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Os Jogos Olímpicos do Rio seguem a todo vapor. Por maior que seja a angústia dos pessimistas por uma catástrofe, as competições estão dentro do cronograma, as partidas acontecem e as medalhas são distribuídas. Problemas estão existindo, e eu seria incapaz de julgar a gravidade dos mesmos, mas a continuidade no andamento dos jogos não se pode negar. E paralelamente ao espetáculo olímpico, nosso Campeonato Brasileiro de futebol também segue sem grandes interrupções. O da Série B até teve uma paralisação, um adiamento ou outro, mas, no geral, as competições futebolísticas no país seguem seu fluxo. Até aí, nenhuma surpresa. E está mais do que claro que não haveria motivo algum para que algo mudasse na rotina de nossos clubes de futebol neste período. Mais do que qualquer pessimista, mais do que qualquer indivíduo avesso à Rio 2016, os grandes clubes do futebol brasileiro simplesmente passam indiferentes ao maior evento esportivo do planeta.

Nos atuais Jogos Olímpicos, o Brasil compete com a maior delegação de atletas de sua história. São 465 competidores atuando em 39 modalidades, sendo um salto de 206 atletas em relação aos jogos de Londres, realizados em 2012. Porém, a expansão de nossa delegação nacional conta com a seguinte contribuição de nossos grandes clubes em modalidades diversas fora o futebol:

 
 
 

Flamengo 12 atletas, Fluminense oito, Corinthians sete, Botafogo seis, Palmeiras dois e Vasco um.

Atlético-MG, Atlético-PR, Grêmio, Internacional, Palmeiras, Santos, São Paulo e Vasco contribuem com ao menos um atleta na Seleção de Futebol, totalizando 13 jogadores.

Atualizando os números, os nossos grandes clubes colaboraram com 36 atletas de esportes olímpicos nesta edição dos Jogos.

Tendo em vista o faturamento anual dos clubes citados, tal contribuição é pífia. Na última semana, o presidente do Flamengo esteve em um programa televisivo antecipando que o faturamento do clube ultrapassará de 400 milhões de reais este ano, e houve comemoração pela participação de seus expressivos 12 atletas. Para se comparar tal contribuição, o Esporte clube Pinheiros (SP) enviou 60 atletas. Já as forças armadas contribuíram com cerca de 150 competidores, todos captados através de seu Programa de Atletas de Alto Rendimento (PAAR).

A ilustração comparativa dos dados serve para expor que a contramão ao esporte olímpico é uma tendência generalizada entre os grandes. O Fluminense ocupa a considerável segunda posição com apenas oito atletas. Juliana Veloso, Tammy Takagi, Uan Matos, Luiz Outerelo e Ingrid Oliveira compuseram a equipe de salto ornamental, que também foi comandada pela técnica Tricolor Andréia Boehme. Já Luisa Borges, Maria Bruno e Maria Eduardo Miccuci integraram o time de nado sincronizado.

Aliás, se não fosse pelo Tricolor, e sua exponencial plataforma de saltos nas Laranjeiras, talvez, nem seleção teríamos. Mas ainda assim, é pouco.

Nos últimos anos, o Fluminense tentou reativar o basquete masculino. Mas engana-se quem pensa que esse foi um planejamento levado a sério pela maioria no clube. Pelo contrário. Uma pequena gama de apaixonados pelo esporte lutaram para colocar a equipe em quadra. Eu estive lá durante esse período e vi de perto a disposição comovente desses amantes da modalidade para colocar a equipe em atividade, com um apoio pífio da direção e quase nulo dos patrocinadores do clube. Depois as tentativas se voltaram ao vôlei feminino. Mais uma vez, apoio raro e resultados dificultosos. Nunca faltou suor, mas sim atenção, um querer geral para que a coisa desse certo. Esse ano, a equipe de vôlei retorna. Pelo menos já existe um trabalho comunicacional com as meninas. Tivemos uma apresentação mais digna e a inclusão das atletas em algumas ações do clube. Pode parecer pouco, mas é uma imensidão para quem antes passava imperceptível pelo clube.

De maneira geral, a intenção lucrativa dos clubes de futebol aniquila qualquer mínima contribuição social através do esporte. O dirigente é capaz de gastar milhões em Edson Passos ou na Ilha do Governador para revitalizar estádios em ruínas, mas jamais doaria alguns pares de tênis velhos para que jovens corressem na pista olímpica do antigo Engenhão. A instituição clubística perdeu o status de ferramenta social e tornou-se empresa, só que tocada, em grande parte, por dirigentes voltados exclusivamente para o engrandecimento próprio (seja ele o financeiro ou apenas o egocêntrico). E parece que esse desprendimento já ultrapassa as esferas administrativas e chega aos executores da atividade fim.

Nossa saltadora tricolor Ingrid Oliveira, segundo a imprensa em peso, envolveu-se em um episódio um tanto constrangedor durante sua estada na Vila Olímpica. Teria ela levado um rapaz para seu quarto para momentos “íntimos”. Grande parte dos expectadores da notícia saíram em defesa da jovem atleta pela naturalidade do ato. Sim, o ato é mais do que natural. Talvez faltasse naturalidade na total confusão já estabelecida entre Ingrid e sua parceira nos saltos. Talvez o apartamento, oficialmente designado para as duas, não comportasse um terceiro membro para momentos íntimos. Talvez o momento, na noite anterior à final da modalidade, não fosse o mais adequado para tal infortúnio entre uma dupla já um tanto dessincronizada. Talvez o resultado, um sonoro último lugar, tenha apresentado uma conseqüência do efeito em cadeia. De todos esses fatores, a única coisa que realmente deve ter prestado foi o suposto, e imediatamente importante, ato sexual. Representar o Brasil é secundário. Lembrar que na imensidão de oito atletas que o clube que “é a história” mandou ela poderia ser importante, é pensamento supérfluo. Nada ocupa mais as atenções, de quem o faz e quem admira, do que empinar-se para fotos em redes sociais.

A linha de raciocínio traçada entre a concepção dos dirigentes milionários dos grandes clubes brasileiros e Ingrid é simples e gritante: quem se importa com o esporte olímpico? Se você não tem talento para o futebol, seja sedentário. Pensar nas conseqüências que o esporte pode proporcionar de maneira social e salutar não é rentável para as máquinas milionárias e, infelizmente, talvez não seja um objetivo para alguns que competem.

O legado que os Jogos Olímpicos no Rio nos deixam, antes mesmo de acabarem, é o de que o conceito de comprometimento corre cada vez mais o risco de ficar fora da ideologia de quem proporciona o espetáculo no esporte brasileiro, do peão ao patrão.