Alguns jornalistas argentinos passaram por momentos de tensão na manhã desta quarta-feira a caminho do CT do Fluminense, na Barra da Tijuca. Para chegar ao local, os repórteres tiveram que atravessar a comunidade Cidade de Deus e, segundo relatos, chegaram a ver um homem portando uma metralhadora.
Vale lembrar que no início deste mês foi inaugurada a Rua Oscar Cox, um novo acesso ao CT Pedro Antônio onde é possível chegar ao local sem ter que passar pela Cidade de Deus. Como o caminho é novo, porém, ele ainda não é reconhecido pelos aplicativos de mapas dos smarphones.
No site do “Diário Olé”, o jornalista Martín Eula detalhou a saga para chegar ao treinamento da seleção. Confira:
“O motorista do carro escuta o destino e se benze. No Brasil são muito religiosos, mas bastou este sinal (premonitório) para que uma corrida que o GPS indicava durar nove minutos durasse 27, e justificasse o gesto de Rodrigo, a quem praticamente abraçamos quando chegamos ao destino.
A seleção argentina treinou no CT do Fluminense, e o aviso que recebemos no grupo [de whatsapp] da cobertura foi claro: “Às 11h vocês vão poder passar pelo portão, assim esperam dentro do clube, porque a região é brava”. Chamar de “brava” o bairro da Cidade de Deus é ser, no mínimo, benevolente. E para chegar até ali é preciso acertar o caminho ou que o GPS tome a rota certa: se não, você vai parar na boca do lobo, em ruas nas quais quase não passam carros. só os locais passam por ali, pelas ruas que tristemente fazem lembrar tantos bairros da Argentina.
“Sabem como ir?”, pergunta o motorista do carro aos jornalistas do Olé, do Clarín e do La Nación. Outro sinal nada positivo do que será ratificado em seguida, quando o bico do carro entra numa rua sem saída e um morador com uma camisa regata do Vasco da Gama se aproxima a passos rápidos com alguma coisa na mão que não é possível distinguir. Por sorte, rola um diálogo amável com o vascaíno. Ele e seu amigo “Batata” indicam como seguir.
A segunda parada é quando… Como dizer quando aparece um cara com um revólver, um segundo homem com uma metralhadora e um porco andando junto com eles? Os caras se sentiram invadidos, não esperavam visitas, não reconheceram os carros nem os rostos, não estão dispostos a responder perguntas e… vamos cair fora daqui.
“A Cidade de Deus tem suas próprias regras, é um país à parte”, diz o motorista enquanto as imagens de Zé Pequeno no filme surgem a mil por hora. Porque o carro atravessa a Cidade de Deus por suas entranhas, por uma rua de movimento fluido, isso sim, mas que ainda nos mantém a cinco minutos do Fluminense.
Há um ano um treino do Flu teve que ser suspenso por causa de um megaoperação policial na vizinhança onde vivem umas 50 mil pessoas (tenta fazer censo ali para ver) na região de Jacarepaguá, zona oeste do Rio de Janeiro. Agora há policiais que — que finalmente indicam o caminho esperado — mas para escoltar a seleção de Messi, que já passou um portão precário, percorreu 600 metros de terra bagunçada e chegou até o único campo do lugar.
“Já chegamos, nem demoramos tanto”, diz o motorista nesta rua de terra, diante do outro portão — nem de longe inexpugnável — e um pequeno espaço poeirento onde umas 150 pessoas (entre repórteres, fotógrafos e cinegrafistas) esperam quase uma hora para entrar e ver como Messi e seus companheiros terminam de treinar. Mas espera aí, no meio de todo esse contexto, foi uma panaceia“.