A história de garotos que nascem em família humilde, passam dificuldades e conseguem mudar de vida graças ao futebol não é uma realidade exclusiva do Brasil. Em outro endereço aqui pertinho, no Uruguai, também é comum e aconteceu com um jogador do atual elenco do Fluminense. Michel Araújo precisou superar muita coisa, segundo o portal Globo Esporte, até marcar seu primeiro gol no futebol brasileiro no último sábado, na vitória por 1 a 0 sobre o Botafogo em amistoso no Nilton Santos.
A dura realidade da família Villar
Ele nasceu em Colônia do Sacramento, uma pequena cidade uruguaia de aproximadamente 25 mil habitantes a cerca de 180 km da capital Montevidéu. É um dos sete filhos da Dona Mirtha, que pariu Michel, Micaela, Gonzalo, Luciana, Yojan, Anthony e Angela. Enquanto o pai era pescador e cuidava de cavalos de corrida, a mãe foi faxineira de hospital e cozinheira em escola. O futuro jogador naquela altura cortava grama e era garçom de barraquinha de rua para conseguir uns trocados.
A realidade da Família Villar era tão humilde naquela época que a base da alimentação da casa vinha dos peixes pescados pelo pai, mas muitas vezes faltava comida. E muitas vezes passavam fome. Lembranças de acordar e não ter sequer um copo de leite para tomar. De engolir a vergonha para pedir algo de comer aos amigos. De continuar frequentando a escola nas férias de janeiro para garantir o almoço no colégio, graças a um programa do governo de auxílio a famílias carentes.
As roupas que vestia na infância e adolescência eram usadas. Fruto de doações que recebia ou peças compradas em brechós por aproximadamente U$ 10 pesos (o que seria equivalente a R$ 1,20 na cotação atual). Seus sapatos de tão velhos estavam sempre remendados, e certa vez teve que ir para a escola com a chuteira emprestada para jogar futebol porque era o único calçado que tinha.
Mas o seu maior pesadelo da época foi quando tinha 12 anos e viu, com lágrimas nos olhos, uma retroescavadeira demolir o lar onde morava. A casa havia sido construída há anos pela família de seu pai em um terreno próximo da praia. Mas certa vez os donos apareceram e os expulsaram, dividindo os Villar. Michel, por exemplo, foi morar com a irmã mais velha, Micaela. Todos estas situações estão relatadas no blog “Que la cuenten como quieran (historias y cuentos)” e foram confirmadas pelo ge.
A força-tarefa por trás de um sonho
No meio disso tudo, Michel Araújo decidiu tentar ser jogador de futebol. Começou ainda garoto no Real de San Carlos e depois, na adolescência, foi para o Juventud de Colonia. Tinha 17 anos quando pintou um convite para fazer teste no Racing-URU, de Montevidéu. Mas na mesma época descobriu que sua noiva, Margarita Pérez, estava grávida. Quis largar tudo e trabalhar com construção para ficar por perto, mas a família de sua mulher o convenceu a não desistir do seu sonho.
Michel, então, foi para a capital e conseguiu passar no teste no Racing-URU. Ficou morando em uma república de estudantes e contava com a ajuda financeira da família da esposa, que tinha uma padaria em Colônia do Sacramento. A própria Margarita trabalhou lá até o último mês da gestação e mandava dinheiro para o marido comprar comida em Montevidéu. Lautaro, filho do casal, nasceu, e o meia viajava de volta para sua cidade depois dos jogos para matar as saudades.
As coisas caminhavam bem até Michel ter uma desilusão com o futebol. Recebeu o convite para um período de experiência na Espanha, mas voltou depois de dois meses. Frustrado, pensou em mais uma vez largar a carreira e ficar perto do filho e da esposa. Mas novamente a família deu força para ele encarar um longo recomeço no Racing-URU. Em 2016, foi emprestado por um ano para o Villa Teresa, também da capital, onde começou a ganhar destaque.