Lelê teve diversas fotos vazadas em redes sociais com a camisa do Fluminense (Foto: Reprodução)
Blog Vitor Costa

Salve, torcida tricolor! Tô de volta para mais uma resenha, e, dessa vez, para unir duas paixões: o Fluminense, que me acompanha desde que nasci, e a pauta que me escolheu (sim, fui escolhido) já na fase adulta, a luta por uma maior representatividade negra em uma sociedade excludente e desigual.

Nunca foi minha intenção abraçar a causa. Entretanto, a necessidade e as circunstâncias me levaram nessa direção. Explico: Nas últimas semanas, as movimentações do Fluminense no mercado, mais especificamente a contratação do Lelê e a chegada do Marcelo, dois grandes acertos da diretoria, diga-se, foram a gênese de uma tentativa de se recriar uma narrativa combatida institucionalmente pelo Fluminense e também por sua torcida: a de que o clube é elitista e sua torcida, majoritariamente “branca”.

 
 
 

Antes de falar sobre os casos, volto às circunstâncias que me levaram a refletir sobre o tema, e vou ser claro: meu clube de coração, o Fluminense Football Club, foi central no processo. Em 2022 fui convidado a participar da websérie “Herdeiros de Chico Guanabara”, produzida pela Flu TV, e confesso que não conhecia o personagem central do documentário, um negro, capoeira, apaixonado pelo Fluminense, e que no início do século XX, em uma sociedade estruturalmente racista e SEGREGACIONISTA, se tornou símbolo do clube do nobre bairro das Laranjeiras, poucos anos depois do fim do trabalho escravo (1888!), importante salientar.

A partir de então, pude conectar o que aprendi na academia – sou historiador – as influências das lideranças do movimento, minhas vivências e a história do Chico. Foi um baita ponto de inflexão. Produzir conteúdo para o Youtube me escancarou a necessidade de encampar a luta do Fluminense como “Clube de todos”, tendo como princípio a urgência do tema, e como diz Emicida “é tudo pra ontem”.

O caso do Lelê é didático neste contexto: negro, periférico e tricolor. Diante desta equação, obviamente que a torcida SE ORGULHOU do jovem, oportunidade ideal inclusive, para mostrar a diversidade da nossa arquibancada. Entretanto, a quantidade de “hates”, e sobretudo, a tentativa de se ressuscitar a narrativa de que a torcida do Flu não tem a “cara” do Lelê, trouxe à tona a necessidade de se trazer a verdade: a torcida do Fluminense é plural, negra, branca, da zona sul, subúrbio, rica, pobre, somos todos, somos o Rio de Janeiro. Somos o Brasil.

O caso do Marcelo também trouxe a discussão, quando nas redes sociais, tricolores negros se sentiram representados e postaram fotos, algo comum. E foram alvo de ataques alegando que “não se pareciam” com a torcida do Flu. Os dois casos possuem a mesma raiz: a construção histórica, baseada numa fakenews da primeira metade do século XX de que um jogador negro teria se “usado pó-de-arroz para clarear pele”. Uma óbvia mentira, comprovada no documentário que citei. Essa construção foi criada pela imprensa, posta como verdade e repetida pelos rivais, sem qualquer comprovação.

Por fim, fica claro que se nós, torcedores do Fluminense, não abraçarmos essa luta, que é uma luta muito mais ampla e que deveria sensibilizar muito mais gente, ninguém fará por nós. E pelo que conheço da arquibancada tricolor, o que não vai faltar é aliado.