Após a aprovação do Projeto de Lei (PL) para a retirada de cadeiras e volta da geral ao Maracanã, o engenheiro João Luis Casagrande, responsável pela reforma do estádio para a Copa do Mundo, avisou que a situação não é tão simples. Um novo estudo terá de ser feito. Apenas abrir espaço com a retirada de assentos poderia causar uma enorme tragédia.

Fora isso, ainda há outros problemas. O Maracanã hoje é adminstrado de forma temporária por Fluminense e Flamengo. Não se sabe como será o edital para a futura concorrência. E quem paga por isso? Autora da PL, a deputada estadual Zeidan Lula, do PT-RJ, avisa que é de responsabilidade do Governo do Estado.

 
 
 

Veja a íntegra da entrevista do engenheiro João Luis Casagrande ao portal “Globo Esporte” explicando todos os pormenores de uma obra e porque não é tão simples abrir espaço para a geral.

O senhor fez os cálculos da estrutura desta reforma do Maracanã. O que seria preciso rever com a retirada das cadeiras?

João Luis Casagrande: Do ponto de vista estrutural, temos algumas preocupações que não devem ser esquecidas. A arquibancada do Maracanã foi considerada que teria cadeiras em todos os seus lugares. Com a retirada, além do aumento de carga atuante (pois aumenta o número de usuários), consequentemente teremos um aumento da agitação provocada pelo público. Sempre bom lembrar que o Maracanã de hoje não vibra. Ou seja, não treme como o antigo pois diversos cálculos foram feitos para que isso não acontecesse. Com a retirada das cadeiras e seu aumento de público em um setor, todos estes cálculos deverão ser refeitos. Além da segurança há o conforto do público. O Maracanã não é utilizado somente para futebol, mas também para shows e dependendo da cadência da música e da plateia seguindo a mesma vibração, poderemos ter um grande desconforto ao usuário em alguns caso podendo até gerar pânico e tudo isto deve ser analisado.

Como que um show de música poderia impactar nessa possível retirada de cadeiras?

Existe um exemplo antigo na engenharia. Aconteceu em 1988, quando a Praça da Apoteose, que foi calculada para a cadência do samba, teve o Hollywood Rock. O público quando entra em uma cadência determinada fica todo mundo igual. Chamamos efeito da similaridade, todos fazem o mesmo movimento. Na época, muita gente ficou com medo e foi feito reforço depois.

O que quero dizer: quando aumenta o número de pessoas, aumenta a massa que agita. Hoje aguenta show de heavy metal, porque foi calculado para isso. Claro que pode aguentar esse aumento de carga, mas tem que ser calculado para isso.

Qual é esse cálculo de massa, de peso, no estádio? Foi calculado para 80 mil pessoas?

O cálculo é por área. São 400 kgf/m2 (quilograma por metro quadrado), que é a norma brasileira de cargas. Todos cálculos têm que ser revistos. Problema não é o peso, é a agitação deste peso. Se calcularmos uma pessoa com 80 kg, podemos colocar cinco pessoas no metro quadrado. Mas quando pulam aumenta a carga e o efeito dinâmico. A norma pede 400 quilos por metro quadrado, mas tem efeito dinâmico, que é isso que tem que ser calculado.

O texto original falava em oito mil lugares a mais e depois retirou o número. Se fossem oito mil lugares a mais, o impacto pode ser muito grande? Precisaria de reforço de estrutura?

Se haverá a necessidade ou não de reforço, somente depois de todos os estudos feitos que pode-se dar o tamanho do impacto. Garanto a você que não é somente retirar as cadeiras que estará tudo resolvido. Para exemplificar, houve um grande acidente na Arena do Grêmio em 2013. Houve a famosa avalanche feita pela torcida, mas não havia sido levada em consideração. Os guarda-corpos são de vidro no Maracanã e não há barreiras intermediárias na arquibancada para isso. A estrutura da própria arquibancada, os guarda-corpos, as rotas de fuga e acesso, tudo deve ser reanalisado.