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Amigos Tricolores,

 
 
 

O texto de hoje, como prometido, tem por objetivo fundamentar o processo de decisão que me levou a optar pelo nome de Mário Bittencourt para comandar o Fluminense Football Club no triênio 2017-2019.

Antes de mais nada, é fundamental deixar claro que essa é uma escolha de cunho pessoal – e que de forma alguma procura refletir a posição do NETFLU ou de qualquer um de seus colunistas. O portal, por questões de linha editorial, optou por permanecer neutro na disputa política do clube. Não que isso seja um requerimento para a independência jornalística, uma vez que grandes publicações dos Estados Unidos e da Europa cultivam a prática de explicitar suas escolhas nos grandes pleitos eleitorais, mas essa foi a decisão do mais importante veículo de comunicação tricolor e eu a respeito. Os demais colunistas poderão ou não declarar seus votos e terão a mesma liberdade que eu para fazê-lo.

Feitos esses importantes esclarecimentos, construo a minha argumentação. Em forma de crônica – e não de manifesto raivoso ou daqueles posts arrogantes de donos da verdade, que tanto nos entristecem nas redes sociais da vida. Crônica, sim. Por dois motivos: primeiro porque esse é o meu estilo, um estilo que tempera a razão com a emoção, e às vezes a emoção com a razão. Além do mais, tenho muitos amigos que apoiam candidatos das outras duas chapas e tenho por princípio respeitar profundamente as razões de cada um. Na noite do próximo dia 26 de novembro, o Fluminense conhecerá o nome do seu novo presidente e, aconteça o que acontecer, amigos continuarão sendo amigos e o nosso amado clube continuará sendo o maior de todos.

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Existem inúmeras receitas para tentarmos medir coisas complexas como o caráter e a capacidade das pessoas. Centenas de livros foram escritos sobre o assunto e quase todos eles apoiam suas conclusões nos grandes acertos e nas grandes conquistas dos líderes. A cultura do sucesso acima de tudo e a qualquer custo nos levou a um modelo limitado de se medir os gestores. Ele não está de todo errado, mas eu gosto de observar as coisas por um outro ângulo. Mania de cronista, pode ser. Cabeça de escritor, talvez. Não por outra razão eu acredito que é fundamentalmente importante avaliarmos o caráter das pessoas nos momentos de grandes dificuldades ou mesmo nos fracassos, porque é justamente nas horas difíceis e nos tropeços que conseguimos vislubrar quem as pessoas são de verdade. E eu recordo nada menos do que três momentos em que o Fluminense esteve à beira do abismo, além de um retumbante fracasso, no qual o comportamento do Mário foi absolutamente exemplar.

O primeiro deles talvez tenha sido o que era potencialmente mais devastador. No início do segundo turno do Campeonato Brasileiro de 2009, o Fluminense tinha menos de 1% de chance de escapar do rebaixamento. Um rebaixamento àquela altura, com o vergonhoso histórico da década anterior, parecia uma condenação à completa irrelevância. Nessas horas, como de hábito, os palpiteiros e bravateiros do clube desaparecem. Ninguém se dispõe a encarar a bucha. Pois Mário foi lá e, ao lado de Ricardo Tenório, hoje seu candidato a vice, deu a cara para bater. Aguentou toda sorte de pressões, ajustou o planejamento, uniu o elenco e o desfecho todos nós conhecemos: o Flu continuou na primeira divisão e, para fechar o conto de fadas com chave de ouro, foi campeão brasileiro no ano seguinte.

Em 2013, depois da catastrófica gestão de Peter Siemsen na vice-presidência de futebol, cargo que acumulou dizendo que só ele poderia salvar o clube, terminamos o campeonato inapelavelmente rebaixados dentro de campo. No dia seguinte ao do rebaixamento, surgiram notícias de que Flamengo e Portuguesa haviam escalado jogadores irregulares, o que poderia nos salvar. Além disso, muitos jornalistas se apressavam em condenar o Fluminense como aliciador da Lusa e rei do tapetão. Não houve uma viva alma no clube que quisesse se pronunciar oficialmente. Covardemente, tentamos administrar a maior crise de imagem da história do clube através de notas à imprensa. Nenhuma coletiva, ninguém para dar a cara. A derrota nas cortes esportivas era dada como certa. Foi quando Mário, então em sua função de advogado do clube, matou a bola no peito e nos defendeu brilhantemente nos tribunais. Não tivemos um voto sequer contra a nossa causa, em duas instâncias. Mais uma vez, na hora do vamos ver, enquanto muitos se escondiam ou gritavam apenas no Twitter, o cara estava lá, no centro das ações, resolvendo.

