Campeão brasileiro com o Fluminense em 1984 e tricampeão carioca em 83, 84 e 85, o goleiro Paulo Vitor foi um dos grandes ídolos da torcida tricolor nos anos 80. Em entrevista exclusiva ao portal NETFLU, o ex-goleiro falou um pouco sobre o momento do Time de Guerreiros, analisou os atletas à disposição de Odair Hellmann para a posição, afirmou torcer pelo retorno de Fred e até montou seu time ideal com as equipes de 84, 2010 e 2012, que foram campeãs do Brasileirão. Confira, na íntegra, o papo com o ídolo:
NF: Qual é a sua análise sobre esse momento vivido pela sociedade, sobretudo o futebol?
PV: Sinceramente, isso é uma coisa de Deus. Porque essa pandemia veio para mostrar para o mundo o quanto estamos distantes das pessoas gostamos. Essa paralisação vai afetar o calendário, não tem como mudar isso. Mas primeiro temos que salvar vidas. Tem que ter paciência, tranquilidade, porque não sabemos quando isso vai melhor. Bens materiais se recuperam, mas a vida não.
NF: Pensando no Flu, afeta o dia-a-dia do atleta de alta performance uma parada como essa?
PV: O atleta não está preparado para todos os momentos, ainda mais umas férias forçadas no meio do ano. Vai afetar muito porque não está treinando constantemente, coletivamente. Por mais que se passem cartilhas, não se faz em grupo e isso influi demais. Vai pré-temporada no meio da temporada. Tenho certeza, mas não sei se os dirigentes vão acatar isso. Se começar de imediato, vamos sentir falta de ritmo, condicionamento, tudo.
NF: Qual era a sua avaliação sobre o Flu até a parada do coronavírus?
PV: O Flu vinha fazendo os pontos necessários. Não perdia para times pequenos. E isso fazia a diferença. O problema foi a Sul-Americana. Acho que acabaram menosprezando o adversário por ser menos técnico. Agora, com relação ao Carioca, se terminar antes do fim, acho que Flu pode ser campeão, como aconteceu na Bélgica, já que tem a maior pontuação. Sobre o time, o Nenê faz a diferença e me preocupa saber como ele vai estar depois da parada, devido a idade.
NF: Ganso é uma decepção?
PV: Na última vez que estive com o Ganso, eu comentei com ele que acho que ele joga na posição errado. Ele não tem característica de marcação, apesar de poder ajudar. Ele precisa ter liberdade pra jogar, ir ao ataque e armar as jogadas. Ele precisa ter esse espírito. O condicionamento físico dele comporta apenas a armação.
NF: Possibilidade da vinda de Fred
PV: Em termos de marketing é ótimo, mas pode dar um gás ao Fluminense. Se acontecer, será de grande valia. Os melhores momentos dele foram quando vestiu essa camisa.
NF: Uma chegada do Fred poderia atrapalhar a evolução do Evanílson?
PV: Não atrapalha. Depende da maturidade do jogador. Podem até colocar o Evanílson pela esquerda. Se ele seguir apresentando um bom futebol, pode colocar os dois. Fica uma motivação a mais, caso o atacante venha mesmo. Fred é ídolo pra muita gente e tem que ser respeitado.
NF: Momento de Muriel e sombra de Marcos Felipe
PV: Avaliar um goleiro não é fácil. E ele não joga sozinho. Tem que ter uma boa defesa, meio de campo e ataque. Ele é o último recurso. A salvação dele é só a trave ou a bola pra fora. Agora, alguma coisa está errada. Um goleiro de time de grande não pode pegar tantas bolas como ele estava pegando. Tinha que chegar bolas mais espirradas, não da forma como ele vinha trabalhando. Ou seja, precisa ter uma ajuda na frente. O Marcos Felipe precisa ganhar experiência ainda, assim como o Marcelinho, mas ainda o Muriel é o titular. Precisa dar solidez ao sistema defensivo, porque ninguém trabalha sozinho.
NF: Passagens de Rodolfo e Agenor
PV: São contratações mal feitas. Todo mundo sabia da situação do Rodolfo, por isso acho que não era necessário a contratação dele. O mesmo sobre o Agenor, que estava acima do peso. Não entendo a contratação deles. No final das contas quem terminou como titular foi o Marcos Felipe. Acho que faltou conversar com o preparador de goleiros, fazer uma análise no mercado. Foram contratações ruins. Faltou comunicação, diálogo para trazer quem fosse capaz, o que só aconteceu quando Muriel veio.
NF: Você treinou no Flu nunca época em que não havia CT e foi multicampeão. Muda, na prática, ter um centro de treinamentos?
PV: Chegamos a treinar nas Laranjeiras com um circo no gramado. A gente treinava na Av Brasil, na Aeronáutica, a gente mudou bastante, mas um lugar certo ajuda muito. Não tem como tirar a sede da história, mas ter um CT é fundamental. Acho que vamos precisar de pelo menos duas semanas para que os jogadores possam entrar em campo, depois que essa confusão passar. E o CT conta com estrutura pra isso.
NF: Qual é o melhor time: 1984 x 2010 ou 2012? Escale uma equipe com os jogadores dessas épocas misturadas.
PV: O time de 84 não era melhor, nem pior do que os outros. Acho que se igualava. O de 1984 era muito bom. A Máquina ganhou títulos na década de 70, mas não venceu Brasileiro. Então, não dá pra comparar porque são épocas diferentes. Se tiver que escalar um time, eu colocaria Paulo Vitor, Aldo, Duílio, Ricardo, Branco, Delei, Deco e Romerito e Washington e Assis. Fred e Conca no banco (riso). Não pensaria duas vezes. E naquela época o Carioca era o campeonato mais difícil do Brasil.
NF: Dá pra fazer um prognóstico de como voltará o time tricolor após essa parada?
PV: Vamos ter que aguardar, porque nunca se sabe. Quando estamos de férias, a gente joga bola toda hora, vamos para a pelada. Agora, estamos isolado. É uma incógnita saber como voltarão. Vai ser complicado, não dá pra fazer prognóstico nenhum.
NF: Paulo Vitor ou Cavalieri?
PV: O povo diz que era eu (risos). Cada um teve sua época. Cavalieri ganhou título, eu também. Eu fui o melhor da minha época e ele na dele. Sem polêmicas (risos).