Nesta segunda-feira, inicia a primeira parte das entrevistas feitas com os três pré-candidatos à presidência do Fluminense. Respeitando a ordem alfabética, o NETFLU começa com Carlos Eduardo Cardoso (Cacá), do grupo 2050. Terça-feira, Pedro Abad, do grupo Flusócio, responderá as mesmas 13 perguntas. Na quarta-feira, Pedro Trengrouse, da chapa “Verdade Tricolor”, seguirá caminho similar. Todos os candidatos não tiveram limite de tempo para responderem a cada questão.
É importante ressaltar que, na outra semana, o NETFLU publicará a segunda parte das entrevistas, onde foram feitas perguntas específicas para cada candidato, incluindo perguntas em cima de respostas. Fique ligado!
NETFLU entrevista Carlos Eduardo Cardoso (Cacá):
1 – Quem é Carlos Eduardo Cardoso (Cacá)?
– Também conhecido pela grande maioria de seus amigos e tricolores como Cacá Cardoso, tem 51 anos, carioca, advogado, é pai de duas filhas também tricolores e vem se dedicando ao Fluminense há mais de 30 anos. Na política, no departamento de interesses legais, começou como subdiretor, depois diretor até ser vice-presidente na gestão do Peter Siemsen. Fui atleta de natação lá atrás, ainda garoto, e membro do Conselho Deliberativo de 1990 a 2002 e de 2010 até o presente momento.
2 – Quando e como começou a sua ligação com o Fluminense de maneira mais ampla, ultrapassando a questão das arquibancadas?
– Arquibancada eu participei desde sempre. Costumo dizer que na barriga da minha mãe eu já frequentava o Maracanã. Sou filho de pais tricolores, apaixonados pelo Fluminense. Eu já escutava os cânticos da torcida, passei a frequentar desde cedo na companhia de meus pais, depois com amigos. Fiz parte até de torcida organizada, na época do tricampeonato, carreguei bandeira, enchi saco de pó-de-arroz. Tudo isso que um jovem tricolor apaixonado gostaria de fazer, eu tive a felicidade de fazer e contribuir com aquelas festas lindas da torcida tricolor, em diversos estádios.
3 – Quando surgiu a ideia de ser candidato à presidência do Fluminense?
– A ideia surgiu através de um convite, no final do ano passado, de um grupo de empresários e executivos tricolores, com história no clube, para levar adiante um projeto de modernização, de mudança de uma governança, para preparar o Flu para o futuro e transformá-lo num clube vencedor, campeão, como ele sempre foi. Mas, agora, embasado em ferramentas que permitam desenvolver grandes projetos a partir de sua própria estrutura de gestão, não dependendo mais de uma pessoa ou outra, de um salvador da pátria ou um mecenas, mas sim da sua própria estrutura organizacional. Daí, me interessei, quis entender o que estavam propondo para o clube e o porquê de estarem me convidando. Me interessei pelo projeto deles, antes de mais nada, e me coloquei à disposição para colaborar, já que entendiam que eu tinha esse perfil. Me julgo preparado com a minha experiência, conhecimento que desenvolvi nos últimos 30 anos no esporte em geral, para implementar esse projeto no Fluminense. Num primeiro momento afiançaram que estarão comigo para implementar esse projeto para o Fluminense. Essa equipe, com pessoas preparadas com sucesso em suas atividades, é que auxiliará a levar para o clube um salto de estrutura, permitindo que desenvolva grandes projetos de times de futebol e esportes olímpicos, sempre pautados por uma governança efetiva, eficiente e que permita ampliar a base de torcedores, que é o que mais significa pra gente hoje.
4 – Como avalia a gestão no futebol nos últimos seis anos?
– Eu posso dividir em duas partes: antes e depois da Unimed. Quando ele (Peter Siemsen) assumiu, havia a divisão de comando com a Unimed, num modelo onde a empresa trazia grandes jogadores, de altíssimo nível, com valores praticados acima do mercado. A partir do momento em que a Unimed, pelos motivos já conhecido de todos, se retira do Fluminense, o futebol do clube passa por uma reformulação. Ainda estamos engatinhando nisso, mas passamos a se acostumar com essa realidade. Não é uma mudança tão fácil assim. O Fluminense estava há 15 anos num modelo e agora tem que saber caminhar com as próprias pernas. Eu entendo que, nos últimos anos sem Unimed, estamos iniciando uma fase de reconhecimento, adaptação, ao que o clube necessita efetivamente. Ainda não é um time dos sonhos, mas tenho fé que a partir do ano que vem já venha a ter os ajustes necessários para trazer de volta a grande torcida tricolor aos estádios.
5 – O Fluminense já revelou diversos atletas olímpicos de capacidade reconhecida. Entretanto, de uns anos pra cá, algumas modalidades olímpicas foram tiradas do clube, como o futebol feminino e o basquete. É tão complexo assim manter um clube grande, assim como o Tricolor, na vanguarda dos esportes olímpicos também?
