Rotulado de clube elitista, o Fluminense aproveitou o Dia da Consciência Negra, celebrado no último dia 20, para explicar um fato de sua história que é disseminado de maneira equivocada pela opinião pública: A origem do pó de arroz.
Frequentemente associado ao racismo, o pó de arroz surgiu em 1914 e, ao contrário do que é divulgado, não era uma obrigação do clube para que seus jogadores negros utilizassem. Veja o texto na íntegra e conheça a verdade:
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Hoje, 20 de novembro, celebra-se o Dia Nacional da Consciência Negra. A data é tão especial que se tornou feriado em diversas cidades brasileiras. Para aproveitar a ocasião, o Fluminense resolveu esclarecer oficialmente um absurdo rótulo preconceituoso que o clube carregou pela ignorância de como surgiu a história do “pó de arroz”.
No dia 13 de maio de 1914, coincidentemente exatos 26 anos após a assinatura da Leia Áurea pela Princesa Isabel, Carlos Alberto, um atleta negro que veio do América-RJ para o Fluminense, enfrentava o seu ex-clube pela primeira vez. E o jogador estava longe de ser o primeiro negro a vestir as três cores que traduzem tradição…
Diferentemente de outros grandes clubes nacionais que só foram abrir as portas para os negros décadas depois, já em 1910, o jogador Alfredo Guimarães fazia parte do plantel tricolor. Naquele time havia descendentes de ingleses, como Harold Cox, irmão de Oscar Cox, assim como alguns filhos de portugueses, mulatos e cafuzos.
Mas por que surgiu o “pó de arroz”? Tudo partiu de uma provocação da torcida do América a Carlos Alberto, que tinha o conhecido hábito de usar pó de arroz no seu ex-clube. Chateados com a saída do jogador, os americanos o perseguiram e a torcida tricolor transformou a ofensa em um dos maiores símbolos do nosso futebol.
Vale destacar que, segundo vários registros fáceis de serem encontrados em diversos jornais da época, o produto pó de arroz era muito comum de ser usado para fins estéticos ou dermatológicos. Muitos homens da década de 1910, por exemplo, costumavam se empoar após fazer a barba, independentemente de sua origem ou cor de pele.
Para ainda contextualizar aqueles tempos, o jogador Arthur Friedenreich, o grande craque nacional dos tempos do amadorismo, filho de pai alemão e mãe negra, em atitude semelhante à de Carlos Alberto, ficava horas no vestiário antes de cada partida para alisar o seu cabelo. E nenhum clube foi estereotipado de “racista” pelo fato.
Há clubes que tentam criar um mito de pioneirismo em relação à inclusão de negros no futebol. No entanto, antes mesmo de terem o seu departamento de futebol, negros e mulatos já atuavam no Flu, além de Andaraí e Bangu. Por sinal, o Estádio das Laranjeiras, o primeiro do país, era um reconhecido ponto de encontro democrático.
Mais importante, porém, do que discutir quem foi o primeiro a incluir todas as etnias é o que o Fluminense fez em 1933. O clube liderou a implementação do profissionalismo no esporte, até porque era impossível competir em igualdade de condições com o “amadorismo marrom”, trazendo um passaporte para a real inclusão social de classes e raças.