor falou que o torneio teria seis datas. Antes falava-se em oito.
Todo mundo tem que horar os contratos assinados para o primeiro semestre. Vamos criar esse produto novo, mas vamos cumprir os contratos que já existem. Temos obrigação de cumprir. Não podemos pregar seriedade e valorização do produto se não cumprirmos o que já assinamos.
Isso envolve jogar os estaduais com time principal?
Não tem nenhum contrato que fale em time A, time B. Cada um faz como quer, ou como já fazia. O Atlético-PR já joga o estadual com reservas.
A Liga já negocia transmissão de televisão?
Ainda não. Acabamos de avisar ao mundo que temos um produto.
O sr. espera a adesão de novos participantes?
Não sei. Não tenho nem ideia. Mas é claro que estamos abertos. É um negócio novo, bacana, esperamos que todo mundo queira. É um produto valorizado, só com time grande.
O sr. diz que não é para haver rompimento, confronto, mas trata-se de um desafio às Federações Estaduais…
Nós estamos preparados para tudo. Somos dirigentes responsáveis.
Uma consequência da criação da Liga é o enfraquecimento das Federações.
Liga nunca pagou minhas contas. Toda vez que foi ao Atlético-MG, em seis anos que estive lá, foi para pedir algo. Isso não interessa a mim. Vão ficar mamando e chupando os clubes até morrer? A vampiragem tem limites. [As federações] têm que abrir mão de alguma coisa. Ou vamos morrer todos abraçados, é questão de sobrevivência. Nós não estamos inventando nada. A Liga copiou tudo. O cara que toma conta da Liga, que sou eu, não pode ser presidente de clube, não pode ter cargo público, não pode um monte de coisa, para poder se dedicar. Nós não queremos matar as federações, só não queremos morrer de fome. A Liga está amparada pela Lei Pelé, ela não é a primeira, já existe a do Nordeste a a Copa Verde. A CBF vai proibir de fazer o bem? Sob qual argumento? Temos que descer o futebol para o mundo real. Estamos fazendo a Liga com 30 anos de atraso.
A Liga Sul-Minas-Rio tem pretensões nacionais?
um embrião. Estou gritando isso faz mais de dez anos. E agora chegou ao caos absoluto, que tem gente presa, gente banida, agora vão nos dar a chance de fazer.
É um momento de enfraquecimento da CBF.
Claro. Tudo é oportunidade. A Liga inglesa surgiu com a Margareth Thacher, quando ela limpou tudo por lá.
O futebol brasileiro precisa de limpeza? A CBF precisa de limpeza?
O futebol brasileiro de uma conta simples: quem vende, tem que cuidar. Quando houver a Liga, vamos cuidar da Série A, B, C, da quarta divisão. Vamos ter responsabilidade na hora de dividir. Não adianta pensar que eu tenho que ganhar mais que os outros.
O sr. defende divisão igual de cotas comerciais, de TV, patrocínio?
Um negócio mais generoso. Estamos falando de generosidade. Não vamos fazer mal a quem nos ajuda. Se você maltratar a cozinheira, ela vai embora e você vai ter que comer pão com manteiga. Faz parte da minha vida. Pode não ter a condição que eu tenho, mas faz parte da minha vida. Onde eu vou buscar jogador? Na segunda divisão, na terceira divisão, na base.
A CBF não cuida bem do futebol brasileiro hoje?
Deixa eu te corrigir: não é hoje, não. Nunca cuidou. A CBF sucateou o futebol para fazer aquele império. Não é hoje, não é agora. Faz 30 anos que ninguém cuida do futebol brasileiro.
Mas os clubes não têm responsabilidade nisso? O presidente da CBF foi eleito por unanimidade, o anterior também.
Mas espera. E daí? Se errou antes vai continuar errando ad eternum? Agora resolvamos que não vamos mais errar. É como você dizer que adoçante engorda porque só gordo toma aquilo.
O sr. espera alguma resistência à Liga?
Não. Não espero resistência de lugar nenhum.
O Corinthians, por exemplo, diz que não se interessa.
Eles podem estar felizes lá, a gente vai estar feliz aqui.
Marco Polo Del Nero tem que continuar na presidência da CBF?
Não acho nada. Hoje eu assumi responsabilidades com a Liga. Tem coisas para as quais eu não sou chamado. Eu acho que a Liga tem que dar certo e vai ser tudo bem. Ponto final.
Quando projeta que a Liga pode substituir o Campeonato Brasileiro?
Esse tipo de coisa só nasce quando há vontade dos clubes. Eu não criei a Liga. Só soube depois. Os caras se juntaram, tiveram vontade e vão fazer. No dia que os clubes todos quiserem, vão fazer. O Corinthians pode estar feliz lá e nós aqui, mas daqui a pouco, se for bom para todos, chamam os paulistas, os outros…
A Liga defende algum tipo de teto salarial, como na NBA, por exemplo?
Não, não. Isso é mercado. Tem que ter juízo. A falta de juízo é que nos levou a esse caos. Tem gente com dez folhas de pagamento em atraso. Não há felicidade possível quando você deve dez salários, dez meses de direito de imagem.
O sr. defende profissionalização da arbitragem?
Claro.
Como a liga pode ajudar?
Muito. Acho que precisamos ter um diretor de arbitragem, alguém que entenda muito disso, que possa escolher os árbitros de cada jogo.
O sr. está gostando do Brasileirão?
Muito. É espetacular, é espetacular.
O que falta?
Falta pagar melhor.
Quem?
Todo mundo. Todo mundo tem que pagar mais.
O que o sr. espera como resposta da CBF à reunião de hoje?
A resposta que esperamos é “conte com a gente ou não conte com a gente”. No mais, a Liga é legal do ponto de vista jurídico. A liga está posta, o torneio está feito
Sai de qualquer jeito?
É claro que sim. Só queremos queremos saber se são nossos amigos ou não.