– Você tem diversos exemplos presentes de clubes de futebol que apoiam e investem em esportes olímpicos: a dificuldade é geral, não é uma questão específica do Fluminense. O Fluminense tem muita tradição, é o clube detentor da primeira medalha olímpica para o Brasil, a história do Fluminense está vinculada aos esportes olímpicos, é motivo de orgulho para todo torcedor tricolor. O fato é que, na atualidade, as dificuldades são evidentes. A crise econômica também acaba influenciando, de sobremaneira, a situação dos clubes. Entendo também que, com a obtenção das CNDs (Certidões Negativas de Débitos), com a questão dos incentivos fiscais sendo possíveis, por conta do trabalho do clube, vejo horizontes favoráveis. A gente tem que trabalhar nesse sentido, em tornar as modalidades olímpicas vencedoras, pautando num cenário de sustentabilidade dessas modalidades. O que vem por aí é muito, muito favorável para o clube.
6 – Com a construção do CT, teme-se um abandono da sede social do clube que, para muitos sócios, precisa de reformas urgentes. O que pode ser feito para que o espaço seja mantido dentro daquilo que se espera para um clube da magnitude do Fluminense?
– A gente vem trabalhando em cima disso, de como aproveitar melhor esse espaço, até porque nosso estádio das Laranjeiras, como todos sabem, é um marco para o futebol, a primeira casa da seleção brasileira. Não podemos abrir mão disso, dessa história, de passar isso para os nossos descendentes, filhos e netos. A gente vem trabalhando muito em cima disso. Uma das opções que mais nos desperta o interesse é a manutenção do estádio, uma reforma para que ele venha a sediar jogos das divisões de base, para que possa voltar a movimentar as Laranjeiras, trazer o torcedor de futebol a ter contato com jovens promessas. É fundamental para manter a identificação do torcedor, conhecendo-o desde cedo. Essa troca é muito favorável para o Fluminense. O próprio jogador, se sentindo em casa, reconhecendo o grande papel que o clube envolve em torno dele, como cidadão e atleta, se sente abraçado.
7 – Pedro Antônio disse que nunca cobrou nenhuma taxa Selic ao Fluminense. Também ressaltou que o clube nunca pagou os juros acordados no contrato. Como essa relação entre o dirigente e o clube pode ser ainda mais otimizada na sua gestão?
– O Pedro Antônio é um grande tricolor, reconhecido por todos nós. O trabalho dele foi magnífico, estupendo. Talvez, se ele não estivesse à frente, correríamos o risco de não ter uma obra em tão curto espaço de tempo, de tanta qualidade, beleza e futuro para o Fluminense. Reconheço nele grandes qualidades. É óbvio que ele vai ser fundamental daqui por diante, permanecendo e colaborando com outros projetos dentro do Fluminense.
8 – É possível pensar em estádio próprio ou utilização das Laranjeiras para jogos de pequeno porte no Rio de Janeiro?
– Eu vejo como possível. Entendo até que há vontade da diretoria atual, de todos os torcedores, pela conquista, realização de um sonho que é um estádio próprio, que permita ao Fluminense disputar jogos até mesmo pela Libertadores, com capacidade mínima de 40 mil lugares. Mas tem que ser avaliado, discutido, dentro das possibilidades financeiras do clube e dentro da realidade do mercado imobiliário da cidade onde vivemos. Isso tudo passa por pessoas experientes, que já vem trabalhando no nosso grupo, do mercado imobiliário, com 40 ou 50 anos de expertise. Temos muitas questões que vem sendo tratadas. Pelo que eu vejo no noticiário, o próprio presidente está a frente de várias pesquisas de imóveis, terrenos que poderiam servir para um estádio. Vejo isso com certo otimismo. Acertando a casa, em termos de gestão, acho que a nossa visão de futuro, em curto e médio prazos, é muito otimista em relação a um estádio para o Fluminense, mas com os pés no chão, sem falsas expectativas ou promessas. É possível, viável e um dos grandes temas dessas eleições, sem dúvida. E sairá do papel. A construção de um estádio não é de uma hora para outra. Pretendemos aproveitar as Laranjeiras num primeiro momento, faremos tudo para colocá-la em condições, mas o desejo é de ter um grande estádio. Hoje, posso afirmar pra você: não abrimos mão nem de Laranjeiras, nem do Maracanã, mas sem esquecer a ideia de um estádio próprio.
9 – Fala-se muito de Xerém como fundamental para o futuro do clube. Entretanto, entende-se que a última revelação top fora o lateral-esquerdo Marcelo, vendido ainda na década passada. A base do Fluminense é mesmo tão boa quanto o torcedor acredita que seja?
