O NETFLU entrevistou na última sexta-feira, na sede do Fluminense, em Laranjeiras, Fernando Veiga. O vice-presidente de futebol do clube foi indagado sobre variados temas como a qualidade do elenco, desempenho defensivo do time, elenco, reforços, Sul-Americana e muito mais. A íntegra você confere abaixo. Ainda hoje publicaremos o podcast da entrevista para você ouvir na hora que quiser e, se desejar, baixar o arquivo.

 

 
 
 

NETFLU: Dez vitórias, três empates e uma derrota. Esperava um desempenho tão bom no começo da temporada?

Fernando Veiga: Para ser sincero, a gente tinha um pouco de receio no início do ano, pelo fato de termos vindo de um 2016 muito difícil, especialmente no segundo semestre e com poucos recursos para fazer grandes contratações. Nossa filosofia é formar um time mais jovem, dinâmico, vibrante. Mas sempre se carrega um pouco de receio por apostarmos num time bem novo. Dentre os grandes, o Fluminense é o de menor faixa etária. Isso causa uma incerteza, apesar de sabermos da qualidade desses jovens e dos jogadores que aproveitaríamos do ano que passou. Mas esse receio acabou logo na pré-temporada. Acompanhei de perto os jogos-treino e o time foi muito bem, encaixou muito rápido no que o Abel desejava. Os dois equatorianos encaixaram bem e o time evoluía cada vez mais. Lembro das pessoas desconfiadas, reclamando que a gente não contratava ninguém, que o time estava muito novo. E eu sempre falava para esperarem um pouco, pois a pré-temporada tinha sido muito boa. Estamos vendo o que fizemos e, realmente, o time vem muito bem. É só o início, tem muita coisa por vir, mas dá tranquilidade para a gente trabalhar.

NF: Qual jogador mais lhe impressionou nesse início de ano?

FV: Olha, me impressionou muito a adaptação rápida dos equatorianos. É sempre difícil sair de um país, outra cultura, outro tipo de futebol, hábitos. O Sornoza é um cara casado, com filho, veio sozinho…A adaptação deles foi impressionante. O próprio Sornoza o Abel não conhecia muito bem. No planejamento inicial nem figuraria no time titular e acabou, nos primeiros treinos, se destacando e entrou rapidamente na equipe e é isso aí que a torcida está vendo. A torcida está adorando, criou-se uma empatia muito grande e tem tudo para virar um grande ídolo. E o Orejuela nem se fala. Um volante como poucos no Brasil. Um passe muito bom, uma saída de bola e uma marcação muito boa. O time evoluiu muito e esses dois agregaram bastante à equipe.

NF: Apesar do ótimo desempenho ofensivo, o Fluminense tomou cinco gols em três jogos contra o Criciúma, tomou dois gols do Globo-RN e um do Sinop-MT. O desempenho defensivo tem preocupado?

FV: Não me preocupa não, porque o Fluminense é um time muito ofensivo, joga um futebol para frente. Quando o Scarpa se machucou, Abel não colocou um jogador de características defensivas, de meio-campo para recompor. Preferiu o Richarlison, altamente ofensivo, que joga pelos lados, como centroavante. O time, muitas vezes, atuou num 4-3-3, sempre para cima. Com um esquema desse tipo, lógico que tem o problema de ficar um pouco exposto. Na medida que se toma menos gols do que faz, para mim, não tem problema. Tomamos dois gols em mais de um jogo, contra o Flamengo e Criciúma agora (PS: Contra o Globo também). Foram partidas bem difíceis, Flamengo um clássico, final de campeonato e contra o Criciúma, um jogo atípico, a meu ver. Não jogamos bem, tivemos dificuldades no meio e sofremos dois gols. O importante é que a gente ganhou. Não tenho receio de a gente tomar dois, três gols, contanto que a gente faça quatro ou cinco. O importante é ganharmos.

NF: O elenco atual do Fluminense coloca o clube como um dos favoritos ao título da Copa Sul-Americana?

