Magno Alves teve duas passagens pelo Fluminense(Foto: Mailson Santana - FFC)

Jogador que teve duas passagens marcantes pelo Fluminense, Magno Alves concedeu entrevista exclusiva ao NETFLU. O atacante havia se destacado pelo clube em 1998 e 2002 e retornou depois de também ir bem no Ceará aos 39 anos de idade, em 2015. Ficou até o fim de 2016 e consolidou-se como um dos maiores artilheiros da história do clube, com 124 gols. Confira, na íntegra, a entrevista:

NF: Influência do coronavírus no dia-a-dia, principalmente envolvendo o futebol e o Fluminense

 
 
 

MA: É um momento triste devido a situação, mas é importante pensar nas vidas que estão sendo salvas. Tratando do lado esportivo, do amor que o brasileiro tem, prejudica muito. O lado financeiro, que é o principal também, para muita gente, atrapalha. Mas a saúde vem em primeiro lugar. É óbvio que é melhor você ficar em casa, mas o Brasil está triste porque nos meios de semana e fins de semana estamos sem futebol. Pelo lado do Fluminense, por exemplo, é preocupante por conta da possibilidade de perda de patrocinadores e entrada de dinheiro com bilheteria e cotas de TV. Pode fazer muita falta.

NF: Aos 44 anos você ainda se mantém como atleta profissional. Como vem se cuidando nesse momento?

MA: Tem que respeitar as orientações das autoridades de saúde, tomar as precauções. Você precisa fazer algumas coisas isoladamente, atividade. Tem que existir uma dupla força, a mental e a física. Mas faço os trabalhos necessários para ficar bem.

NF: Você chegou a dividir o topo da artilharia do futebol mundial há alguns anos, ao lado de Messi e Cristiano Ronaldo. Qual era a sensação?

MA: Foi uma época em que eu estava fazendo muitos gols pelo Ceará e, consequentemente, fui contratado pelo Fluminense. Daí fiz até matérias para a TV, mas a gente sabe que os caras também são umas máquinas, não param de fazer gols, por isso fui ficando pra trás (risos). Hoje eu tenho 44 e ainda estou em atividade e sigo fazendo tudo por amor. Sigo com a chama dentro de mim. É motivo de orgulho pra a minha vida. Apesar do tempo, eu acho que ainda sou o top 5 do mundo em gols que segue atuando. Se eu não me engano, só Cristiano Ronaldo, Messi, Ibrahimovic e Suarez me passaram.

NF: Com quem você se encaixaria melhor: Messi ou Cristiano Ronaldo?

MA: Acho que o Messi, no Barcelona. Ele é de outro mundo. Seria ideal para fazer dupla comigo. Por mais que ele seja fominha, eu sei que ele deixaria na cara do gol toda hora e eu também faria o mesmo por ele. .

NF: Relação com o Flu hoje em dia

MA: Sou uma pessoa reservada, mas tenho um bom relacionamento com o Mário, que é o atual presidente, funcionários, diretores e alguns jogadores. Sempre mantive boas conversas, apesar de não aparecer muito.

NF: Perspectiva para o Brasileiro 2020: crê em título ou, pelo menos, vaga na Libertadores?

MA: Pelo elenco que tem, sem dúvidas dá pra beliscar um título. O Fluminense vinha numa arrancada boa, as peças se encaixando direitinho no Carioca. Caso se concretize a chegada do Fred, com liderança, homem gol, não duvido que lute por coisas boas no Brasileirão, por mais que gente saiba que o Flamengo esteja uma máquina. Mas confiou na equipe.

NF: Fred seria importante para o Flu?

MA: Com certeza. Flu é uma casa dele pela história e creio que queira encerrar a carreira no clube. Vai ajudar muito e o jogador vai fazer mais história ainda com gols.

NF: Magno Alves e Roni ou Magno Alves e Fred

MA: Roni (risos). Mas é pelo tempo que passamos juntos. Foi o ápice das nossas carreiras. Pegamos o Fluminense lá embaixo e nos reerguemos juntos. Fred não jogou muito tempo comigo, por conta do estilo de ambos.

NF: Na época em que o Tricolor estava fora da elite do futebol brasileiro, você foi peça importantíssima. Mas uma andorinha só não faz verão. Para você, quais foram os principais fatores que possibilitaram a volta do Tricolor para a 1º divisão?

MA: O Elenco foi fundamental, jogadores, diretores, comissão técnica. O coletivo naquele momento foi vez toda a diferença. Não dá pra colocar só na conta do Parreira ou da Unimed. Mas eu creio que todos, com a ajuda do Parreira, foram fortalecidos e conseguimos recolocar o Fluminense no seu devido lugar, apesar de todas as dificuldades.

NF: Os atrasos salariais daquela época davam tanta dor de cabeça com os atrasos que, por ventura, ocorrem hoje em dia? Flu pagou tudo o que te devia?

MA: O atraso salarial no Fluminense é algo crônico. Sempre teve isso, desde aquela época. Vamos ver se um dia isso sara (risos). Pelo menos, no meu caso, sempre arcaram com os débitos, mesmo que fosse com atraso.

NF: Você acredita que sofreu preconceito, em função da sua idade, na última passagem que teve pelo Flu?

MA: Acho que sim. É até uma cultura que vai se quebrando aos poucos. Mas hoje você vê Léo Moura com 40, teve o Zé Roberto que jogou até os 43, Juninho Pernambucano… Mas existe vaidade, muito questionamento. Daí tem um atleta de 20 anos no elenco, vão preferir colocá-lo em vez de um de 40. Eu estava dando conta do recado quando entrava no Fluminense, fazia gol, mas no outro jogo voltava para o banco. No futebol tem isso, mas a gente respeita a decisão. Poderia ter sido diferente. Eu buscava o jogo, me movimentava, dava tudo dentro de campo.

NF: Ficou frustrado?

MA: Pelo contrário. Eu me orgulho, porque tudo o que eu almejei, consegui. Retornei ao Flu aos 39 anos, tive obstáculos e superei. Foi muito legal, apesar das dificuldades.

NF: Falando do elenco atual, qual é o jogador do clube que faz a diferença?

MA: Temos uma geração muito boa: Marcos Paulo, Evanilson, além do Nenê para calar a boca de muitos, correndo muito, dando assistência, fazendo gols. Tudo isso demonstra que quando a pessoa se cuida e tem potencial, a idade é secundária. O próprio Muriel é ótimo.

NF: Qual é a sua avaliação sobre o Ganso?

MA: Ele é um atleta profissional que pode dar muitas alegrias, mas ainda não conseguiu se encaixar. Não vou opinar que não dá pro Nenê jogar com ele, mas muitas vezes o time pode precisar dessa dupla em campo.

NF: O que pretende fazer quando terminar a carreira?

MA: Não quero nada ligado ao futebol hoje. Pelo menos por enquanto não penso nisso. Ainda tem chama aqui pra queimar (risos)

NF: Imagina um jogo de despedida, talvez do Flu contra o Ceará?

MA: Tenho esse desejo. Falta programar isso no momento certo. Seria uma boa colocar um amistoso para eu fechar tudo com chave de ouro.

NF: Mensagem para a torcida tricolor

MA: Tenho muita gratidão por tudo o que fizeram por mim, independentemente do grau. Me sinto honrado por ter defendido essas cores. Essa torcida sempre acreditou em mim, apesar das cobranças. Estão sempre presentes. Se não tiver campeonato em 2020, espero que continuem acreditando que o clube vai melhorar. Deus abençoe a todos.