Nesta quarta-feira, o portal número 1 da torcida tricolor dá continuidade às entrevistas com os candidatos à presidência do Fluminense. A bola da vez é o representante da chapa “Verdade Tricolor”, o advogado Pedro Trengrouse. Respeitando a ordem alfabética, o NETFLU começou com Carlos Eduardo Cardoso (Cacá), do grupo 2050. Na terça-feira, Pedro Abad, do grupo Flusócio, foi quem respondeu aos questionamentos. As 13 perguntas da primeira parte das entrevistas foram iguais para todos os candidatos, que tiveram tempo livre para respondê-las.
É importante ressaltar que, na outra semana, o NETFLU publicará a segunda parte dos encontros, onde foram feitas indagações específicas para cada candidato, incluindo perguntas em cima de respostas. Fique ligado!
NETFLU entrevista Pedro Trengrouse:
1 – Quem é Pedro Trengrouse?
– Acima de tudo, Tricolor. Um tricolor que aceitou o desafio de ser candidato a Presidente do Fluminense e que trabalha há quase 20 anos na indústria do esporte, participando de muitas das mais importantes discussões e ações relativas ao esporte brasileiro e mundial. Advogado, professor da Fundação Getúlio Vargas, professor visitante em Harvard, consultor da ONU e de grandes empresas em questões relacionadas ao Esporte e convicto de que é preciso por um fim ao “modelo 7 x 1” que rege o futebol e o esporte olímpico no país. Acredito que o Fluminense pode ser precursor de um novo modelo de negócios para o esporte mundial e que esse modelo passa, impreterivelmente, por um choque de gestão que traga mais eficiência, democracia e transparência, promovendo a maior participação possível dos sócios e torcedores no dia a dia do clube, aproveitando o poder de engajamento da internet e buscando novas fontes de receitas para que o clube não continue refém das atuais, que já dão claros sinais de esgotamento. Defendo que o Fluminense precisa voltar a ser o clube que sempre me encantou como exemplo de fidalguia, pioneirismo, organização esportiva, social e cultural, com equipes que entravam em todos os campeonatos para ser campeãs, com a torcida mais apaixonada do Brasil. O Fluminense tem a missão de ser uma grande referência para o esporte brasileiro e mundial, com a torcida mais engajada do mundo. Fluminense eterno amor! É por isso que eu canto, que eu visto esse manto, orgulho de ser tricolor!
2 – Quando e como começou a sua ligação com o Fluminense de maneira mais ampla, ultrapassando a questão das arquibancadas?
– Minha ligação com o Fluminense está no DNA. Meus avós, meus pais e meus irmãos são tricolores. Já nasci tricolor. Era sócio dependente do meu pai em 1982 e assim que pude comprei meu título de sócio proprietário. Quando criança frequentava o clube e ia com meu pai ao Maracanã. Com 9 anos, minha família se mudou para o interior de Minas Gerais e só voltei ao Rio para a faculdade e desde então sempre estive envolvido com o Fluminense. Além da torcida por ídolos e comemorações de títulos, durante minha trajetória profissional que, se não havia me levado ainda para dentro das Laranjeiras com esse objetivo tão nobre de ser presidente, vinha me permitindo pensar e me preocupar com o Fluminense durante todo o tempo. Logo que assumi a Diretoria de Relações com as Instituições de Ensino Superior e Pesquisa da Federação de Futebol do Rio de Janeiro, tive a oportunidade de trabalhar com o Marcelo Penha Ribeiro, que era o Vice-Presidente dessa área, e juntos viabilizamos mais de 2.500 estagiários qualificados nas mais diversas áreas para os clubes do Rio, com atenção especial ao Fluminense. Quando assumi a Vice-Presidência Jurídica da FERJ dei total transparência a todos os contratos do Campeonato Estadual, convocando os clubes para participar das negociações das placas de publicidade estática, do convênio do Maracanã etc. Em 2006 e 2007, pude auxiliar os clubes nas articulações pela Timemania colaborando para o protagonismo do Fluminense. Logo após os Jogos Pan-Americanos, tive a oportunidade de participar da formalização de um consórcio entre Fluminense, CBF