Passando por mudanças no que tange, sobretudo, seus membros, a Flusócio voltou a fazer um post com cobranças. Através de seu blog, o grupo pediu, dentre outras coisas, foco numa reforma estatutária.

Confira: 

 
 
 

“Dificuldades na gestão orçamentária são comuns na grande maioria dos clubes, muitas vezes tendo períodos de grande aperto financeiro seguidos por épocas em que uma aparente disponibilidade de recursos pode levar a gastos desproporcionais, que geram novamente necessidade de restrição rigorosa em despesas mais adiante.

Temos acompanhado o debate sobre a atual situação financeira do clube, porém as queixas têm se concentrado na consequência (falta de dinheiro) e não na causa (processo de gestão orçamentária).

A Flusócio, desde a sua fundação, tem procurado se propor a atacar as causas que podem comprometer o desempenho esportivo e financeiro, e não apenas os sintomas.

Podemos citar como exemplos:

– Implantação do Serviço de Apoio ao Torcedor Tricolor (SATT, o 1o grande movimento de cidadania tricolor, implantado ainda como oposição);

– Implantação do Sócio Futebol com direito a voto (2o grande movimento de cidadania tricolor, implantado em 2012);

– Suporte político para investimento massivo na base (antes de 2011, Xerém era chamado de Carandiru pelos próprios atletas);

– Suporte político para investimento em infraestrutura (até 2015, os profissionais treinavam na mesma estrutura da década de 50. Hoje tem um centro de treinamentos.);

– Doação do grupo para ajudar o Fluminense a pagar a consultoria da Ernst & Young, com objetivo de promover reestruturação organizacional e administrativa;

– Suporte político para a valorização e divulgação da história do Fluminense, antes de 2011 restrita a acervo local;

Após pouco mais de um ano como gestão de fato do Fluminense, com maior acesso ao processo decisório e as falhas/riscos que o modelo atual proporciona, a Flusócio gostaria de tornar público seu diagnóstico e fazer um posicionamento propositivo para melhoria da gestão e governança do Fluminense.

O momento atual deve-se, em parte, ao excessivo personalismo nas decisões à frente do futebol do clube, onde o(s) responsável(is) pela gestão do futebol detinha(m) grande autonomia para decidir jogadores a serem contratados, valores e prazos de contratos.

Importante frisar que a atual situação é fruto de decisões que vêm sendo tomadas há anos no Fluminense, não só na gestão Peter (quando erradamente tentou manter investimentos no futebol no patamar próximo da Unimed, mesmo após a saída da mesma), como na gestão Horcades (que terminou com o clube fora do Ato Trabalhista, penhoras diárias de caixa e resultado realizado de -R$ 52 milhões em 2010, mesmo com a Unimed pagando na época cerca de 80% da folha do futebol). Em proporções parecidas, o mesmo ocorreu na maioria das gestões anteriores, em maior ou menor grau. Ou seja, a atual dívida do Fluminense, que gira em torno de R$ 500 milhões, foi sendo construída ao longo de diversos mandatos, incluindo os anteriores a esses 2 presidentes.

Na nossa visão, torna-se urgente uma mini-reforma que empodere órgãos de governança e controle. Por exemplo, se estivesse definido em Estatuto que o Conselho Fiscal tem a prerrogativa de avalizar contratos que onerem o clube em mais de X% do orçamento anual, provavelmente algumas despesas contratadas em condições ruins para a instituição poderiam ter sido evitadas.

Para nós, hoje está muito claro que é necessário ter algum processo de controle institucional que acompanhe a execução orçamentária in loco.

Esse processo deve ser formado por algum órgão de controle que conte com profissionais da área, com capacitações e perfil técnico adequados para controlar a execução orçamentária.

