Após um longo tempo a Flupress volta ao formato escrito.
Não sei se quem acompanha a gente por aqui são as mesmas pessoas que
acompanham a gente em outras redes, mas, é sempre bom ressaltar, não
paramos nesse período.
Tanto eu, quanto o Gusta fizemos algumas participações no canal do
NETFLU no Youtube. Um novo formato que o Leandro Dias idealizou e
gente topou. Uma forma de estar mais perto da nossa torcida, de
responder perguntas na hora em que ocorrem, de nos ver, de interagir
mais, nesses tempos difíceis de distanciamento.
E vamos pro texto.
O título é “roubado” de um programa que o Leandro faz no canal do site
sempre antes dos jogos. E com a chegada de Fred essa pergunta parece
estar em todos os lugares.
São milhões de escalações, esquemas, estratégias. E tome de 4-4-2, 4-2 -3-1, 4-1-4-1, 4-3-3… Sem Fluminense pra ver, restam especulações e
haja imaginação.
No último programa que participei no youtube, Leandro me fez essa pergunta. Quem são os titulares do Fluminense hoje? A resposta: Não sei.
E, quando se trata de futebol, desconfio muito de quem tem certezas sempre.
Odair chegou no clube há pouco tempo e recebeu um considerável número
de jogadores. Nesse período, enquanto buscava a melhor formação,
enquanto tentava criar as melhores conexões entre os jogadores,
enquanto tentava implantar um modelo, tudo parou.
A situação do Fluminense é muito diferente, por exemplo, da do
Flamengo, que já possui uma forma consolidada de jogar.
Quando a gente vai analisar futebol, é preciso tomar muito cuidado com
açodamentos e precipitações. Críticas pontuais sempre há, isso é do
jogo e não pode ser tratado como pressão sobre o trabalho.
É preciso diferenciar a crítica sobre a escolha de uma estratégia,
sobre a escolha de determinados jogadores com pedir a cabeça do
treinador.
Criticar Odair pela forma como o Fluminense caiu na Sul-Americana,
perdeu para o Figueirense e se comportou naquele primeiro tempo contra
o Flamengo (3 x 0), não é pedir para que o treinador seja demitido.
Quando um treinador vai definir uma escalação, ele precisa respeitar
um processo. Em primeiro lugar, ele define o modelo. Evidentemente que
nesse processo estão ali suas ideias de futebol, que guardam relação
com suas vivências, experiências, com sua história de vida e sua
personalidade.
Tá bom, mas o que é modelo? Jogar de forma ofensiva no campo do
adversário, jogar em transição, marcar pressão, marcar lá atrás? Isso
é modelo?
Nada disso e isso tudo.
Antes de definir modelo, vamos definir as fases do jogo:
Ataque – Defesa – Transição defesa-ataque – Transição ataque-defesa-
Bola parada.
Importante ressaltar que no jogo em si, essas fases não podem ser
consideradas separadamente, sem analisar o todo.
Exemplo prático: Um time pode defender bem porque pressiona buscando a transição, porque ocupa os espaços de forma inteligente (fechando
linhas de passe ou muito compactado) ou porque fica muito tempo com a
bola (ataque).
Reparem que a consequência “Defender bem” pode ter várias e diferentes causas.
Rodrigo Leitão (treinador e professor da Universidade do Futebol) –
que espaços ocupar, como ocupar esse espaço e como agir dentro do
espaço ocupado nos cinco momentos do jogo.
José Mourinho: Modelo são os jogadores, nos diferentes momentos do
jogo, pensarem sob a mesma perspectiva.
Exemplo prático: Time perde a bola. Num time com modelo de jogo
implementado os jogadores terão o mesmo comportamento. Ou irão
pressionar, ou irão recuar e compor linhas… Num time sem modelo
acontece o inverso. É comum vermos os atacantes indo pressionar e o
meio correndo pra trás.
Então, quando falamos em modelo, estamos falando de comportamento nas diversas fases do jogo. E, não nos enganemos. Nem tudo é
responsabilidade do treinador.