e Flamengo para assumir a gestão do Maracanã. Em 2008, tive a honra de representar todos os clubes brasileiros na Libertadores, Fluminense, Flamengo, Cruzeiro, São Paulo e Santos, e conseguir que a FIFA protegesse a vida dos atletas proibindo jogos acima de 2.750 metros de altitude sem a devida aclimatação, o que infelizmente não foi respeitado pela CONMEBOL que se julgava acima da lei e somente agora com a ação do FBI começa a respeitá-las. Em 2009, participei da articulação que reuniu Fluminense, Flamengo, Corinthians, Vasco, Pinheiros, Minas, Sogipa e Grêmio Náutico União para criar o Conselho Nacional dos Clubes Formadores de Atletas Olímpicos – CONFAO, e reivindicar os recursos que hoje são destinados para os clubes através da Confederação Brasileira de Clubes e hoje começam a chegar no Fluminense, que já tem a perspectiva de receber mais de R$ 6 milhões. Nos últimos anos, como consultor da AmBev, pude colaborar com o Movimento por um Futebol Melhor, que viabilizou resultados expressivos para o Programa de Sócios Torcedores do Fluminense e acompanhar ações concretas como a construção sala de troféus e do Guerreiros Sports Bar. Mais recentemente, quando estava em Harvard como Professor Visitante, trabalhei para que o Fluminense recebesse uma aluna de Direito Desportivo da Escola de Direito de Harvard para um estágio de um mês no clube, todo custeado por Harvard. Foi a primeira vez que um clube brasileiro recebeu um estudante de Harvard, considerada a melhor universidade do mundo. Colaborei com o Fluminense sempre que tive oportunidade e agora quero trabalhar para colocá-lo num caminho que possa garantir um clube forte em todos os aspectos. Quero que os tricolores tenham cada vez mais alegrias. Sei como sofri em anos difíceis, como em 1999, quando acompanhei todo o resgate do nosso orgulho com o Parreira, que hoje é um grande amigo e nos estimula na candidatura.
3 – Quando surgiu a ideia de ser candidato à presidência do Fluminense?
– Todo torcedor sonha em ser presidente de seu clube. Comigo, não é diferente e essa idéia vinha sendo alimentada em conversas sobre o futuro do esporte brasileiro, do futebol, dos atletas olímpicos e dos clubes. Minha formação em gestão, marketing e direito esportivo e a passagem por todos as funções que exerci me permitiram conhecer profundamente os problemas e as oportunidades da indústria do esporte. Em 2013 colaborei ativamente com idéias para a campanha do Delei e desde então vinha contribuindo com o Observatório do Fluminense. Ano passado, o Julio Bueno organizou um jantar com o Delei no Guiseppe Grill para estimular minha candidatura. Nesse dia até encontramos por coincidência com o Celso Barros, que acabou sentando à mesa conosco e foi muito generoso ao dizer que tinha ótimas referências sobre a minha pessoa e, não fosse ele mesmo candidato, poderia considerar apoiar minha candidatura. A partir de então, pessoas ao meu redor começaram a me pedir que encarasse o desafio de ser candidato. E como, além de torcedor, sou profissional do esporte, não há nada mais honroso do que presidir a maior instituição esportiva desse país. Ao contrário dos demais candidatos, minha atuação é no esporte e sei que o Fluminense pode ser protagonista de um novo modelo de gestão e fazer história dentro e fora de campo. E para isso vamos contar com gente e empresas de peso. É necessário resgatar a tradição esportiva do clube, a única entidade esportiva detentora de uma Taça Olímpica no Brasil, muito antes da cidade do Rio de Janeiro sonhar em se tonar a Capital do Esporte. O departamento de futebol está enfraquecido, os Esportes Olímpicos seguem dependentes e o social sucateado. É hora de mudar. Não me candidatei para ser mais do mesmo. Não podemos esperar resultados diferentes de quem faz sempre faz as mesmas coisas. Queremos mudar isso e podemos. Todos os outros candidatos estão há muito tempo no clube e participaram de várias gestões. Quem teve a chance e não fez, perdeu a vez!
4 – Como avalia a gestão no futebol nos últimos seis anos?
