Em 2014, foi encerrada uma das parcerias mais vitoriosas do futebol brasileiro. Há dez anos, Fluminense e Unimed se separavam após um período de grandes contratações e três títulos nacionais (Copa do Brasil em 2007 e Brasileiro em 2010 e 2012). E o portal ge recordou alguns bastidores daquele rompimento.
A Unimed assumiu o patrocínio do Fluminense num dos momentos mais graves de sua história: em 1999, quando a equipe disputava a Série C do Brasileiro (venceu retornando à elite). Com o passar dos anos, foi investindo mais no futebol e contratou para o clube nomes de peso como Romário, Edmundo, Ramon, Roger, Fred, Deco, Conca, Washington, Thiago Neves, Diego Cavalieri etc.
No ano da separação, lembra o portal ge, a Unimed vivia um problema grave financeiro. O ex-presidente da patrocinadora, Celso Barros, que tinha voz para lá de ativa no clube na época, conta sua versão.
— Até casamentos, às vezes, não são eternos. O meu é (risos), são 40 anos de casado. Mas patrocínio se estima em tempo, e o nosso não tinha prazo. O contrato era renovado automaticamente de acordo com o interesse das partes. Ocorreu uma situação de mercado, econômica, e tivemos que terminar — disse.
Lembre ainda o site que não foi o Fluminense quem quebrou a Unimed. Na época, estima-se que Celso Barros gastava 30% do orçamento da empresa com o clube. Apesar do descontrole em outras contas, a oposição desejava tirar Celso do comando da Unimed e enxergou nos gastos com futebol uma forma popular de criticá-lo.
Mas voltando ao campo e bola, houve também muitas polêmicas em bastidores.
— O término se deu por parte unilateral. Eu não esperava. A Unimed vivia uma crise tanto econômica quanto política. Eu queria ter mais tempo para a gente se arrumar. Entramos num turbilhão, numa situação de crise, de emergência. […] Eu gostaria muito que tivesse sido um pouso mais suave, mas entendo o lado deles — conta o ex-presidente do Fluminense, Peter Siemsen.
De acordo com Peter, foi feita uma proposta para que a Unimed permanecesse por mais seis meses, com valores sendo reduzidos ao longo deste período. A confirmação da saída aconteceu em dezembro de 2014, mas desde junho a notícia já corria.
A primeira grande briga entre Celso Barros e Peter Siemsen ocorreu por causa de Abel Braga. O presidente da Unimed queria demiti-lo em 2013 após sequência ruim de resultados no Campeonato Brasileiro. Já o homem forte do clube queria a manutenção do campeão brasileiro de 2012.
No fim das contas, Abel foi demitido após o Fluminense perder para o Grêmio por 2 a 0, em Porto Alegre, e chegar a cinco sem vencer no Brasileirão. Na volta ao Rio, o técnico foi homenageado nas Laranjeiras. Mesmo após o treinador anunciar sua saída, Peter ainda tentou mantê-lo.
Meses depois, houve outro episódio constrangedor. Celso Barros queria e conseguiu contratar Vanderlei Luxemburgo para o lugar de Abel. A Flusócio (grupo político que apoiava Peter Siemsen e tinha voz internamente) era contra por ele ser declaradamente flamenguista. Celso ligou para Peter com Luxa no viva-voz ouvindo a conversa. O então presidente tricolor “esculhambou” a situação e, numa reunião entre os três posteriormente, tentou emplacar que sempre apoiou Luxemburgo.
Na volta de Thiago Neves, em 2012, Celso amarrou todos os valores com o meia, mas precisava que o Fluminense arcasse como uma parte. Peter viu que o clube não teria condições e, como forma de pressão, o homem forte da patrocinadora anunciou publicamente a contratação do jogador e fez com que Siemsen cedesse.
Se no passado tiveram seus problemas, hoje Peter Siemsen e Celso Barros se tratam com respeito.
— Gosto do Peter, mas era um cara com quem eu tinha um relacionamento difícil. Era um amigo, advogado que prestou serviço para a Unimed, mas era uma figura complicada. Mas gosto dele. Não tenho problema nenhum com ele — conta Celso.
— A gente tinha horários diferentes. Ele era uma pessoa noturna, e eu, diurna. Só isso já criava uma dificuldade. Mas eu admiro o Celso imensamente. O que ele fez pelo Fluminense está na história. Nada mancha o que ele fez. Sobre se bicar, é natural que a gente tivesse algumas divergências. Eu lutava muito por um caminho mais profissional para o Fluminense— completa Peter.
Um outro episódio polêmico aconteceu no Brasileirão de 2014. Quando a crise já havia se agravado, um jogador procurou o departamento médico e, sabendo que não tinha previsão para receber seu salário, decidiu não jogar contra o Criciúma. O Fluminense ganhou por 4 a 2, mas o DM não constatou lesão. Depois, os jogadores souberam da história e Fred quase trocou socos com ele. No fim, os demais atletas o isolaram do restante por conta do migué.