Se a opção for o empoderamento do Conselho Fiscal, hoje formado por 3 titulares e 3 suplentes eleitos pelo Conselho Deliberativo, então seriam no mínimo mais 3 pessoas aprovando em conjunto com os integrantes do Conselho Diretor os contratos que ultrapassassem determinado patamar de prazo e custo a ser definidos. Certamente essa estratégia poderia mitigar os riscos do Fluminense assumir contratos prejudiciais à saúde financeira do clube no futuro.

Hoje, os “esqueletos” deixados sufocam a capacidade de investimento do Fluminense. Atualmente, a gestão é obrigada a conduzir o clube num cenário de inúmeras dificuldades, sem fluxo de caixa e com muitas dívidas de curto prazo. Entretanto, por desconhecimento sobre a estrutura de poderes do clube, um grupo reduzido de torcedores entende como foi construído o histórico que fez o clube chegar à condição atual.

Na estrutura decisória em vigor do Fluminense Football Club, o Conselho Fiscal infelizmente atua apenas a posteriori, ou seja, quando os contratos já estão assinados, e não toma as decisões de execução orçamentária do ano corrente. Cabe ao Conselho Fiscal dar parecer sobre o orçamento do exercício, que é votado no início do ano, e depois do exercício comparar o realizado versus o orçado, emitindo outro parecer, que serve de subsídio para reunião de avaliação de contas por parte do Conselho Deliberativo.

Importante frisar que, do ponto de vista estatutário, o Conselho Fiscal não tem poder para aprovar ou não esses documentos, mas apenas emitir pareceres. As votações propriamente ditas cabem sempre ao Conselho Deliberativo. Ou seja, hoje o Conselho Fiscal não atua durante a execução orçamentária. Não funciona como um controle contínuo do poder executivo, como seria mais razoável.

Na gestão Abad, o Presidente do Conselho Fiscal tem participado das reuniões do Conselho Diretor como convidado, apesar de não ser uma obrigação estatutária.

Mas nós reforçamos que o acompanhamento dos órgãos de controle durante a execução da gestão precisa ser uma imposição estatutária. Não pode depender da boa vontade do gestor da vez. De dentro do Conselho Deliberativo, infelizmente não se consegue detectar que contratos nocivos ao clube estão sendo assinados, compromissos que podem significar dificuldades imensas nos anos seguintes.

Grupos políticos que hoje apenas apontam o dedo e se colocam como oposição, como o Tricolor de Coração e a antiga Vanguarda Tricolor, um dos principais subgrupos que compõem o Fluminense Unido e Forte, também ocupavam cargos importantes nas diretorias e conselhos das gestões Peter e Horcades. Para eles também vale esta reflexão, pois também estavam dentro da estrutura de poderes do clube, mas assim como a Flusócio, não conseguiram detectar ou impedir que contratos ruins fossem assumidos pelos gestores da vez.

Onde queremos chegar com este texto? Na seguinte constatação: mesmo se as pessoas tivessem percebido os contratos nocivos às finanças do clube, provavelmente só teriam conseguido detectá-los com os compromissos já assinados, ou seja, tardiamente. Para a instituição, isso infelizmente não adianta muita coisa, pois nestas condições os valores já seriam devidos.

Infelizmente, o sistema de poder no Fluminense é muito centralizado e isso precisa mudar, para o bem da instituição. Em 2016, o São Paulo FC atualizou seu Estatuto exatamente nesta direção, promovendo a descentralização de decisões e maior controle sobre as mesmas.

Precisamos unir as lideranças do Conselho Deliberativo para, junto ao Conselho Diretor, elaborar uma minuta de consenso e encaminhar uma mini-reforma estatutária à Assembleia Geral, algo que empodere algum órgão de controle institucional para acompanhar de perto a execução orçamentária. O candidato natural seria o Conselho Fiscal, mas pode ser um Conselho de Administração ou qualquer outra estrutura de poder que venha a ser criada.

Deixamos essas contribuições propositivas à Mesa Diretora e aos demais grupos do Conselho Deliberativo. Temos ainda 1 ano e 8 meses de legislatura, portanto, ainda há tempo de deixar este legado positivo para o Fluminense”.