– Há 13 anos que o clube gasta mais do que arrecada todo ano. O déficit acumulado ultrapassa R$ 300 milhões. O modelo de negócio atual simplesmente não é sustentável! É inaceitável a disparidade entre o investimento em Xerém e contratações de fora. Só ano passado o clube investiu em Xerém R$ 4,9 milhões e quase R$ 80 milhões em contratações. Precisamos mudar isso! Sou uma pessoa que pensa muito no que temos a fazer, o que significa que não sou de ficar olhando para trás, mas para frente. É preciso romper com a dependência de um patrocínio de camisa e da verba dos diretos de TV para sobreviver. Esse modelo é antigo, desgastado e tem seus dias contados. Não é possível se gastar mais do que se recebe por anos e anos seguidos, nem investir 10 vezes mais em contratações medianas e inexpressivas do que na base. Como abrir mão de ídolos e entregar posições de comando a quem não é profissional de futebol? O Fluminense tem que entrar em qualquer competição para vencer. Não é possível apenas torcer para não cair ou ser obrigado a fazer milagres nas rodadas finais. É o que a história do clube nos cobra. O clube traz o futebol no nome e é fundamental seguir uma trajetória de vitórias e conquistas. Para isso, trataremos o futebol sempre como prioridade máxima. É dever do próximo presidente devolver ao Fluminense a seu protagonismo esportivo. É preciso ter a consciência de que toda e qualquer medida tem por objetivo final dar ao futebol meios para conseguir melhores resultados, não o contrário. Não podemos sobrepor os interesses econômicos do clube às necessidades técnicas. Vamos formar uma estrutura profissional no futebol do clube e teremos os melhores profissionais do mercado. A Universidade do Futebol terá um papel relevante na formação do Plano Estratégico do Futebol do Fluminense. Este Plano Estratégico vai apontar as posições relevantes a serem ocupadas pelos mais diferentes profissionais do mercado. Os profissionais do futebol que estão no Clube também serão avaliados na composição de uma nova gestão. Buscaremos nomes de gestores identificados com o Fluminense O importante é a combinação das novas técnicas de gestão com o domínio da beira do campo. Também entendemos ser necessário estabelecer uma integração maior entre o futebol profissional e as categorias de base e valorizar esses atletas, sempre buscando um retorno técnico antes do retorno financeiro. Aliás, em nossa gestão Xerém será tratado com muito cuidado. Não podemos continuar com um modelo no qual o clube gasta pouco em suas categorias de base e muito em contratações. Principalmente quando os melhores atletas do time são oriundos da base. O Fluminense vai ter uma filosofia para o futebol, o mesmo padrão de jogo em todas as categorias e os tricolores serão capazes de identificar o time ainda que entre em campo sem camisa.
5 – O Fluminense já revelou diversos atletas olímpicos de capacidade reconhecida. Entretanto, de uns anos pra cá, algumas modalidades olímpicas foram tiradas do clube, como o futebol feminino e o basquete. É tão complexo assim manter um clube grande, assim como o Tricolor, na vanguarda dos esportes olímpicos também?
– Não, de jeito algum. É preciso tratar os esportes olímpicos com a importância que eles merecem. Temos que dissocia-lo do futebol. Vamos criar uma Fundação, captar recursos via Leis de Incentivo, buscar contratos e convênios com o Poder Público e executar projetos específicos de interesse do clube, com o Ministério Público participando da aprovação dos Estatutos e suas reformas, fiscalizado a administração e seu funcionamento, aprovando contas, expedindo atestados e fazendo possíveis recomendações. Também estamos propondo um modelo de desenvolvimento esportivo completamente novo, diferente de tudo o que já foi feito no clube, mas que se mostrou bem sucedido em outras entidades. Se o Fluminense estivesse mais bem organizado já teria recebido mais da Confederação Brasileira de Clubes como ocorre em clubes como Pinheiros e Minas Tênis, que sustentam suas atividades através de convênios com entes públicos e patrocínios subsidiados por incentivos fiscais. Cabe ressaltar que temos ainda que lutar para que os clubes sejam incluídos em um Plano Nacional de Política Esportiva. Os clubes desenvolvem os talentos e ficam à margem do processo. Participo dessa luta há tempos. Estive em todas as sessões do Congresso Nacional participando dessas discussões nos últimos 10 anos. Vim ao Fluminense e o levei para a discussão do CONFAO. Briguei muito para que, finalmente, uma parte da verba da Loteria chegasse aos clubes formadores. Já apresentei ao departamento de esporte olímpico a minuta de estatuto para a Fundação e temos o compromisso da volta do time de basquete, com os conselhos do Alberto Bial e o trabalho do Miguel Angelo da Luz, de uma ação da CBC/Taurus em prol do Tiro e vamos fazer muito mais.
