A Prefeitura do Rio de Janeiro liberou os clubes a reiniciarem seus treinamentos. Paralelamente a isso, a Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro (Ferj) já se articula para recomeçar o Campeonato Carioca. Situação essa considerada precipitada por Gutemberg de Paula Fonseca, chefe do Gabinete de Crise da Prefeitura.
– Acho precipitado estabelecer uma data para volta dos jogos. Nossa prioridade é ajustar a maneira como as atividades vêm sendo retomadas. Ninguém falou com clareza sobre os protocolos das partidas em estádios. Teremos ainda muitos debates com clubes e a Federação até definirmos passo por passo – avisa, continuando:
– Não estamos pensando inicialmente em quando o futebol vai voltar. A nossa preocupação é na maneira como os clubes tendem a retornar às suas respectivas rotinas. Os debates foram centralizados em relação a isto. Depois, enviamos o protocolo de segurança da Ferj, o “Jogo Seguro”, ao nosso Conselho Científico e as medidas foram consideradas as melhores possíveis para a retomada. Há um zelo muito grande com os atletas, comissões técnicas e funcionários dos clubes.
Gutemberg vai além e nega que o posicionamento da Prefeitura tenha mudado após pressão do Governo Federal.
– Este momento é de união, para todos sairmos mais fortes da crise do coronavírus – disse.
Confira a íntegra da entrevista de Gutemberg ao jornal Lance:
Quais fatores foram essenciais para que os clubes e a Ferj conseguissem mudar a percepção de vocês que estão no Gabinete da Crise da COVID-19 e também da Prefeitura?
Chamou muito a atenção a certeza de que, nesta volta aos seus treinos, os clubes passarão a ser também fundamentais para o combate à pandemia. Haverá a testagem frequente dos jogadores, da comissão técnica, dos funcionários, com o objetivo de detectar quem está infectado, quem é assintomático… As equipes também se comprometeram a fazer testagem nas comunidades que cercam seus respectivos CT’s. Claro que clubes de menor investimento não terão as mesmas condições de arcar com exames para COVID-19. Por isto, a Ferj se dispôs a oferecer testes para estas equipes. Todo este monitoramento trará uma contribuição significativa para toda a população do Rio de Janeiro e ajudará a prevenir um aumento da propagação do vírus.
Botafogo e Fluminense se opuseram inicialmente a este retorno às atividades. O que achou disto?
Não vejo nada de errado em tomarem a posição que acharem melhor. Porém, podem lidar com problemas de ordem técnica posteriormente, quando as competições voltarem.
Como os clubes que decidiram voltar às atividades podem evitar que haja o risco de contágio no dia a dia entre os jogadores?
Neste primeiro momento, foram liberadas fisioterapia, na qual o atleta fica deitado na maca, e também a fisioterapia com bola. Aquela reabilitação muscular para que o jogador retome as atividades que fazia no gramado. Houve um entendimento entre todas as partes para não acontecerem rachões nem coletivos, pois trariam aglomerações. Além disto, cada elenco será dividido em turnos. Massagistas, fisioterapeutas e funcionários usarão máscaras, todos os locais de treinamento serão sanitizados… O objetivo primordial da Prefeitura e de todos nós é salvar vidas.
O presidente da República, Jair Bolsonaro, e dirigentes de Flamengo e Vasco manifestaram abertamente o desejo de uma volta do futebol no Rio de Janeiro. Isto fez a Prefeitura apressar sua decisão em relação à retomada das atividades?
Não, de forma alguma! O prefeito sempre foi a favor da volta aos treinos. Ele se opunha à realização de coletivos, de rachões. Como esta situação ficou resolvida com os clubes e a Federação, foi dada a liberação.
Não há uma preocupação com a ascensão da curva da COVID-19?
Na verdade, estamos nos equipando e isto vai nos ajudar a fazer com que aconteça uma redução da curva aqui no Rio de Janeiro. Foram abertos mais 1,3 mil leitos em hospitais de campanha. Isto ajudará nossos hospitais.
As autoridades vão fiscalizar se os clubes estão agindo conforme o planejado em relação ao combate à COVID-19?
Há o Disk Aglomeração (na capital fluminense, o número é 1746). A Vigilância Sanitária também fará fiscalização frequente. O fato dos atletas estarem de volta aos clubes é importante também neste momento.
Houve reclamações de que jogadores estavam “driblando” a quarentena…
Não há como o clube fiscalizar o que cada jogador está fazendo nesta paralisação. Não se sabe se está treinando na rua, se está jogando bola no condomínio… Soubemos que tinha jogador que disputava o Estadual em clube de menor investimento e, para compensar o fato de seu contrato ter sido suspenso, disputava liga amadoras em troca de determinada quantia. Agora, quando voltarem à rotina do clube, os atletas não só vão se recuperar fisicamente, como também estarão cercados de cuidados.