(Foto: Marcelo Gonçalves/FFC)

Em seu blog no portal GE, o jornalista Carlos Eduardo Mansur analisou a derrota do Fluminense nesse último sábado, por 2 a 0, no Maracanã, em comparação com o último jogo, a vitória por 5 a 3 sobre o Atlético-MG. Mansur destacou os contextos diferentes dos duelos.

Leia, na íntegra, o texto publicado:

 
 
 

Não foram exagerados os elogios à grande atuação do Fluminense na vitória sobre o Atlético-MG. Ocorre que aquela exibição não era garantia de outra partida de nível igual. Primeiro, porque o futebol não oferece tais garantias. E mais importante, porque contrastes como o oferecido pelo tricolor num espaço de três dias explicam por que times de futebol precisam de tempo para que sejam avaliados: para vê-los submetidos a diferentes contextos e para entender como farão para lidar com as dificuldades que determinados rivais impõem. O que mais mudou entre os dois jogos enfrentados pelo time de Fernando Diniz foi justamente o contexto.

O Atlético-GO, justíssimo vencedor no Maracanã, confrontou o Fluminense com uma ideia oposta à do Atlético-MG. Em geral, é recomendável fugir dos rótulos no futebol, mas também é fato que o jogo colocava o tricolor diante de um cenário que já se mostrou desafiador em outros pontos da trajetória de Fernando Diniz. Não significa que o tricolor será sempre vitimado por times que decidam defender mais perto da própria área e apostar no contragolpe. Mas se é fato que o jogo foi muito condicionado pela expulsão de David Braz com 20 minutos de partida, também é verdade que este lance teve relação direta com um Fluminense que tentava ocupar o campo de ataque, mas exibia problemas na transição defensiva.

Três dias antes, o Atlético-MG tentara pressionar a saída de bola tricolor. Deu a Diniz o melhor dos contextos. O que é mérito do treinador e do Fluminense, aliás. O time foi brilhante ao lidar com a marcação adiantada do rival, agrupar jogadores em torno da bola e, após trocar passes curtos e vencer a pressão, acelerar em campo aberto. E mesmo quando o Atlético-MG se colocou mais atrás em algumas passagens da partida, o tricolor encontrou meios de criar oportunidades.

Três dias se passaram e o Atlético-GO teve o cuidado de não oferecer os espaços às costas de sua defesa. Jamais foi um time retrancado, mas evitou se expor demais pressionando com muitos homens a saída de bola. Não permitia ao Fluminense acelerar o jogo e testava a transição defensiva do tricolor com contra-ataques muito bem organizados. E, ainda assim, Fernando Diniz pode lamentar que o jogo tenha tido circunstâncias tão desfavoráveis.

Porque antes da crucial expulsão de David Braz, Cano perdeu um gol raro para os seus padrões de atuação. O lance, aliás, é mérito da boa construção do Fluminense e da atuação de Luiz Henrique, destaque tricolor no jogo. Mas, até ali, o time goiano já tivera uma escapada perigosa e, mais adiante, um lançamento longo feito com pouca pressão gerou a falta e o cartão vermelho do zagueiro. O lance, originado de um problema da transição defensiva do Fluminense, terminou por determinar todos os rumos do jogo.

Dentre os méritos de Fernando Diniz, um deles é claro: jamais abrir mão de abordar jogos com coragem. Porque se contra o Atlético-GO o time foi punido por erros após a perda da bola, por não atacar pronto para lidar com o contragolpe rival, em outros momentos esta forma de entender o jogo rendeu ótimas atuações. A questão é estar estruturado para fazê-lo. Mesmo com um homem a menos, Diniz manteve o Fluminense agressivo no jogo, assumindo o risco com uma defesa adiantada, primeiro com Wellington recompondo a linha de zagueiros e depois com Felipe Melo. No entanto, o gol pareceu estar sempre mais próximo dos visitantes, quase sempre pelo lado direito, em combinações de Hayner e Wellington Rato.

A bola quase entrou ao menos duas vezes mas, curiosamente, o gol só saiu num chute de rara felicidade de Jefferson. O segundo gol, que se anunciou ao menos duas vezes, saiu em outra das tantas escapadas pelo lado esquerdo da defesa tricolor. Nem Willian, que começou o jogo, tampouco Arias, deslocado para o lado após a expulsão, conseguiam auxiliar Cris Silva por ali.

O segundo tempo virou uma operação de resgate. Diniz seguiu arriscando, com Caio Paulista no lugar de Cris Silva, Nathan no de Wellington e, mais adiante, até o jovem Alexandre Jesus. Luiz Henrique ainda acertou o travessão, mas o time não deu a sensação de que salvaria ao menos um ponto.

Em três dias, dois jogos no Maracanã e dois contextos opostos. O amadurecimento do Fluminense passa por lidar bem com diferentes cenários. Em especial, quando as circunstâncias lhe entregarem todo o protagonismo, toda a obrigação de ter a iniciativa.