6 – Com a construção do CT, teme-se um abandono da sede social do clube que, para muitos sócios, precisa de reformas urgentes. O que pode ser feito para que o espaço seja mantido dentro daquilo que se espera para um clube da magnitude do Fluminense?
– A sede das Laranjeiras tem um imenso valor histórico e emocional. A saída do futebol profissional de lá não pode significar abandono. Muito pelo contrário. É nossa casa e tem que ser muito bem cuidada. É preciso que o sócio que está todos os dias no clube seja ouvido, aponte prioridades, tenha voz. Sem falar que com um modelo de gestão profissional a sede será uma unidade de negócio capaz de sobreviver sem estar à sombra do futebol. De uma forma geral, entendo que estamos muito longe do nosso potencial. Acredito que, infelizmente, e digo isso com muita tristeza, nossa estrutura e serviços estejam muito aquém do que poderíamos ter.As instalações do Fluminense são melhores ou piores que a do Jockey, da Hípica, do Monte Líbano, da Lob, do Caiçaras, do Piraquê, do Paysandu, do Tijuca, do Rio Cricket? Estamos pior localizados em termos geográficos que estes clubes? Eles têm futebol para pagar as contas da sede social? A receita deles vem da oferta de serviços aos seus frequentadores. Por que não fazemos isso nas Laranjeiras? Temos que olhar o clube social como uma unidade isolada, geradora de receita com a oferta de serviços para o sócio. Realizar eventos corporativos nas suas instalações, alugar áreas esportivas para clubes do exterior, ter visão e gestão. Antes de qualquer coisa, temos que mudar o “olhar” sobre o potencial das Laranjeiras. É preciso realizar melhorias nas instalações, para novas opções de lazer e melhor acessibilidade para os deficientes físicos preservando ambientes e criando novos espaços, para gerar recursos para o clube. Precisamos incentivar a realização constante de eventos, de forma a atrair o sócio para o clube, e resgatar o viés social e cultural do clube e fazer de Laranjeiras um ponto de encontro, a casa de todo tricolor.
7 – Pedro Antônio disse que nunca cobrou nenhuma taxa Selic ao Fluminense. Também ressaltou que o clube nunca pagou os juros acordados no contrato. Como essa relação entre o dirigente e o clube pode ser ainda mais otimizada na sua gestão?
– Já me manifestei inúmeras vezes sobre essa questão e reitero. Conto com a participação do Pedro Antônio na nossa gestão e declaro, desde já, o meu apoio a sua candidatura em 2019. Pessoas que atuam em favor do clube, como é o caso do Pedro Antônio, do Celso Barros, e de tantos outros, precisam ser respeitadas e apoiadas. Na verdade, precisamos incentivar novos “Pedros” e “Celsos”, no clube. E por isso que defendo que sejam tratados com o respeito e com o carinho que merecem. Na minha gestão, Pedro Antônio ocupará o cargo que ele quiser. Acredito ser a melhor forma de deixar claro o meu carinho e admiração por tudo que ele fez ao clube.
8 – É possível pensar em estádio próprio ou utilização das Laranjeiras para jogos de pequeno porte no Rio de Janeiro?
– É possível pensar em ambos mas, antes de qualquer discussão sem fundamento, é fundamental um estudo de viabilidade bem consistente para compreender a vocação e o potencial do Estádio das Laranjeiras. Particularmente, gosto da ideia de voltar para nosso berço. Temos que incluir mais gente nesse debate. Os sócios, a comunidade do entorno e as autoridades, inclusive tratando da possibilidade de transformar a Pinheiro Machado num Boulevard pietonal, com um túnel mergulhão ligando o Santa Bárbara ao aterro para resolver problemas crônicos do trânsito da Zona Sul. É essencial termos uma definição clara sobre a viabilidade do Estádio das Laranjeiras para, aí então, debatermos qual será a destinação que será dada para aquele espaço e que possamos começar a discutir de forma clara uma potencial construção de um estádio próprio para 20 ou 25 mil torcedores. O Maracanã deve continuar sendo a casa dos grandes jogos. Além disso, quem não gostaria de ter um estádio nas Laranjeiras, a 10 minutos da estação do metrô, repleto de bares para o pré-jogo, com linhas de ônibus na Praia de Botafogo? O Estado e a Prefeitura permitirão? Utilizaremos áreas do Clube Social para termos um novo Estádio? Como atenderemos o sócio do clube? Teremos que enfrentar questões “duras e apaixonadas” e discutir com os tricolores, sócios do Clube, com o embasamento técnico necessário. O inacreditável é que os clubes do Rio de Janeiro tenham ficado sem estádio após a Copa do Mundo. Rio Grande do Sul, Paraná e Minas Gerais saíram da Copa, cada um, com dois estádios novos, Bahia e São Paulo saíram com 3. Os clubes cariocas não souberam aproveitar essa onda e deixaram escapar enorme oportunidade, talvez por falta de visão global. O Fluminense teve o primeiro estádio no Brasil e jamais poderia ter ficado sem sua casa.
