(Foto: Mailson Santana - FFC)

Abel já ganhou muito, até campeão mundial já foi. No próprio Fluminense, ainda que com um timaço, foi campeão com rodadas de antecedência no sempre difícil Brasileirão.

Mas se é fato de que goza da admiração de quase todos do mundo do futebol pela pessoa que é, é também uma quase unanimidade como um treinador limitado, teimoso e pouco criativo.

 
 
 

É só perguntar por aí. Tricolores, rubro-negros, colorados. O nome Abel liga na nossa memória conceitos como retranqueiro e ultrapassado.

Abel já está na casa dos 70. E se de fato não é uma referência de trabalhos modernos e empolgantes, não me parece correto dizer que trata-se de alguém sem inteligência para explorar novos caminhos e se colocar na posição de alguém capaz de fazer melhor.

Mas nosso treinador não é teimoso apenas com o torcedor. Neste ano está sendo teimoso com seu próprio trabalho.

Odair, Oswaldo, Roger, Marcão. Caramba… Como era chato ver o Fluminense. Ganhando ou perdendo era sempre a mesma coisa. O pragmatismo, a covardia, o sentimento de inferioridade técnica e tática.

Quando Abel se viu obrigado a revezar o time, por conta dos jogos da pré-Libertadores, acabou achando um modelo de jogo muito interessante. Meio de campo bem povoado, com jogadores que se complementam, servindo atacantes velozes e um grande finalizador.

Por não contar no elenco com sequer um lateral de qualidade, achou por ali, no meio, um envolvente mecanismo de ocupação de espaços, que clareou jogadas com linhas mais compactas, que valorizou a posse de bola e que fez o Fluminense voltar a controlar o jogo, depois de péssimos treinadores.

O campo gritou. A torcida toda entendeu. Mas não era o time titular do Abelão. E aí, meus amigos, entra a teimosia, quase doentia.

Com os titulares, a escalacao de três zagueiros e um meio sem bons passadores obriga o escape pelas laterais. Laterais que – de novo! – nós não temos.

A bola não chega ao ataque, os adversários dominam o meio de campo e a torcida espera pelas substituições. Quase sempre são elas que nos dão as vitórias.

Abel enxerga isso? É claro. Mas por que diabos não rompe com o modelo que não vem funcionando e não vai funcionar nunca, em razão das peças que temos?

Controle de vestiário, necessidade de escalar medalhões, teimosia pura e simples, subserviência… Pode ser qualquer coisa.

Mas nada disso importa.

O que importa é que ele abrace o que ele mesmo criou. Ou descobriu.

Do contrário, morrerá abraçado ao fracasso que se anuncia. Afinal, time nenhum deste mundo pode abrir mão de 70 minutos por jogo e ser campeão de alguma coisa relevante.

E nós, que morreremos abraçados aos sonhos de títulos que temos, seguiremos julgando Abel Braga como uma ótima pessoa e um cara turrão, teimoso e desconectado da realidade.

Falta coragem ao Abel? Eu acho que falta. Sempre faltou. A patética e vergonhosa eliminação pro Olímpia sublinha o que digo.

Mas onde falta coragem não precisa também faltar inteligência.

E o queridíssimo Abel está sendo burro, pra usar um português bem direto. Bem burro.

Porque existem burrices e burrices. A pior delas talvez seja conseguir identificar o que é certo e mesmo assim abrir mão do que funciona para seguir insistindo justamente no que não funciona.

Abel não terá mais tantos trabalhos na vida.

Eu adoraria que este do Fluminense atual servisse para que ele deixasse uma impressão na torcida do seu time de coração diferente da que sentimos quando o vemos na beira do campo: coragem compatível com o tamanho do clube e compromisso com o acerto.

Acerto que ele mesmo conseguiu e que faz questão de ignorar em nome de uma busca que ele pode achar que é qualquer coisa.

Mas é só teimosia e burrice.