Em nenhum momento dos pouco mais de 90 minutos da partida, houve um predomínio muito grande de um time sobre o outro. Houve sim, momentos em que isso aconteceu, mas nunca de forma muito contundente.
Vitor Pereira mudou o time. Era preciso. E mudou onde incomoda mais esse time do Fluminense, fortalecendo fisicamente um Flamengo que tem problema na forma física das suas referências técnicas. Mas não foi só.
Houve uma mudança tática importante e que trouxe muita dificuldade pro time do Fluminense. Uma variação bastante interessante (com 3 zagueiros de origem escalados) numa última linha de 4 ou 5 jogadores. O Fluminense trabalha a parte ofensiva colocando jogadores na última linha defensiva adversária.
Matheus França e Cebolinha fizeram esse papel de dar sustentação a essa última linha (fechando linha de 5 quando necessário) e congestionar o lado do campo, prejudicando o alargamento na defesa do Fla que o Fernando tentou fazer abrindo Árias e Keno pelo lado.
Vítor Pereira fez mais. Adiantou pra intermediária essa última linha e, com a primeira linha de marcação do Fla no meio campo, o espaço pro Fluminense tocar, movimentar e criar ficou escasso.
O resultado disso foi um primeiro tempo com poucas chances de lado a lado, mas definido num golaço do Cebolinha, pura individualidade, pois o Flamengo, se conseguia controlar o Flu, ofensivamente também não criava muitas chances.
No Flu, a dificuldade era muito grande. Uma dificuldade que se fez presente em praticamente todos os jogos mais difíceis em 2023.
O Fluminense passou o primeiro tempo muito pressionado e só uma vez conseguiu finalizar com algum perigo (um chute do Cano), na única vez que conseguiu um escape pelo lado do campo. Faltou drible, faltou ataque de espaço, faltou mobilidade…
É muito nítido que a entrada de Keno remonta a um sistema com um jogador mais posicional, que era tônica do time na época do Luiz Henrique. Só que num lado do campo (o esquerdo) que o Flu congestiona muito. E não é simples a adaptação de um jogador que sempre precisou que espaços fossem criados pra ele jogar. O resultado foi um time travado que não conseguiu transformar posse em chances criadas.
Diniz mexe no intervalo. E o Fluminense tem dois ganhos. Primeiro, o físico. Saem dois jogadores mais velhos e entram dois jogadores mais jovens, com mais mobilidade, força, velocidade.
André vai pra zaga (joga demais ali também) e fortalece a saída de bola com força e capacidade de condução.
E com Pirani, o Flu troca um jogador posicional por outro que se mexe pra criar superioridade numérica em qualquer parte do campo.
Mas é na esquerda mesmo que o gol sai. Sem Keno ali preso, Fluminense junta quatro jogadores naquele setor. Pirani ataca espaço, recebe e toca de primeira, Árias ataca espaço, recebe e toca de primeira e Cano ataca espaço, bate de canhota e faz de primeira. Um golaço de empate com o DNA desse Fluminense.
E o Flu passa a dominar o jogo. André domina completamente Gabriel Barbosa, Gerson já não consegue mais ter a dinâmica do primeiro tempo e Arrascaeta mal pega na bola. E Vitor Pereira precisa fazer uma intervenção.
E, de novo, equilibra a partida. Matheusão (que é ruim) passa a pressionar mais a saída de bola, algo que o Gabriel não fazia, Cebolinha fica mais livre pra jogar na frente e Vidal (essa mexida eu não faria) é escolhido pra dar sangue novo no meio.
De certa forma, a mexida funciona. Não que o Flamengo tenha jogado melhor depois dela, mas ela trava de novo o Fluminense e o jogo fica sem chances de lado a lado.
Diniz responde com um outro atacante (Alan) no lugar do Martinelli, mas é óbvio que o resultado disso é nulo. Sem condição nenhuma de estar no Fluminense, mal pega na bola.
O jogo se encaminhava pra um empate. Até que, numa falta perto da área, contra um time do Flamengo repleto de jogadores de alta estatura, num bate, rebate, a bola sobra no Pirani que emenda e faz o gol da vitória.
Depois disso teve mais confusão que futebol e o Fábio ainda fez uma boa defesa numa falta do Cebola. Fim, mais uma vitória tricolor.
Jogos como o de ontem (8), marcados por imensas dificuldades, com briga, porrada, catimba, contra adversário qualificado, que soube ler o Fluminense, pavimentam caminhos para títulos importantes.
Como disse no meu último texto antes desse, ainda sinto falta de alguns elementos, mas hoje é dia de comemorar.
Comemoremos todos. Quem acha que é título, quem acha que não é, quem acha importante, quem acha que não é. Uma vitória em Fla- Flu sempre é gigante. Ontem foi mais uma. Espetacular.