9 – Fala-se muito de Xerém como fundamental para o futuro do clube. Entretanto, entende-se que a última revelação top fora o lateral-esquerdo Marcelo, vendido ainda na década passada. A base do Fluminense é mesmo tão boa quanto o torcedor acredita que seja?
– Antes de mais nada, não concordo que o Marcelo tenha sido a última revelação Top. Talvez tenha sido o jogado que construiu a melhor carreira fora do clube. Mas tivemos, por exemplo, o Wellington Nem em um passado recente, campeão pelo clube, além de jogadores com enorme potencial que sequer tiveram tempo de estourar entre os profissionais. E hoje temos o Gustavo Scarpa jogando muito e sendo o grande destaque desse time atual. Hoje Xerém é uma grife e temos que investir cada vez mais. A base do Fluminense tem que servir ao clube e não apenas ser uma vitrine para a venda dos atletas. Na nossa gestão, trabalharemos com maior cuidado a questão da subida do atleta, das categorias de base para o profissional. O que vemos hoje é que muitas vezes são queimadas etapas porque o time profissional está em apuros por conta de contratações mal feitas. Além disso, muitas vezes os atletas são treinados na base para atuar de uma determinada forma e ao chegar aos profissionais é exigida uma mudança completa em seu estilo de jogo. É preciso que haja uma padronização de estilo de jogo. É algo que muitos times na Europa já se preocupam em fazer. O Barcelona é o exemplo mais claro e vencedor. Mas para que isso funcione, é preciso que o futebol esteja muito bem estruturado, com um fio condutor que passe por todas as categorias. Fora isso, é preciso mudar a relação que o clube tem com esses atletas. A grande maioria desses jovens valores acaba sendo negociada muito cedo e sequer chega a dar um retorno técnico ao clube.
É uma mudança de filosofia. Não queremos Xerém como fonte de renda, apenas. Queremos divisões de base que revelem valores para o clube. Isso é o mais importante. Segundo o balanço do clube, o Fluminense investiu quase 80 milhões na contratação de jogadores e apenas 4,9 milhões em Xerém. Será que está correto, isso? Pelos resultados em campo, a resposta está dada. Xerém precisa de investimento mas, principalmente, precisa de uma gestão mais integrada.
10 – O marketing talvez seja a área mais criticada dentro do Fluminense. Qual é a sua opinião sobre aquilo que foi feito nos últimos seis anos na pasta e o que pretende fazer para mudar ou complementar o trabalho desempenhado?
– O marketing precisa de muito mais investimento. Não estou aqui para discutir o que aconteceu de errado, mas o que desejamos fazer agora. O departamento de Marketing é o responsável pela valorização da marca do clube, criação de novas propriedades e aumento das receitas. É preciso entrar no novo mundo da comunicação digital. Mais uma vez repito, estamos estacionados em um modelo antigo, ultrapassado. O torcedor precisa se inserir num ciclo virtuoso, no qual a aproximação com o clube gere mais receitas e viabilize times mais fortes e títulos. Atualmente, o Fluminense é um dos clubes que menos possui produtos licenciados disponíveis para o torcedor. Acreditamos que poderia e deveria ter muito mais produtos, desenvolvendo muito melhor seus mercados. Nossa gestão está comprometida com isso. Precisamos entender as mudanças na psicologia e hábitos dos torcedores para ajustar nossas estratégias ao século XXI, avaliando oportunidades disponíveis, pensando a longo prazo e equilibrando o orçamento. Hoje, o Fluminense tem poucos produtos sendo explorados, poucos canais de venda capazes de disponibilizar esses itens ao consumidor final e, principalmente, uma falha na fiscalização do retorno financeiro, o que resulta numa receita abaixo do seu potencial. Precisamos de um plano de Marketing sólido, listando possíveis ações, orçamentos para saber custos, fornecedores que possam executá-lo, cronograma para adequar as ações à sazonalidade do negócio e, principalmente, objetivos concretos para estas ações. Tanto para o marketing institucional como para o comercial. Precisamos trabalhar com segmentações por faixas etárias. É primordial que o clube inicie um trabalho específico com crianças na fase em que escolhem seu clube. Queremos que o primeiro contato desses jovens torcedores com o esporte seja feito através do Fluminense, antes de qualquer outro clube do Brasil. É preciso atingir escolas públicas e privadas para formar uma nova geração de torcedores. Ao mesmo tempo, o torcedor tricolor, fiel, tem uma demanda evidente de eventos, de estar mais próximo do clube e de seus ídolos. Queremos iniciativas frequentes e específicas com essa finalidade.
