Foto: Lucas Merçon - FFC

Amigos, o Fluminense passa por um processo extremamente complexo. A mudança drástica de alguns modelos que perduraram por dois anos e criaram uma identidade.

Isso tudo no meio de um ano extremamente turbulento com rodadas na última colocação do campeonato brasileiro, uma briga insana pra sair do Z4 e jogos decisivos contra times gigantes pela Copa Libertadores.

 
 
 

O trabalho do Mano é hercúleo. Não é só substituir Fernando Diniz, um ídolo do clube. É implementar sua forma de jogar, diametralmente oposta ao que o Flu praticava, principalmente pelas especificidades do trabalho do Fernando.

E convencer o torcedor dessa nova forma, fazê-lo entender e apoiar. Porque, com justiça, o trabalho do Diniz de 2022 e 2023 sempre estará guardado na memória de cada um de nós.

O Flu do Mano é exatamente aquilo que se viu ontem. E não dá pra criticar.

Pessoal, todas as vezes que qualquer time do planeta se deparar com adversário em bloco médio/baixo, com bons encaixes, dobras e coberturas, vai ter dificuldades.

Pra citar apenas jogos de ontem, à tarde o Manchester City, o time mais especializado do mundo na fase ofensiva, não saiu do zero e depois do nosso jogo, o líder do campeonato brasileiro também não saiu do zero, com o seu adversário perdendo um gol na pequena área no fim da partida.

Se a gente recuar no tempo, vai lembrar da dificuldade que foi o Argentino Juniores ano passado aqui, num jogo muito parecido definido no final. E os exemplos são muitos.

E ontem era o Atlético, um time que é muito forte, com jogadores muito capacitados e que podem desequilibrar jogos.

Alonso, Arana, Hulk, Scarpa, Paulinho, Bernard… a tarefa não é simples e a impaciência com a dificuldade não se justifica.

Mano fez (quase) tudo certo. A escalação inicial sem Mello e Marcelo se justificava. Não é um jogo que dá pra correr riscos contra um ataque tão forte.

O Atlético (fora de casa) é um time que preza muito mais pelo controle do que pela agressividade. Foi assim que venceu o São Paulo no Morumbi pela Copa do Brasil e depois se classificou pra semifinal. O time lidera o quesito posse de bola e ontem conseguiu controlar o Flu até os trinta do primeiro tempo.

O Fluminense começou tentando pressionar a saída. Com um minuto numa interceptação de Martinelli, a bola vem no Ganso que toca, a zaga falha e Kauã chuta da entrada da área em cima do Éverson.

Foi só isso e o Atlético passa conseguir dominar o jogo, mas sem nenhuma contundência, o que passa pelo equilíbrio defensivo desse time do Fluminense.

Na metade do segundo tempo, Mano faz dois movimentos inteligentes. Um coletivo e um individual. Adianta o time para pressionar mais o Atlético e inverte Serna e Árias que passa levar vantagem sobre Fuchs, zagueiro que fazia o lado direito.

Aos 31, Árias dá no Diogo, que gira, devolve e o colombiano entra na área sozinho mas erra o último passe.

Aos 33, o inverso, Diogo ataca a última linha defensiva adversária, recebe lindo lançamento de Árias e (eu nem vou chamar de cruzamento), dá um passe rasteiro pro meio da área, Serna, de frente pro gol, fura, na melhor chance do Flu no primeiro tempo.

Aos 35, o único chute a gol do Galo. Hulk recebe no meio e sai arrastando sozinho toda a defesa do Fluminense, que ainda consegue dificultar a finalização, que vai no canto e Fábio espalma.

No intervalo, um drama. Sai Thiago Silva, fator preponderante pro equilíbrio defensivo do Fluminense.

E Mano, acertadamente, não vem com Felipe Mello. Com Antônio Carlos e Thiago Santos, o sistema seria testado sem nenhum jogador de altíssimo nível.

E o sistema passa no teste. Uma finalização do Hulk de fora da área pra boa defesa de Fábio também foi a única bola no gol do Flu nesta etapa.

Etapa que contou com uma outra mudança. Faixa no braço. Ganso recua e chama o jogo pra ele (92% de passes certos no jogo). O Atletíco teve mais posse de bola no primeiro tempo e , com Ganso vindo buscar, no segundo o controle do Flu foi bem maior.

Mas faltava contundência. Muito por conta de um meio campo (Bernal e Martinelli) que é muito mais distribuidor, do que invasor.

E de novo Mano age. Cano no lugar do Serna. Lima no Martinelli. Marcelo no Diogo que sentiu a inatividade.

Eu não gostei do Cano no Serna. Entendi a proposta do Mano de dar um peso com dois atacantes, mas fez o Ganso ter que ir lá pra direita pegar o Arana, o que não me agradou, embora não tivesse havido nenhum problema maior.

Lima no Martinelli era coerente. Um jogador de invasão e chute de média distância no lugar de um que fez um jogo extremamente burocrático.

E Mano tinha duas opções pro lugar do Diogo. Guga, pra manter o equilíbrio e consistência e Marcelo. E, de novo, mano acerta. Scarpa, que jogava ali, não é um ponta de velocidade e buscar o fundo, dava pro Marcelo. Logo depois o Milito jogou o Palacios pra correr em cima do Marcelo ali, mas o jogo já estava muito sob controle do Flu e o galo querendo levar o empate pra Minas.

Ainda sem a contundência necessária. Mano coloca o especialista no x1. Sai Kauã ( que precisa muito evoluir seu jogo fora da áera) e entra Keno.

Reparem que o tempo já se esgotava e o zero a zero parecia ser o destino do jogo. Mas num jogo de 180 minutos, há de se ter maturidade. Tentar a vitória sem entregar espaços pro adversário. Não dá pra exigir 4, 5 atacantes e o risco de um contra-ataque mortal do adversário.

Mano e o time foram muito maduros e pacientes.

E a grande jogada, enfim veio. Ganso abre (movimento que ele fez o jogo todo pra abrir caminho por dentro mas que o time , principalmente Martinelli, não aproveitou), Marcelo se coloca por dentro, livre.

Claro que Ganso iria enxergar, o passe sai forte, rasgando a grama, na perna esquerda do Marcelo. Marcelo, de costas, não podia dominar e, inteligentemente, já solta de primeira e acha o Keno no um contra um.

E a grande jogada do jogo vem aqui. Pelo nível de dificuldade. Keno não podia cortar pra dentro porque havia cobertura. E vai levando pra linha de fundo, pra perna ruim. E a quando a bola estava quase saindo, ele precisava cruzar. Mas esse cruzamento era muito difícil porque tinha que passar do primeiro pau e a bola já estava dentro da área.

E ele consegue pegar bem embaixo dela com uma precisão muito difícil de ser alcançada com o pé esquerdo.

Por dentro, invadindo a área, Lima segura um pouco a passada pra ter a distância necessária pra gerar impulsão.

Sai o cruzamento perfeito, Lima vai lá em cima e cabeceia forte, pra delírio da torcida tricolor no Maracanã.

Maracanã que, lotado de tricolores, não vê uma derrota do Fluminense contra times de fora do Rio em mata-mata, desde 1991.

Vitória gigante, do tamanho do Fluminense.

Saudações Tricolores

Tabelinha

— Thiago Silva já postou nas redes o início do tratamento. Impressiona o profissionalismo e entrega. O respeito ao Fluminense se mostra em ações e não em palavras.

— Outra decisão sábado. Situação no brasileiro complicou com a derrota pro Juventude. O principal objetivo do ano continua sendo não jogar a série B em 2025.