(Foto: Mailson Santana/FFC)

Em seu blog “Entre as canetas”, o jornalista Ricardo Gonzalez, dos canais SporTV, aposta que o Fluminense será um dos clubes que brigarão pelo título brasileiro. Em seu texto, ele rasga elogios ao futebol bonito da equipe comandada por Fernando Diniz.

Leia, na íntegra:

 
 
 

Por conta da minha profissão, tenho a agradável obrigação de acompanhar os principais jogos de cada rodada ao vivo, e os mais importantes que não vi ao vivo em reprise. Mas se eu fosse “apenas” o apaixonado por futebol que sou, eu colocaria na tela da smart TV o jogo do Fluminense. No notebook acompanharia o Palmeiras, e se fosse tudo no mesmo horário veria o Flamengo no celular, a menor tela – e tenho a impressão de que logo teria de arrumar um tablet para ver simultaneamente o Corinthians. Quero dizer com isso que o futebol jogado pelo time de Fernando Diniz é o mais vistoso, o que dá mais gosto de ver, sejamos ou não tricolores. Como o Flu está em terceiro lugar, a “apenas” cinco pontos do timaço do Palmeiras, não tenho dúvidas de que os cariocas vão brigar pelo título brasileiro – a depender, é óbvio, de que o Verdão permita a redução da diferença de pontos.

O que afirmo ao abrir este post é menos baseado na frieza dos números e mais na percepção de quem já viu muitos grandes times de futebol desde 1974. Não é só beleza. Primeiro, o Fluminense é o time mais difícil de ser marcado quando atua perto dos 100% que pode. Como nunca haverá um time perfeito, o de Diniz concede algum espaço ao oponente durante os jogos. Mas da turma do G-6 do turno, encarou e empatou com o Palmeiras no Allianz; amassou o Corinthians no Maracanã; impôs 5 a 3 no atual campeão nacional, o Galo mineiro; ganhou com autoridade do Athlético-PR em casa; e perdeu um Fla-Flu em que Hugo Souza, goleiro rubro-negro foi a maior figura individual do clássico.

Mesmo quando não chega a 100% contra times menos poderosos, o Fluminense está vencendo. Contra o Bragantino, Paulo Henrique Ganso jogou mal – depois de vários jogos atuando muito bem. Ainda assim, e diante de um time muitíssimo bem treinado por Maurício Barbieri, o time de Diniz nunca duvidou da vitória – até porque tem German Cano em estado de graça. O mesmo havia acontecido no meio de semana diante do Goiás. Ah, mas o Fluminense quase perdeu esse jogo, dirão os anti-Diniz. Primeiro é preciso lembrar que os ilustres Palmeiras e Atlético-MG deixaram cada um dois pontos no mesmo estádio. Quando toma o segundo gol, o Tricolor carioca poderia se acomodar e pensar em recuperar os pontos jogando no Maracanã. Só que o Fluminense acredita em si e acredita que pode ser campeão. Com isso, partiu com o que sabe e com o que não sabe para empatar e virar o jogo. E virou. Com direito a – mostrando como Diniz faz uma gestão de grupo brilhante – ressurreição de William Bigode, que alguns tricolores já tinham até esquecido que existia.

Por fim, acho que o Flu vai brigar pelo título – reparem que não afirmo que vai conquistá-lo, o campeonato é dificílimo – porque Fernando Diniz melhorou muito do que já era bom. Não abriu mão de seus conceitos fundamentais de jogo, mas entendeu que eles não faziam sentido sem resultados. Com isso, achou um timing quase perfeito: joga bonito, com construção, com aproximação, com posse, com mais gente do que o oponente em cada quadrado do campo, atacando sempre por definição. Mas pode, se necessário, recuar, sofrer, os zagueiros têm o direito de dar um bico na bola antes de perdê-la perto da área e tomar o gol.

No dia em que Turco Mohammed caiu no Atlético-MG, o staff de Fernando Diniz foi procurado por dirigentes do Galo. E aqueles nem abriram o diálogo. Diniz não quer nem ouvir falar de deixar o Fluminense – e olhe que o rápido diálogo durou o suficiente para os mineiros oferecerem o triplo do que o técnico recebe no Rio de Janeiro. É o amor pelo Flu que explica isso? Não. O que explica é que Diniz ficou mais flexível, mas não mudou o seu desejo de vencer por seus próprios meios. Ele não tem o menor interesse em pegar o trabalho de outrem e dar sequência. Diniz quer montar o time, desenvolvê-lo, dar-lhe alternativas, extrair o melhor do elenco.

Tudo isso significa que o trabalho de Fernando Diniz no Fluminense irá, no mínimo, até o fim do atual campeonato. Então, sem interrupções, sem intercorrências (o time é um dos que têm menos atletas lesionados), com os rivais também com atenções divididas com Copas (alguns com duas), é quase matemático que o Tricolor vai, sim, poder sonhar com mais um título brasileiro.