11 – Qual é a sua opinião sobre contratos assinados, de atletas, funcionários ou acordos em geral (TV, patrocínio e etc), que extrapolem a gestão vigente?
– É uma questão delicada. Não conheço detalhes dos contratos e não posso emitir opinião mas acho complicado tomar decisões que vinculem as 3 próximas gestões sem que haja muita transparência. O Estatuto do Fluminense prevê que o Conselho Fiscal deve dar pareceres sobre todos os contratos que ultrapassem a gestão. Pedi formalmente ao Presidente do Conselho Fiscal que apresentasse os pareceres, o que até hoje não foi feito. O próximo presidente assumirá o clube com inúmeras obrigações financeiras: cumprir as parcelas do PROFUT, sob pena de perder seus benefícios, o que acarretaria endividamento ainda maior; pagar os empréstimos feitos pelo Pedro Antônio para Centro de Treinamento; terminar as obras de Xerém e realizar as intervenções que são urgentes no clube. É um desafio enorme e que corrobora a razão pela qual desejo ser presidente do Fluminense. Por fim, reforço a questão. Será que o Conselho Fiscal do clube cumpriu as determinações do Art. 36, XI do Estatuto do clube, apresentando pareceres sobre qualquer operação financeira, assinatura de contrato ou antecipação de receita cujos vencimentos ultrapassem a legislatura vigente? Os contratos são válidos sem esses pareceres? É preciso que os sócios e torcedores estejam atentos.
12 – Os grandes críticos da atual gestão têm o futebol como o calcanhar de Aquiles do Peter Siemsen. Você acha que os resultados condizem com o planejamento? O que foi feito de certo e errado desde a ruptura com a Unimed nesse sentido?
– É inequívoco que os resultados ficaram aquém do desejado. O Fluminense é um clube enorme e colocação de meio de tabela não pode ser considerada boa, sob nenhuma hipótese. Entretanto, não acho que cabe a mim, julgar as decisões tomadas pela atual gestão. Para começar, valorizaremos os grandes ídolos do clube. Fico triste quando percebo que todos o últimos grandes atletas que passaram pelas Laranjeiras, ídolos, campeões, deixaram o clube de uma forma desagradável. Quero resgatar a relação do Fluminense com grandes atletas como Fred, Conca, Deco, entre outros. O Fluminense é um dos poucos clubes da Serie A que está sem patrocínio, senão o único. Isso não é somente por causa das dificuldades do mercado. As relações conflituosas com a Unimed e Vitton 44 podem ter afastado outras empresas. Precisamos, inclusive, fazer um resgate histórico desta relação. Um gestor que resolve patrocinar seu time do coração quando ele está na serie C e durante 15 anos coloca valores muito superiores aos do mercado merece todas as nossas homenagens e deve ser tratado como exemplo para que outros façam o mesmo. Até porque se existiram problemas foram muito mais da gestão do clube que do patrocinador. Patrocinar um clube tem que ser muito mais do que apenas comprar centimetragem da camisa, placa nos Estádios ou ganhar ingressos. Devemos entender como o Fluminense pode ser inserido na estratégia de formação do “brand equity” dos patrocinadores e estar na cadeia de valor das marcas. Portanto, devemos fazer uma rodada nacional e internacional com os grandes patrocinadores do esporte e entender a estratégia de marketing dessas empresas e construir algo em função dessas estratégias. Outra vez: é preciso pensar fora do “quadrado”. O caminho deve ser inverso neste momento de retração, com humildade. O que o patrocinador quer e como eu posso ajudar? É preciso criar modelos de patrocínio que possam se encaixar no plano de negócio das empresas. Não há mais espaço para exigências e imposição de estratégias unilaterais. Devemos trabalhar com foco no “ganha-ganha” e adequados às demandas do mercado. Até mesmo para que o sucesso de um investimento seja um fator de atração para outros. Enfim, acredito que isso já evidencie os principais pontos que entendemos que precisam ser modificados e que serão feitos em nossa gestão. A avaliação dos erros e dos acertos, deixamos aos sócios e torcedores, que tem a opção de votar nos candidatos que já estão no clube há muitos anos, participando de todas as últimas gestões ou apostar na nossa candidatura, que traz ideias novas e uma proposta completamente diferente.
