Na história, é muito difícil analisar os fenômenos no momento em que eles estão ocorrendo. A gente dificilmente tem o distanciamento necessário pra perceber as grandes revoluções.
Mas há uma ocorrendo bem debaixo dos nossos olhos que mexe com a estrutura do futebol brasileiro e com a forma como ele vem sendo concebido, muito influenciado pelo sucesso do jogo de posição. Fernando Diniz é o responsável por isso. Pelo nosso Renascimento.
Não mais o espaço como referência, como o centro do universo de um jogo de futebol. Agora, é ao redor da bola que tudo orbita. Ela, a bola, passa a ser a grande referência, o centro do todo.
Há, também, nesse processo de Renascimento, a humanização do jogador de futebol como pilar fundamental para a prática do modelo que se quer adotar.
Não foi fácil pro Fernando chegar até aqui. Rotulado de extravagante, de descompromissado com o resultado. Em vez de perceber o trabalho que vinha sendo feito, os processos, a metodologia, o que o campo mostrava, as pessoas preferiam focar única e exclusivamente em resultados, como se apenas eles pudessem ser analisados, como se um jogo de futebol devesse ser analisado do placar pra trás.
Fernando sempre foi competitivo ao extremo. Só que nunca abandonou suas convicções. A forma como ele entende que está mais perto de ganhar os jogos, é a que ele pratica.
Também aqui o nosso Renascimento atua. Porque ele muda o foco da análise. Cada vez mais, a gente está discutindo aspectos do jogo, a gente está conseguindo perceber que resultados não definem quem é bom e quem é ruim.
Ah mas tudo isso porque ganhou um Carioca…Amigos, percebam uma coisa. O Fluminense não “ganhou um Carioca”.
O que esse Fluminense fez naquele domingo, foi simplesmente, pegar um século de rivalidade, um sem número de decisões difíceis, equilibradas, decididas num detalhe e levar o jogo de um jeito (sempre tendo a bola como principal referência), que o seu adversário, um time multi-campeão de tudo nos últimos anos, parecia um time de outra divisão.
O Maracanã assistiu naquele domingo o maior atropelamento que se viu em uma final na sua história. Tendo em vista a diferença de orçamento, reflexo de um modelo pernicioso adotado pós implosão do Clube dos 13, esse jogo quebrou todos os paradigmas possíveis no mundo do futebol.
E aí depois veio outro jogo na terça, e veio outro jogo no sábado. E foram mais duas goleadas, 10 gols em três jogos, uma torcida absurdamente empolgada, outras boquiabertas com o futebol praticado.
E eu fico rindo de quem pede taça a tudo o que gente tem visto desde maio de 2022…
Esse Fluminense, como eu li outro dia numa rede social, ganha um título a cada jogo, a cada sensação que produz, a cada êxtase da arquibancada e isso é cada vez mais frequente no universo tricolor.
Eu não tenho a menor ideia se o Fluminense vai ganhar Libertadores, Copa do Brasil, Campeonato Brasileiro. Isso depende de “N” fatores que muitas vezes ninguém pode controlar.
O que temos é a certeza absoluta do que se viveu nesse último ano. Tem gente que diz que só viu na Máquina (que eu não vi), tem gente que diz que nunca viu nada igual… O fato é que Fernando Diniz e o seu Fluminense estão na história.
Daqui a 30 anos a gente vai contar pros filhos, netos, bisnetos tudo o que a gente está vivendo com um suspiro de felicidade.
– Ah, aquele Flu do Diniz…
Eu tenho 40 anos de arquibancada. Eu já vi o Fluminense levantar taça, perder taça, ganhar jogos, perder jogos, já me emocionei, já tive raiva, mas eu nunca vi nada parecido como esse Fluminense.
O Fluminense, esse Fluminense, é maior time de todos os tempos. Porque é revolucionário, quebra paradigmas e traz de volta toda a natureza do futebol brasileiro, tão machucada por tanta gente ruim nas últimas décadas.
E não é necessário título pra atestar isso. É só saber sentir, desfrutar, deixar-se apaixonar. A cada jogo, é a história sendo feita. Cada jogo vale mais que uma taça.
Amanhã tem mais. Saudações Tricolores!