Comportamento no jogo nascem de duas formas:
– Intuição dos jogadores – e ela é formada por uma série de
variáveis: experiências prévias, ambiente, cultura, personalidade.
– Ideia do treinador para construir um modelo.
Quanto mais o trabalho avança, quanto mais se treina pra gerar os
comportamentos que o treinador quer, quanto mais os jogadores pensam
parecido ao longo do jogo, quanto mais a ideia do treinador ganha
espaço, vai sendo criado algo que chamamos de padrão de jogo.
Tudo isso foi falado pra justificar minhas dúvidas. É muito difícil
escalar um time, com jogadores que sequer vimos 3 ou 4 partidas.
Quantas partidas vimos de Araújo, Pacheco, Caio Paulista, Yago…?
E mais, se vimos, quando submetidos a novo ambiente, com novo
treinador e novos companheiros, tudo pode mudar. Pra melhor e pra pior.
Quantas histórias conhecemos de jogadores que se destacaram em
determinados times foram contratados e não renderam?
Quantas histórias conhecemos de jogadores desconhecidos ou mal
avaliados terem tido um ganho de desempenho em outro clube?
Isso mostra como o jogo de futebol é complexo e como o trabalho do
treinador também.
Imagina que o treinador precisa propor um treino que gere o
comportamento que ele deseja. Caso não aconteça, esse treino deve ser
modificado. Caso ocorra, é preciso saber em quanto tempo esse treino
(que funcionou) gerará esse comportamento no jogo. Agora pense nisso
pra cada fase do jogo. É muito trabalho de campo, vídeos, conversas…
Requer tempo.
Requer mais que isso, além de tempo, são necessários:
– Treinos que guardem relação com o jogo
– Profissionais dispostos a ensinar
– Jogadores dispostos a aprender, cada vez mais se exige da profissão
um jogador que não apenas treine e jogue, mas que viva o futebol em
todas as suas vertentes.
Avaliar tudo isso é um papel importante de uma gestão de futebol, até
pra saber se o trabalho tem futuro e pode resistir a algumas má fases
que certamente virão.
Dito tudo isso, vou tentar sair um pouco do muro e montar esse Flu com
duas formações, uma muito ofensiva e uma um pouco mais conservadora:
Marcos Felipe ou Muriel – até a parada, vantagem pro Marcos.
Na formação mais ofensiva, num tipo de jogo em que o momento de ataque
será predominante:
Linha de 3. Gilberto Nino Yuri. Gilberto e Yuri atacando corredores
por dentro e levando essa bola no ataque. Se a gente lembrar, o
primeiro gol contra o Botafogo sai de um corredor por dentro do
Gilberto.
Pacheco, Yago (André da base) Ganso Marcos Paulo Egídio. Meio com
toque de bola e que sabe jogar apoiado e com toques curtos. Assim que
eu gostaria de atacar.
Pacheco e Egídio abertos posicionados em linha com a última linha de
defesa adversária, gerando amplitude e com ameaça constante de atacar
espaços.
Nenê (Miguel, Welington Silva) e Fred (Evanilson).
Como disse acima, depende das melhores interações que ocorrerem no
treinamento e na sequência de jogos.
Reparem nessa formação que ela pode tranquilamente defender em linha
de quatro sem substituir jogadores.
Na formação mais conservadora, em jogos que o momento defensivo pode
ser determinante ou equilibrar com o momento ofensivo: Gilberto, Nino,
Claro (Ferraz) e Egidio. Yuri (André), Yago, Ganso (Hudson), Marcos
Paulo (Nenê), Welington Silva (Miguel, Pacheco, Caio Paulista). Fred
(Evanilson)
Nessa formação com o Gilberto apoiando mais por fora, pode ser
interessante a presença de Caio Paulista na direita, canhoto que vem
pra dentro abrindo espaço, pro apoio do lateral.
Do outro lado pode ocorrer o mesmo com Egídio e sua dupla que joga com
o pé direito. Duas formações básicas, muitas dúvidas com os nomes.
Tudo dependerá do que quer Odair e do que o campo “falar” pra gente ao
longo dos jogos. Com o tempo, as dúvidas irão dando lugar a maiores certezas.
Saudações Tricolores!