De primeira eu já adianto que não vou enganar vocês fazendo uma análise do resultado pra trás pra justificar a virada espetacular da última quarta-feira.
Quanto mais a gente se debruça no estudo do jogo, nas leituras, quanto mais a gente observa esse jogo, a gente consegue entender (e conviver bem com isso) que muitas vezes ele é inexplicável, caótico e, por isso, apaixonante.
Mas o jogo, a grande vitória, teve elementos que levaram o Fluminense à final da libertadores. Ao jogo!
Fernando Diniz escalou o Fluminense de forma bastante coerente. Um time e uma estrutura que já haviam dados boas respostas durante o ano, um banco capaz de mudar o jogo (o que efetivamente ocorreu).
A partida do Maracanã havia deixado clara a necessidade de preencher o meio pra sustentar um jogo em que o Fluminense seria muito pressionado na saída de bola e precisaria se defender das transições.
O Fluminense abriria mão de JK, do ataque a última linha e do peso que ele dá ali, mas teria a fluidez do Alexsander e ainda tinha Keno e Arias pra carregar essa bola e sair da pressão, somados à qualidade individual dos veteranos pra controlar o jogo. Nada disso aconteceu.
Com atuações individuais muito abaixo de Felipe Melo, Ganso, Marcelo e dos próprios Alexsander e Keno, o jogo ficou muito complicado.
O Fluminense, pressionado, também apostou no modelo 2022, com Árias mais livre e tentando a superioridade numérica em torno da bola pra sair curto. Mas o Inter estava preparado pra tudo isso.
Aos 8, depois de um bote errado do Marcelo numa bola lançada, Felipe Melo não consegue sair na cobertura, o Inter vira o jogo pro outro lado e Wanderson chuta no peito do Fábio. No escanteio, Fábio tropeça e o Inter abre o placar.
Maurício logo depois dribla Felipe, Marcelo não consegue chegar e Fábio faz grande defesa.
Keno perde a bola no meio, a bola chega no Alan Patrick que em vez de tocar resolve finalizar da entrada da área e a bola sai.
O primeiro tempo do Maracanã se repetia, só que, dessa vez, sem nenhuma agressividade por parte do Fluminense.
A partir da metade do primeiro tempo, o Flu, do seu jeito, conseguiu controlar mais o jogo, mas sem a contundência necessária pra transformar posse em chances.
No intervalo, o de sempre, Felipe Melo sai, entra Martinelli, André recua. Sai também Alexsander e entra o John Kennedy. Em muitos jogos essa formação foi capaz de empurrar o adversário pra trás, porque André, além de ser mais capaz de conter as transições em velocidade do adversário, quando o Flu tem a bola, vira mais um meio campista. O Flu insistiria no seu modelo. E, mais uma vez, sem sucesso.
Logo depois sai Ganso e entra Lima. E há nova mudança na estrutura.
Diniz insiste, faz nova aposta, última linha de defesa com três homens (Nino, Martinelli e André), Marcelo solto, por dentro, Keno no lado esquerdo e Guga na direita abrindo o campo. O Fluminense continuava não conseguindo criar. E, cada vez mais exposto.
Enner Valencia perde sozinho de cabeça na pequena área (a defesa da área precisa melhorar muito). O equatoriano arranca do meio girando sobre André, mas Nino salva no último segundo e o mesmo Valencia sai na cara do gol numa bola perdida pelo Marcelo.
Diniz dobra a aposta na ofensividade. Entra Yony do lado direito. O time passa a ter cinco atacantes de origem.
E, continua, mesmo sem sucesso também por boa parte do segundo tempo, acreditando no modelo. Sem chutão, sem cruzar bola a esmo, sem nervosismo e desespero, com um equilíbrio emocional digno de times vencedores.
O time tem um DNA, um trabalho longo. E foi nesse DNA que veio a virada histórica.
Nino faz uma cobertura (partida gigante do capitão), joga pro Fábio, o Inter começa a vir, de novo, como fez todo jogo, Fábio dá no André, André joga pro Keno, que, cercado, dá no Marcelo, que toma o bote mas faz um lindo corta luz.
E pronto, bola nas costas das linhas de marcação e Cano recebe, livre, de frente pra defesa. Tudo o que esse time faz exaustivamente há mais de ano, enfim, funciona, Cano segura, JK de forma muito inteligente segura a passada pra não sair impedido, ataca a última linha, recebe, cava e saco. O Fluminense está no jogo.
Diniz reequilibra o time com Marlon. Em tese, substituição pra segurar o resultado. Só que esse Fluminense, o Fluminense do Fernando, não segura, agride.
Em nova investida, André carrega, Cano, de novo, aparece livre entrelinhas, abre na direita, Yony González toca de primeira, JK larga pra Cano e aí amigos, bola no Cano naquela região, é certeza quase matemática, é ciência exata, é gol.
É a virada, com o DNA desse time. E ainda teve, de novo, uma defesa salvadora do Fábio, porque o time deixou os caras cabecearem.
E, de novo, por baixo, tocando, John Kennedy sai na cara do gol ,mas perde dessa vez. Virada épica, histórica. Mais uma final de Libertadores.
Se tecnicamente ou taticamente esse Fluminense esteve longe do seu melhor jogo, é muito bonito de ver como esse time, como esse grupo, quer esse título.
O time, emocionalmente, fez um grande jogo porque a tendência quando as coisas não funcionam é o nervosismo tomar conta. O time acreditou no trabalho longo, o time foi até o fim buscando o resultado jogando como sabe e acredita.
E o futebol premiou isso. Premiou o trabalho, o processo, a coragem. Fez-se justiça. O Fluminense tem um mês pra fazer alguns ajustes. E eles serão objeto de conversa nossa por aqui.
Hoje é dia de comemorar!
Seremos! Seremos pra caralho!