Em 2014, outra situação crítica e com potencial para aniquilar o futuro do Fluminense: a Unimed abandonou abruptamente o patrocínio ao clube. Para piorar, Celso Barros começou a forçar a venda de nossos jogadores para cobrir o rombo em sua mal administrada empresa. Até hoje, por conta disso, ele mantém um processo milionário contra o clube. Igualmente célebre e vergonhoso é o episódio em que o então presidente da Unimed tentou vender Conca para o arquirrival Flamengo. Sem nossos grandes craques e sem dinheiro para novas aquisições, todos tinham certeza de que acabaríamos o ano rebaixados. Novamente, instaurado o caos, os dirigentes se esconderam. Coube ao Mário, então vice-presidente de futebol, manter a espinha dorsal do time – com Cavalieri, Gum, Jean, Wagner e Fred – e trazer vários outros jogadores a custo baixo ou até sem custo para remontar o elenco. Não era um elenco para ganhar títulos, mas ele cumpriu sua missão. Sobrevivemos ao caos. Mais uma vez, graças ao Mário, o Fluminense escapou do pior.

Termino esse rosário de situações difíceis com aquele que talvez tenha sido, em retrospectiva, o maior erro de Mário em seus 18 anos de serviços prestados ao Fluminense: a contratação de Ronaldinho Gaúcho. Mesmo sendo um fracasso, esse episódio revelou muito sobre o caráter do dirigente – e me fez admirá-lo ainda mais. “É melhor cair das nuvens do que do segundo andar”, escreveu Machado de Assis. A ambição de grandeza, mesmo quando se fracassa ao final, ainda é melhor do que a morna convicção da mediocridade. O contraste entre um gestor que aposta num grande craque, busca encher estádios, atrair milhares de novos sócios e fazer o seu clube ganhar um campeonato brasileiro e outro gestor que manda Fred embora porque prefere trabalhar com atletas medíocres e que dão menos trabalho diz mais sobre as diferenças entre Mário e Peter/Flusócio do que qualquer outra coisa. Mário fracassou na tentativa de vencer o pentacampeonato nacional em 2015 – mas eu o admirei profundamente por haver tentado.

A atual administração do Fluminense só acredita no modelo tradicional de avaliação de líderes, inteiramente baseado no sucesso. Sucesso a qualquer custo, mesmo que esse custo implique no sacrifício da verdade ou de pessoas que muito fizeram pelo clube. Se há riscos na grandeza, melhor sermos um clube médio, pensam esses gestores. O medo de errar é paralisante. O medo de ousar é pai da mediocridade. Quem acompanhou o noticiário do nosso clube nestes últimos anos sabe que após a saída de tantos treinadores, vices de futebol, diretores de futebol, marqueteiros e até do ídolo Fred já conhece o modus operandi da atual gestão: os louros das poucas vitórias pertencem a eles, enquanto todas as derrotas têm outros culpados. Eles não erram jamais. E eu simplesmente tenho pavor de pessoas que jamais admitem estar erradas e, pior, preferem a pacata irrelevância do que a grande luta e os grandes riscos envolvidos na busca pela grandeza.

Depois de anos dessa passividade medíocre, precisamos de um presidente que trabalhe pelo Fluminense não nas horas vagas ou enquanto tenta escapar de processos administrativos ou judiciais. É inevitável concluir que Abad nos fraudará, seja como torcedores, seja como contribuintes. Ou ele se dedicará ao Fluminense e ganhará salários pagos pelo povo para um funcionário público ausente – ou se dedicará ao seu emprego no governo e nos fraudará como torcedores do Fluminense. Não é possível comer o bolo e guardar o bolo, nada mais óbvio. A simples escolha de seu nome mostra como a Flusócio é carente de quadros e, acima de tudo, de bom senso. Celso Barros, por sua vez, além de mover processos contra o clube, enfrentará um verdadeiro calvário nas cortes de justiça do país por conta dos problemas que causou à sua antiga empresa. E o Fluminense simplesmente não merece percorrer esse calvário junto com seu presidente.

Eu não quero votar em gestores sem cara e sem carisma, que governam através de prepostos, que se escondem atrás de grupos e que sonham com a paz do Fulham, do Benfica, do Villarreal, do Figueirense. Eu sonho com um clube que deseje mais do que tudo na vida ser um gigante, um protagonista, um campeão, com todos os riscos e atribulações que isso exige – ou que então morra tentando.

Mário Bittencourt tem essa ambição, essa coragem, essa capacidade de sonhar com grandeza e essa concepção de um Fluminense maior do que a vida. E é para ele que irá o meu voto.