13 – Quais mecanismos podem ser usados para evitar uma espanholização do futebol? No próximo ano, Corinthians e Fla, por exemplo, receberão três vezes mais do que o Flu. Como pretende gerar mais receitas para o clube?
– Em primeiro lugar investir na base e desenvolver um novo modelo de negócios que aproveite todo potencial de engajamento da torcida, principalmente pela internet. O Fluminense precisa Saber se inserir neste novo mercado, sendo capaz de gerar receitas em campos não explorados pelos clubes brasileiros. Desde a venda de produtos licenciados na internet, passando pelas redes sociais, que, trabalhadas adequadamente, podem tornar-se importante fonte de renda. Tivemos reuniões recentes no Twitter, Youtube e Facebook, e vamos desenvolver projetos capazes de gerar novas receitas. Por falar em tecnologia, atualmente as maiores receitas de transmissão obtidas por grandes ligas, como a NBA e a NFL não estão relacionadas às transmissões televisivas, mas à produção de conteúdo próprio, um mercado pouco explorado no Brasil. Todas essas questões convergem para um ponto comum. Apostar na capacidade de aproximação com o nosso torcedor. É essencial que tenhamos o torcedor tricolor junto, consumindo o Fluminense 24 horas por dia. Quero que o Fluminense tenha a torcida mais engajada do mundo! Quando você vai a uma loja de um clube da NBA ou da NFL, por exemplo, existe uma infinidade de produtos à disposição do torcedor. Camisas de todo o tipo, casacos, bonés, canecas, flanelas, bandeiras. O que você puder imaginar existe. Aqui, é difícil encontrar uma camisa P, GG ou um modelo feminino. Uma partida é um grande evento familiar. As pessoas chegam horas antes e participam de jogos e brincadeiras. O torcedor consome mais e procura estar mais próximo ao time. Dizem que é uma questão cultural. Mas será que alguém já tentou trabalhar de forma diferente? Pois queremos tentar e trabalhar parar termos públicos dignos do tamanho do Fluminense em todos os jogos. É curioso pensar que o Bayern de Munich foi capaz de compensar a perda de receitas de cotas televisivas com investimento em relacionamento direto com o seu torcedor e que a Disney, maior empresa de entretenimento do mundo, fatura muito mais com a sua divisão de produtos licenciados do que com sua divisão de parques e filmes. Isso mostra caminhos. Além disso, é preciso fazer o mesmo que estes clubes: internacionalizar a marca em mercados que são apaixonados por futebol, mas que ainda não foram conquistados pelos clubes Europeus. Formar torcida nestes mercados, buscar novos torcedores e potenciais clientes da marca Fluminense. O mundo hoje não é globalizado e está a clique de um aplicativo? Por que eu não posso “exportar a marca Fluminense também”? No mercado doméstico o potencial de crescimento da torcida encontra muitos concorrentes, portanto, devemos ser mais ágeis que os nossos “adversários” e ter como meta ao menos dobrar o número de torcedores num espaço de cinco anos. Já imaginou termos 3 milhões de torcedores fora do Brasil? Com receita em dólar? Ao mesmo tempo, é essencial que trabalhemos os bastidores em busca de modelos de distribuição de renda mais justos, que priorizem a competitividade e o equilíbrio. Precisamos fazer com que o Fluminense se torne mais respeitado e isso somente ocorrerá quando adotarmos uma postura mais séria internamente. Não há mistério, é preciso ousar. Buscar novas fontes de receitas, trabalha-las e maximizá-las. Temos o caminho, é preciso colocar em prática.