No período de 20 minutos porque após isso acredito que nada foi desencadeado além de consequências geradas pela imposição estratégica e tática, além da hierarquia de comando criada pelo Flamengo no período citado.
E o ponto é o despreparo do Flu para tudo que o Flamengo apresentou e propôs em campo.
Para encaixar Ganso e Nenê, que nada produziram juntos ainda, a opção por Nem na ponta direita. E muita desordem; além de despreparo. Creio que estas são as palavras ideais. O Flamengo manipulou ao natural as duas linhas de quatro formadas por Marcão. Com flutuações intensas do seu quarteto ofensivo, ainda se viu livre de qualquer combate aos homens que iniciam sua construção – Gerson, Piris, Rodrigo Caio e Pablo Marí. O Fla fez seu plano!
Primeiro destaco como tentaram construir. Alargando a defesa do Fluminense, atraindo-a para pressionar em seu campo, e utilizando muito o tempo que tiveram os zagueiros e Diego Alves – também – para fazer lançamentos em espaços vazios. Nos primeiros 3 minutos, o Flu não tocou na bola e o Fla pôde construir duas ações deste tipo. Perceba a primeira delas no vídeo abaixo:
Na segunda situação em que trouxe a construção para sua meta, o Fla conseguiu finalizar pela primeira vez. Porque na disputa territorial, Marcão se deu mal imaginando que Ganso e Nenê poderiam sufocar a circulação do rival; e isto foi somente uma gota em um mar repleto de espaços abertos nos *encaixes e passividade tricolor sem a bola. Perceba os eventos em mais um vídeo abaixo:
E a manipulação destes *encaixes é o que fez o jogo do Flamengo ser tão especial em planejamento estratégico. Assim como dominou as perseguições do Grêmio – bem mais coordenadas que as do Flu – Jorge Jesus domou os encaixes de Marcão de forma brutal; em todas as fases e zonas do campo. Note no vídeo:
A primeira finalização do Flamengo gerou a bola parada do primeiro gol. E as bolas paradas precisam ser destacadas!
Estes momentos são especiais em qualquer jogo. É o momento de mais pura estratégia e criatividade de uma comissão técnica. Criar repertório nesta fase é fundamental.
E o Fla teve repertório até demais! Enquanto o Flu não esteve preparado para conter nenhuma das ações do rival neste momento específico, o rubro-negro só aumentava sua hierarquia no jogo, e sua imposição mental ao oponente. Iniciando com o lance do gol, perceba como não existia planejamento para conter a jogada rival, que desencadeou diversos problemas dentro da área, ao ponto de deixar Vitinho e Bruno Henrique – autor do primeiro gol – livres de marcação.
Eu gosto de falar que os eventos no jogo vão se interligando. E o evento anterior sempre condiciona o seguinte. Perceba que o Flamengo criou argumentos desde o primeiro segundo do jogo. E argumentos sólidos! Os repertórios vastos permitiram ainda outro escanteio em um período de 8 minutos.
E o Flu esteve como um cão. Agindo por estímulo-resposta. O primeiro escanteio gerou o gol, como visto. No lance, o Fla saiu curto com 2 homens que não receberam combate. Nesta segunda oportunidade, o Flu igualou em 2×2, mas o repertório do rival fez Gerson flutuar próximo a bola e fazer 3×2. Veja.
As bolas paradas realmente foram um grande argumento decisivo para a imposição do Fla. Que contou muito com o DESPREPARO e a falta de PLANEJAMENTO do Flu para o jogo. Se a bola não terminava na área, o Fla tratava de retirar o Flu de lá para abrir ângulo de finalização; veja:
Se eu fosse escolher um lance que mais me chamou atenção e que comprova o despreparo e surpresa do Flu para os movimentos do Fla, também apontaria uma jogada de bola parada. Desta vez, uma falta lateral que fez o time de Marcão ter Gilberto de lateral esquerdo e Nenê de lateral direito por mais de 30 segundos, por deslocamentos bem desnecessários para conter um cruzamento na área que não existiu.
O Flu parecia não esperar nada. Entrou em campo para tentar competir. Veja o lance citado:
O lance acima é mais do que prova de como o Flu foi manipulado pelo Fla. Não existia organização ou discernimento para buscar algo próximo a isto. Todos os vídeos aqui apresentados atentam para movimentos e comportamentos deficitários que foram preponderantes para a sobreposição do Fla no jogo.
Marcão foi muito mal em todos os aspectos. Com a bola, até colheu alguns frutos trazendo Yony e W. Nem de fora para dentro, forçando a linha defensiva do Flamengo. Mas não houve construção; não houve circulação. E muito pelo que inventou para Ganso e Nenê.
Pois na dinâmica ofensiva, Ganso já não mais recuou para segundo homem como em outros jogos. Não iniciou as construções com Allan, e se viu muito à frente da linha da bola e de costas para o jogo. Restou Daniel tentando dar algum sentido ao que o Flu se propunha. Tentando! A prática… perceba como se desenvolveu:
Novamente, problemas na transição defensiva e um time ainda mais letárgico. A defesa espaçada e ausência de pressão na bola permitiu F. Luís tranquilamente projetar Gabigol que viu Nino obrigado a sair no 1×1 e fazer o pênalti não marcado na sequência da jogada.
O time perdeu sintonia e por mais que houvesse coragem para encarar a pressão do Fla, não existia planejamento, organização e comunicação entre os jogadores. A bola batia e voltava para consagrar Muriel que deixou o Flu com lucro no placar.
Que grande partida! Mais uma dele!
Os 20 minutos foram absolutos para o Fla tomar o jogo para si. Eleva o nível de exigência do futebol brasileiro com organização e intensidade de ações coletivas e individuais. Muita troca de posição, muita velocidade nas tabelas e incursões, e qualidade aliada a argumentos táticos.
Marcão esteve refém de suas limitações de ideias e crenças. E precisou do Flamengo para, talvez – acredito que o treinador os manterá para a sequência -, entender que Nenê e Ganso não podem jogar juntos!
Como gosto de dizer, o clássico do último domingo era jogo com demanda específica. E esta demanda não incluía os dois veteranos juntos.
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