O Fluminense não atropelou apenas o Cruzeiro, tido e havido pelos gatos-mestres de nossa crônica esportiva como um dos melhores times do Brasil.
O Fluminense atropelou o antigo, o jogo chatíssimo que infesta os clubes brasileiros há anos, e que tem em Mano Menezes, Abel Braga e outros tantos o porto seguro de sua queda drástica no comparativo ao futebol que dá certo no mundo.
O Fluminense atropelou os cronistas da negação, aqueles sujeitos que conseguem ver sombra em todos os lugares e que resistem ao que tem de novo porque, velhos e velhacos, fizeram carreira exaltando e fomentando um padrão construído por dirigentes, treinadores e jogadores muito mais preocupados com um jogo do que com o jogo.
O Fluminense – desculpem-me pela franqueza, meu amigos – atropelou a caretice da maior parte de sua própria torcida, anestesiada por anos de incompetência administrativa, perebas em profusão, derrotas e mais derrotas em clássico e escassez de títulos.
O jogo era para cem mil tricolores. Foram dez.
Está na hora da gente começar a olhar pra dentro. Nas inúmeras comemorações que tivemos na vida uma das coisas mais comuns eram os choros de alegria, as juras de amor, o “Fluminense é a minha vida”.
Ok, eu pondero… Um décimo terceiro lugar no campeonato é uma porcaria. O Abad já vendeu o menino-craque que mal saiu das fraldas. O time não tem jogadores cascudos, que desequilibram. E tenho certeza de que vocês podem enfileirar mais umas dez ótimas justificativas para não acreditar na equipe. Não vou me dar ao trabalho.
Mas que raio de amor é esse que só se manifesta nas juras?
Amor é também a festa, o dia de graças.
Mas é acima de tudo acolhimento.
Vocês não estão lendo algo de alguém que passa incólume ao cansaço. O Fluminense é especialista em me cansar. Quantas e quantas vezes já abandonei a equipe, seja por cansaço, seja por incredulidade? E sim, já dei uns bons castigos no clube que eu amo.
Amor também pede um gelo de vez em quando…
Mas, cacete, agora? Pensem comigo… Um elenco cheio de dificuldades, com salários atrasando invariavelmente todos os meses, com uma folha de segunda linha de nosso futebol, com um presidente caótico e caído no descrédito absoluto com todo mundo…
Vocês têm reparado como esses camaradas estão correndo? Na boa… Têm reparado?
Fico muito confortável em pedir essa reflexão porque sempre fui e serei um crítico muito ácido para corpo mole e pilantragem. E cansei de ver e apontar aqui na Flupress.
Mas, amigos, esses caras estão se doando num nível acima do normal. Não é possível não se comover.
E estão jogando pra cacete. Essa é a verdade. Tenho dito aqui que a chave uma hora vai virar. O Fluminense está burilando um estilo de jogo que potencialmente é muito superior aos que nos acostumamos a ver. Falhamos? Sim. Oscilamos? Sim. Mas afinal do que estamos tratando? Matemática?
Enquanto esses caras jogarem com alma e compromisso com um modelo de jogo ousado, enquanto persistirem por resultados durante os 90 minutos, enquanto continuarem mostrando aos adversários (qualquer um!) a grandeza de nossa camisa, eu com eles estarei.
O Fluminense desses caras, o Fluminense que o Diniz tem na cabeça, é o meu Fluminense. Acertando ou errando.
Os resultados, meus amigos, inebriam ou revoltam ao sabor da bola que entra aqui ou ali. Mas o que isso tem a ver com o que precisamos para ser parte, para ajudar na simbiose entre campo e arquibancada?
Nada.
Um Fluminense de propósitos, sim. E esse de hoje é um puta Fluminense de propósitos.
Estamos devendo. Com todo o respeito a quem discordar, parece-me que o resto é contorcionismo.
Na quinta teremos um jogo chave demais. Um confronto contra um adversário de camisa, em uma competição na qual temos muitas chances de vencer, se seguirmos jogando do jeito que estamos. E se a vencermos teremos também Libertadores, Recopa e – quem vai nos impedir de projetar? – um novo campeonato mundial de clubes logo ali na frente.
Não vejo qualquer time nesse campeonato que entre contra o nosso na condição de favorito. Aliás, se me permitem o abuso da franqueza, muito pelo contrário. Os favoritos somos nós!
Vai dar! E será mais fácil e muito mais maneiro, se a alegria do campo também estiver nas arquibancadas.
Elas andam sombrias, porra! E nós, que adoramos vaticinar o que é certo e o que não é nas coisas do Fluminense, temos que ter a capacidade de admitir: não tem nada de certo. Estamos falhando feio.
Esse Fluminense merece a paixão de quem tem dito presente em todos os jogos. Pouca gente.
Esse Fluminense merece e precisa do crédito de quem não tem ido. A constrangedora maioria.
“Mas acima de tudo é acolhimento”, eu disse, acima. A forma mais bonita de amar.
Todos os caminhos levam ao Maracanã.
Todos!
Abraços tricolores.
CURTAS
– Mais um motivo? Conmebol não autoriza venda de ingressos no dia do jogo, partida não será transmitida pela TV e quem quiser ver terá que pagar o streaming (que é ruim demais!).
– Diniz, meu camarada, não teria a menor explicação lógica, o menor sentido, a não escalação do João Pedro no jogo de quinta. É mata-mata. Não temos tempo para recuperar. É matar ou morrer. Temos que ir com o melhor. E os meninos estão jogando muito. Não se complique!