Foto: Reprodução/FluTV

A gente precisa começar a parar de tratar todo treinador como se fôssemos muito inteligentes e os caras idiotas.

Roger Machado está longe de ser um cara burro. Roger estudou, fez cursos, conhece futebol e possui na sua formação todos os instrumentos necessários para fazer um bom trabalho no Fluminense.

Se vai ser corajoso ou medroso, se vai jogar pra encantar ou manter o emprego, se vai ser refém do vestiário ou se vai ser meritocrático nas escalações, qual o modelo que utilizará nos 5 momentos do jogo (ataque, defesa, transições e bola parada), essas sim, são outras questões.

Mas capaz, ele é.

Portanto, vamos à mexida que pra grande maioria das pessoas determinou a derrota do Fluminense: A saída de Yago e a entrada do John Kennedy (JK).

O Fluminense joga com três jogadores no meio. Quando o Roger tira o Yago pra colocar um atacante, ele sabe exatamente o que vai acontecer. O Fluminense formará com quatro atacantes e o meio ficará, em tese, com apenas dois jogadores. Isso se chama comportamento de emergência.

Nesse caso, como a busca era pelo gol da vitória, o comportamento de emergência era ofensivo, visava gerar mudança no modelo, até então, implementado de forma a tentar aumentar as chances de fazer um gol.

Roger sabia também que aumentando a quantidade de atacantes, o número de jogadores no meio e a defender sua meta diminuiria.

Você pode agora estar pensando. Ah, isso é o famoso “abafa”, “atacar igual a índio” e outras denominações que se usavam antigamente.

Não deixa de ser. Mas a palavra comportamento, remete à organização. Porque no futebol atual, isso é treinado, gerado, para que o time, a partir de uma determinada ordem ou evento, passe a se “comportar” da forma que foi ensinado para essa situação específica (poucos minutos para buscar o gol). E por que deu tudo errado?

Pelas escolhas. E aí a gente vai precisar voltar ao time que começou o jogo.

Roger nitidamente resolveu começar a escalar o time que terminou o Campeonato brasileiro. Com Frazan no lugar do Luccas Claro. E aqui vem o primeiro erro.

A linha defensiva ficou muito desequilibrada. Calegari, Nino, Frazan e Egídio. Do lado direito, o lateral que marca melhor e o melhor dos zagueiros. Do lado esquerdo, um lateral que tem graves deficiências na marcação e o Frazan que, como todo respeito que o ser humano merece, é mal formado (lentidão, posicionamento, falta de leitura, coberturas) e não reúne condições hoje de vestir a camisa de titular do Fluminense.

Se vai escalar o Frazan, o correto era inverter com o Nino. Calegari, Frazan, Nino e Egídio. Com toda certeza o primeiro gol já teria sido evitado.

E talvez o segundo, numa bola enfiada, nas costas da defesa, que, com uma leitura um pouco melhor do zagueiro, poderia ter sido evitado. Um gol exatamente igual ao que o Fluminense tomou contra o Coritiba no 3 a 3 pelo Brasileiro.

Roger também demorou demais a mexer no time. Um sábado quente, um gramado um pouco mais alto que o do Maracanã, desgaste bem maior e jogadores voltando a jogar depois de algum tempo.

Nesse cenário Kayky e Gabriel Teixeira foram entrar em campo depois do 20 minutos. E o Fluminense melhorou, empatou e já alugava mais o campo do Volta Redonda, até a fatídica substituição.

Em tese, dá pra jogar com quatro homens na frente? A resposta é clara e óbvia: sim. A quantidade de jogos em que um time empata ou vira o jogo colocando atacantes é muito grande.

Em tese dá pra se defender apenas com cinco ou seis jogadores de um contra ataque adversário? Também sim. Roger errou menos no modelo e mais na escolha.

Tirou Yago. E trocou pelo Nenê. Porque a troca, amigos, foi essa, Nenê substituiu o Yago que ajuda muito o combate num lado esquerdo que já é extremamente fragilizado.

E olha o desequilíbrio gerado: Na direita, Calegari, Nino e Martinelli. Na esquerda, Frazan, Egídio e Nenê. Roger aprofundou uma situação de desequilíbrio que já foi criada na escalação. E tomou o terceiro gol pelo lado esquerdo.

No excelente livro “ Os números do jogo” na página 204 há uma passagem espetacular contada pelo excepcional Arrigo Sacchi no Milan. Na tentativa de conscientizar um elenco galáctico (Gullit, Van Basten, Rijkkaard e cia) da importância da organização propôs a eles um exercício.

Dez jogadores teriam 15 minutos para fazer um gol numa defesa com cinco jogadores. Escolheu os 10 jogadores: Gullit, Van Basten, Rijkaard, Ancelotti, Virdis, Evani, Colombo, Donadoni, Lantignotti e Mannari.
A única regra é que os cinco que defenderiam quando tomassem a bola e perdessem, os 10 jogadores teriam que começar o ataque de sua própria área.

E escolheu os únicos 5 defensores: Galli no gol, Tassoti, Maldini, Costacurta e Baresi. Na verdade era quatro de linha se defendendo de 10. Sacchi conta que ele propôs esse exercício um sem número de vezes e nunca os 10 conseguiram marcar sequer 1 gol.

O futebol, não adianta, é um jogo de ocupação de espaços. E pra ocupar de forma correta os espaços você precisa de mobilidade, velocidade e inteligência coletiva.

De modo que manter Frazan e Nenê e Egidio cansados entre esses jogadores acabou por inviabilizar o jogo do Fluminense e gerar um domínio absoluto do seu adversário que culminou naquele terceiro gol

Depois de terceiro gol ali em cima. Tinha 2 trocas a fazer, não fez e o Fluminense foi derrotado

 
 
 

Roger viu do banco o domínio dos caras depois da troca.

A pergunta é: Por que não intercedeu? Por que?