FV: Um dos favorito não sei. Não conheço ainda os outros clubes do resto da América do Sul que estão nesse campeonato. Outro dia vi um jogo do Peñarol (URU), tomou de seis. É uma competição muito difícil. Você vê o Atlético Nacional (COL) na Libertadores com um time praticamente novo. Temos de ver como esses times estão vindo e como essa garotada que está no Fluminense irá reagir num campeonato internacional. Jogaremos em campos apertados, com a torcida em cima e uma arbitragem que eles não estão muito acostumados, que deixa o jogo rolar. Será uma experiência grande e vamos balizar se os garotos estão preparados ou não para esse tipo de jogo. Tenho certeza que vamos nos sair bem. Quanto a título ou não, isso não temos como prever, mas uma campanha boa eu tenho certeza que faremos.

NF: O presidente Pedro Abad falou recentemente que a Sul-Americana é prioridade “zero um”. Internamente, está sendo tratada desta forma?

FV: Sim, é um campeonato que não temos. Chegamos perto em 2009. É um campeonato internacional, chama muita atenção para a marca Fluminense. Uma exposição benéfica ao clube e vamos firme para esse torneio. Realmente, é uma prioridade. Em abril começa a nossa saga rumo a esse título tão cobiçado pela torcida e pela diretoria.

NF: Nas redes sociais, os torcedores demonstram muita animação com o time titular, mas preocupação com o elenco. Qual é o sentimento da diretoria em relação ao plantel? Tem previsão de reforços?

FV: Estou muito tranquilo em relação ao elenco. Eu o acho muito bom, muito qualificado. Conseguimos pegar uma base positiva do ano passado com Cavalieri e Henrique, jogadores experientes. Essa mescla com os jogadores jovens, mais o Abel, um treinador de ponta e que sabe como ninguém fazer essa união, em fechar o grupo para as competições está dando a liga para o Fluminense ter esse rendimento positivo. Lógico que a torcida sempre desconfia um pouco porque ela vem de bastante tempo, vamos dizer assim, “mal acostumada”, pois tínhamos patrocinador forte que contratava grandes jogadores, de renome no início do ano. E esse ano a coisa foi diferente. Hoje temos uma outra filosofia de trabalho, de aproveitarmos a base, junto com jogadores mais novos, que não vieram do Fluminense, mas que têm muita qualidade, e alguns mais experientes que dão um suporte quando as coisas ficam difíceis no transcorrer dos jogos e da temporada. Quanto a reforços, parece clichê, mas estamos sempre atentos. Quando tivermos uma oportunidade boa, vamos pegar. Mas não é novidade nenhuma a dificuldade que temos com relação a problemas financeiros e hoje não temos condições de fazer grandes investimentos. Mas temos nossa criatividade. Nosso departamento de captação está sempre observando jogadores razoáveis do ponto de vista financeiro que possam contribuir para uma melhora do Fluminense. Não adianta contratarmos por contratar. Não temos mais condições de fazer isso. Hoje não podemos errar. Temos uma filosofia, trabalhamos com um orçamento definido que não podemos ultrapassar e não podemos fazer loucuras. Nossas contratações serão criteriosas e não é qualquer jogador que virá para o Fluminense. Aquela coisa de jogador para compor, para somar…Jogador para compor a gente tem em Xerém, que tem potencial. Jogador para vir aqui tem de resolver.

NF: Tem algum jogador próximo de ser contratado?

FV: Temos alguns negócios. Temos conversado com clubes, empresários. Os jogadores que desejamos os clubes só querem dinheiro, não aceitam empréstimo, troca, nenhum outro tipo de transação. Estamos em fase de negociação, tentando seduzir o jogador e o clube para um projeto que seja benéfico para todos. Não tem nada muito avançado, mas com algumas coisas em mente que estamos atacando.

NF: O Fluminense conta com o Gum para o segundo semestre?

FV: O jogador tem contrato com o clube. E todo jogador que tem contrato, é funcionário do clube, o treinador conta com ele. Se o Abel vai usá-lo ou não…é opção dele. Infelizmente sofreu uma lesão, está se recuperando. É um jogador que eu tenho o maior respeito, duas vezes campeão brasileiro, campeão carioca. Em breve deve estar recuperado, fica à disposição do treinador e o Abel conta com ele.