– Eu vejo a base do Fluminense com muito bons olhos. Vejo potencial nessa garotada que vem de lá muito bom. O que, talvez, precise de ajustes, é o momento de transição, no caminho dos juniores para o profissional. A gente ainda não conseguiu um ajuste fino para prepará-lo melhor para um ambiente profissional. O Fluminense tem grandes valores. A recente venda do Gerson com valores muito bons para o clube, a do próprio Kenedy, vejo com bons olhos. Não acho que seja só marketing. A diretoria atual investiu muito em Xerém e acho que a gente ainda vai colher muitos frutos na nossa fábrica de talentos.
10 – O marketing talvez seja a área mais criticada dentro do Fluminense. Qual é a sua opinião sobre aquilo que foi feito nos últimos seis anos na pasta e o que pretende fazer para mudar ou complementar o trabalho desempenhado?
– Eu vejo como uma área sensível para o clube. Entendo que a diretoria atual, presidente, tiveram algumas prioridades, que foram realmente emergenciais, até certo ponto, para a sobrevivência do Fluminense. Acho que ainda tem muito a melhorar. O marketing bem trabalhado, explorado, é fundamental e principal ferramenta para ampliar a base de torcedores, mas precisa de recursos humanos, tecnológicos e financeiros, para alavancar a captação de patrocínios, de engajar torcedores através de plataforma digital. Há uma serie de questões que acho que o marketing é fundamental para dar o grande salto que falei contigo.
11 – Qual é a sua opinião sobre contratos assinados, de atletas, funcionários ou acordos em geral (TV, patrocínio e etc), que extrapolem a gestão vigente?
– Isso não é uma coisa dessa diretoria. Obviamente, você tem o prazo previsto no estatuto de três anos, mas você tem contratos que extrapolam. Não é uma coisa nova e nem será uma coisa que vá deixar de existir, porque às vezes não coincide. É base de negociação. É óbvio que cada caso é um caso, tudo tem que ser visto e analisado com muita atenção. Depende do jogador, do profissional, das negociações… eu vejo com certa reserva. Prefiro não emitir uma opinião definitiva porque teríamos que conhecer a situação de cada contrato, de como foi feita a negociação, como as partes trataram as cláusulas. Nesse aspecto, prefiro ter mais cautela. Em algumas contratações, pode até se surpreender tento em vista a idade do profissional, as condições. Mas sem ter contato com tudo, não posso emitir opinião porque seria até leviano da minha parte. Eu entendo que tudo tem que ser feito observando a ética, princípio de governança, planejamento. Respeitando esses pilares, acho que se acerta muito mais do que erra.
12 – Os grandes críticos da atual gestão têm o futebol como o calcanhar de Aquiles do Peter Siemsen. Você acha que os resultados condizem com o planejamento? O que foi feito de certo e errado desde a ruptura com a Unimed nesse sentido?
– Eu entendo que o futebol não é o que todos nós desejamos. Estamos num meio de tabela da Série A. O futebol do Flu já teve altos e baixos da saída da Unimed pra cá. O time atual não é para disputar títulos e isso me incomoda, particularmente. O Fluminense que quero é com futebol forte e vencedor. É isso que vai atrair mais torcedores e receitas pra nós. Hoje, a gente liga a televisão, ouve o rádio, vai ao estádio e em qualquer situação não se sente um time que vai disputar o título. Mas, também, creio que estamos iniciando uma fase que vai dar muitas alegrias ainda ao Fluminense, à sua torcida, porque vejo que o caminho está começando a ser sedimentado. Tem muita coisa para corrigir, mas vejo o futuro com otimismo.
13 – Quais mecanismos podem ser usados para evitar uma espanholização do futebol? No próximo ano, Corinthians e Fla, por exemplo, receberão três vezes mais do que o Flu. Como pretende gerar mais receitas para o clube?
– Inicialmente, arrumando a casa, investindo muito na gestão e no futebol. Arrumando a casa, você vai mostrar para os patrocinadores e investidores que o clube é um ótimo lugar para investir e colocar a sua marca, para ter retorno e identificação de uma marca vencedora. É nisso que estamos trabalhando. Queremos mostrar que o Flu é um ótimo parceiro. Conosco, vai ser um Flu forte no futebol, vai ter um esporte olímpico revigorado e vai ter uma casa transparente, com governança corporativa funcionando adequadamente, com um fluxo de caixa em dia, redondo, permitindo investimentos, contratação de grandes jogadores e o que é melhor, deles envergando a camisa tricolor com muita vontade de fazer a alegria do torcedor. Isso tudo, é óbvio, passa necessariamente por um pilar que a gente acha fundamental: a gestão profissional do futebol. A gente entende que profissionalizar todos os setores do futebol é indispensável para o sucesso do nosso projeto. Nosso programa de gestão prevê isso, já temos o perfil de cada profissional. Eu entendo que esse é o primeiro passo da recuperação de um Fluminense que entre nas competições para disputar títulos e para ser campeão. É isso que a torcida exige e merece. E essa liderança, só para concluir, será institucional, passando perante as entidades, governo, todas as instâncias. É fundamental o Fluminense ser protagonista dentro e fora dos campos.