NF: Que análise faz do desempenho do Marquinho, um dos jogadores mais experientes do elenco, mas que vem sendo criticado pela torcida por suas atuações?

FV: O Marquinho tem um perfil de liderança bastante positivo. E nesse elenco novo ele faz esse trabalho de agregar esses garotos. Conversa muito com os mais jovens, dá conselhos. Está sempre no vestiário colocando o time para cima. O Abel gosta dele, não só pela qualidade que tem como jogador, mas por esse comportamento de líder. Um cara que está sempre de bem, mesmo não jogando, ou atuando cinco ou dez minutos. Sempre puxa um discurso positivo e isso aí é uma coisa muito legal. É um jogador já rodado e, mesmo na reserva, tem uma postura muito positiva perante o grupo. É importante ara o treinador ter um jogador assim com espírito de liderança mesmo sem ser titular.

NF: Henrique Dourado é uma grata surpresa para 2017. Por isso, o clube não pensa mais na contratação de outro centroavante, tendo o Ceifador e o Pedro no grupo?

– A princípio não. O Henrique Dourado veio para o Fluminense sem ter tido férias. Emendou uma temporada na outra e foi um pouco prejudicado por causa disso, ainda mais porque veio para substituir um dos maiores ídolos do clube, que foi o Fred. Isso atrapalhou muito o Dourado no início. A temporada começou, o Abel deu muita força, moral para ele. Está com muita confiança e está rendendo. Hoje é um dos maiores artilheiros do Brasil, faz gol em quase todos os jogos, com a confiança lá em cima. E quando não tem ele, tem o Pedro, uma revelação, um jogador com potencial enorme. E ainda tem o Richarlison, que pode fazer essa função, apesar de eu particularmente gostar mais dele no lado do campo. Estamos bem servidos nessa posição.

NF: Ainda sobre centroavante, o Michael ainda está nos planos do Fluminense?

FV:  A princípio não estamos enxergando o Michael como um reforço. Nossa preocupação é com o homem Michael. Ele teve um problema muito sério, que vai requerer uma recuperação demorada, uma fisioterapia longa. Nossa preocupação é que possa se recuperar completamente, como ser humano, para depois pensar no que ele vai ser, no que pode fazer como jogador de futebol.

NF: Como é o funcionamento do departamento de futebol? De que maneira se dá o seu trabalho como vice-presidente da pasta?

FV: Quando o Pedro Abad ganhou a eleição, a ideia dele era fazer um futebol totalmente diferente. Tirar os poderes do gerente executivo de futebol, a fim de mitigar riscos e erros. Futebol é uma coisa muito pesada e séria para ficar tudo na mão de uma pessoa só. A ideia era fazer um comitê no futebol, composto por ele, Marcelo Teixeira, que é o gerente da base, mas que também ajuda no futebol, o (Alexandre) Torres, como gerente executivo, ligado ao futebol propriamente dito, e eu como vice-presidente de futebol. A vice-presidência de futebol é um cargo estatutário, político dentro do clube, não remunerado e que tem de existir. Fui diretor de Xerém por muitos anos e com essa filosofia que tínhamos de aproveitar a base, ter um time mais novo, rápido e dinâmico, a minha importância, junto com a do Marcelo, que também veio de Xerém, ficou maximizada porque conhecemos muito do que é feito em Xerém e tínhamos como melhorar essa transição da base para o profissional. Estamos fazendo isso hoje, tendo cuidado para colocar o jogador certo na hora certa. O Abel, logicamente, não faz parte diretamente do comitê, mas ele é mais do que um técnico. Até pela própria história no Fluminense, pelo carinho que tem, por ser tricolor, acaba participando dessas decisões, por gostar de trabalhar com os jogadores mais novos. Ele agrega muito. Qualquer decisão do departamento de futebol passa pelas minhas mãos, pelas do Pedro Abad, Marcelo Teixeira e Alexandre Torres. Há uma funcionalidade muito legal. As coisas são bem discutidas, maturadas e não tomamos atitudes de cabeça quente, pois sempre tem mais um que pondera e arrumamos a solução para um determinado tipo de problema. Como representante do clube, tenho de fiscalizar o que está sendo feito dentro do futebol.

NF: Falando da base, o Fluminense continua contratando jogadores que se destacaram na Copa do São Paulo. Como é feita essa captação?

FV: Eu considero o departamento de captação do clube o coração da base tricolor. É um dos trabalhos mais importantes. Você consegue captar atletas 10, 11, 12 anos. Atletas que serão formados, lapidados, aprendem a jogar, os conceitos de tática, técnica e o garoto, com isso, acaba se apegando ao clube. Ele vira um tricolor. Isso tem muito significado lá na frente. Essa empatia que o garoto acaba criando pelo clube e a família também é um fator importante para algumas tomadas de decisão no futuro. A gente sabe que até os 16 anos ficamos praticamente com o jogador livre, pois ele não tem contrato. Nessa fase podemos perder qualquer um, apesar de existe um pacto de ética entre os clubes. Mas às vezes acontecem fatos desagradáveis. Quando alguns clubes vem forte, oferecendo dinheiro para garotos de 13, 14 anos, se esse menino está com você desde pequenininho, sempre dando atenção a ele, para a família, o garoto cresceu todo esse trabalho, isso não tem preço. Não querem nem ouvir (a proposta). É completamente diferente de você pegar um garoto de 17, 18 anos, já pronto, com outros vícios, com passagens por outros clubes. Ainda fazemos captações pontuais, mas é diferente. Daqui a cinco, seis anos teremos uma geração praticamente toda formada dentro do clube. A ideia é ter cada vez mais esse número crescente de atletas formados no clube no profissional.

NF: O vice de projetos especiais, Pedro Antonio, disse numa reunião do Conselho Deliberativo, que o Fluminense treinaria nas Laranjeiras às vésperas do jogo contra o Botafogo. Mas o gramado, hoje, não reúne condições. Existe o planejamento de realmente voltar a treinar na sede do clube?

– É um pensamento nosso, quem sabe, na véspera de algum jogo importante, treinarmos aqui, até porque estamos um pouco afastado do torcedor. O centro de treinamento é fechado, logicamente. O torcedor tricolor se acostumou a vir aqui em Laranjeiras. Mas como você viu, o campo foi queimado, terá sua grama totalmente substituída e ainda vai demorar um pouco. Teremos de ver a questão da logística, pois o vestiário foi desmobilizado. Não é tão simples receber toda uma estrutura de um futebol profissional. A gente se mudou totalmente para a Barra. Para voltarmos, teremos de fazer ajustes. Mas é uma ideia de treinarmos aqui para estar junto com o torcedor.

NF: No início do ano, o Fluminense teve dificuldades para contratar também por conta de uma “herança maldita”: o pagamento de comissões de empresários. Alguns deles dizem ter mágoa do clube por não terem recebido o prometido, como na situação envolvendo o Richarlison. Isso atrapalha no convívio com os jogadores e seus estafes?

– Em relação a Fluminense e atleta não atrapalha em nada. O valor é devido ao empresário. Em relação ao empresário, quando você tem um dinheiro para receber e está atrasado, claro que ninguém gosta. Temos empresários que são bem parceiros do clube, sabem do momento difícil e entendem. O presidente já se reuniu com a maioria deles, já fez algum planejamento com relação a esses pagamentos e vamos tocando. Não temos nenhum tipo de problema em relação a isso e as coisas estão sendo bem alinhavadas entre o presidente e esses agentes.

NF: Como o departamento de futebol do Fluminense encarou a situação do Scarpa? Para muitos, a ressonância deveria ter sido feito antes. O protocolo será mantido após a polêmica?

FV: Lógico que ficamos triste com a notícia de que ele ficará fora. Contávamos com um jogador num prazo menor. Em relação à parte médica, não posso falar nada. Não sou médico, não entendo nada de medicina. Conheço o doutor Douglas Santos, o doutor Simoni, nosso diretor, são duas figuras muito conceituadas dentro do futebol. E confio plenamente do trabalho deles. Não tenho nada a reclamar dos médicos, só elogiar.