Algumas notas sobre o lamentável episódio de ontem:
– Pessoalmente eu não acho importante a questão dos lados das torcidas. Mas é absolutamente irrelevante o que eu acho, o que você acha, o que os presidentes dos clubes acham. O que importa é que na existência de um impasse, qualquer que ele seja, as diferenças devem ser resolvidas de forma aceitável.
– O impasse nasceu de conluio entre Vasco, FERJ e Consórcio Maracanã, usurpando um direito contratual do Fluminense. Ponto. O resto é narrativa diversionista.
– Ao contrário do que defendem Vasco e Consórcio, o contrato dá, sim, ao Fluminense a prerrogativa de sempre colocar sua torcida na parte sul. A tal exceção contratual depende de aquiescência do Fluminense para eventual mudança, na via de uma mediação, o que, evidentemente não aconteceu, já que o Vasco, na surdina e de forma premeditada, começou a vender ingressos para seu torcedor na área sabidamente destinada à nossa torcida.
– Mauro Darzé, CEO do Maracanã, foi simpático aos interesses do Vasco, posicionando-se contra o Fluminense, seu cliente por contrato. A imprensa não averigua, não sai da inércia, não corre atrás dos motivos, mas a verdade é que Darzé negocia com o Vasco o mando de mais jogos no Maracanã em razão de reformas a serem feitas em São Januário.
– Diante da truculência de Vasco, FERJ e Consórcio, Abad tinha duas saídas: ou abria as pernas e aceitava a torcida na norte, ou levava o caso até as últimas consequências. E aqui, amigos, uma pergunta: O que vocês fariam? Eu repito o que escrevi acima, não interessa o que achamos sobre o assunto. A questão passa a ser o desrespeito à instituição Fluminense. É algo com o qual não dá pra fazer corpo mole. Abad foi pro embate. E nisso fez muito bem. Optasse pelo outro caminho e seria chamado de banana até o fim do mundo.
– Fluminense ajuíza ação, consegue liminar e impede as vendas aos vascaínos do setor sul. Vasco descumpre totalmente a PRIMEIRA ORDEM JUDICIAL. Continua comercializando ingressos e seu presidente diz que a ordem não é executável, como se ele pudesse decidir sobre isso. Até esse momento nenhum ingresso vendido ao torcedor tricolor.
– Clubes se reúnem no sábado e decide-se que Vasco terá sua torcida na sul, independentemente de ordem judicial (pra que respeitar?). Abad deixa a reunião antes do fim e promete coletiva.
– Na coletiva, Pedro Abad vai muito mal. Até começa bem, mas vai se perdendo em respostas contraditórias e sem firmeza. Convoca seu torcedor para o jogo, diz que é guerra, pede engajamento, participação, mas fala que não vai abrir as vendas nas Laranjeiras. Ideia seria fazer em poucas horas o que o torcedor do Vasco fez em dois dias inteiros. No novo Maracanã, isso não dá. As filas são infinitas e pede-se de tudo. De cartão de sócio ao CPF, passando pela lentidão daquele sistema que gera as entradas. Abad pediu à torcida, mas jogou-a aos leões.
– E fez pior: manipulou todos nós. Porque ele pediu que fôssemos ao Maracanã comprar ingressos (tive amigos que conseguiram comprar nas ultimas horas de bilheteria aberta no sábado), enquanto aguardava a decisão judicial que veio a determinar que o jogo fosse realizado com portões fechados.
– Isso sem dúvida explica porque Laranjeiras não venderia ingressos. Mas não justifica a manipulação do torcedor. Muito mais digno teria sido dizer algo do tipo: o Fluminense ainda não desistiu de conseguir judicialmente uma decisão que seja favorável, mas é importante que o torcedor fique atento porque é possível que não a consigamos e nesse caso precisaremos demais de nossa torcida, e blá blá blá…
– Pois bem, na madrugada o Fluminense consegue decisão judicial em segunda instância, determinando jogo de portões fechados. Fluminense orienta que seu torcedor não vá ao estádio. Vasco deixa claro que quer que o seu torcedor vá.
– Começam a pipocar as declarações do presidente vascaíno dizendo que irá pagar a multa por descumprimento da decisão da desembargadora em flagrante violação à SEGUNDA ORDEM JUDICIAL. Não tenho lembrança de uma instituição, dentro ou fora do esporte, descumprir deliberadamente duas ordens judiciais em menos de 24 horas. Quem faz isso, em geral, é bandido fugindo da justiça.
– Com torcida nas ruas próximas ao Maracanã, Vasco tenta mais uma cartada. Reúne-se com secretário de estado, Ministério Público, Defensoria e FERJ para tentar convencer o juiz do JECRIM , de primeira instância, a abrir os portões. Isso evidentemente não acontece porque decisão judicial se cumpre.
– Aí surge novamente a truculência e o jeitinho de fazer as coisas na ilegalidade. Lembram que o Vasco fez questão de sua torcida no entorno do Maracanã? Pois aquele bando de torcedor do lado de fora – quem frequenta Maracanã sabe – começa algumas confusões. Nossa PM, treinada com técnicas de mediação e urbanidade na Finlândia, desce a madeira, joga os cavalos e solta aquelas bombas de efeito moral. Eu pessoalmente já vi esse tipo de coisa umas 100 vezes nos estádios. Mas ontem, na transmissão da Globo, teve até tela dividida para mostrar a confusão lá fora.
– O ambiente é propício para a seguinte narrativa: se não liberar a entrada da torcida ninguém sabe o que acontecerá fora do estádio. Bingo. Você pega um magistrado plantonista que não conhece Maracanã e pronto. Torcida pra dentro.
– Torcida, assim, no singular. Porque o consórcio só deixou entrar os vascaínos. Alegando que precisava de ingresso. Mas como o tricolor poderia ter ingresso se eles não foram vendidos? O resultado foi um time apoiado por sua torcida contra o outro jogando sem qualquer apoio. Isso tudo numa final de campeonato.
Amigos, Abad é um péssimo presidente, mas noves fora a feia manipulação do torcedor, fez tudo o que estava ao seu alcance. Tinha que ter ido até as últimas consequências e foi. Não pode ser culpado. Talvez apenas pelo fato de ser azarado.
O principal culpado nessa confusão toda chama-se Mauro Darzé, CEO do Consórcio Maracanã. Era nele que a brincadeira tinha que ter parado. Ele sabia do contrato e tinha que ter a grandeza de defendê-lo. Este país precisa de gestores que tenham consigam afastar suas predileções pessoais em favor de algo maior. Um povo que não respeita contratos, que não respeita decisões judiciais vai ficar eternamente amargando a falta de oportunidades, de investimento. Ninguém investe em cenários com insegurança jurídica.
O Vasco fez tudo na base do jeitinho, da malandragem de fundo de quintal, no malabarismo dos que querem fazer do seu jeito, dando de ombros para o desrespeito às decisões da justiça.
Mas quem mais me entristeceu nesse caso todo foi esse negócio que chamamos de imprensa. Como são fracos, na sua grande maioria.
O Fluminense tem um contrato que o legitima, teve duas decisões judiciais que o legitimam e essa imprensa de baixo nível vem falar que nós somos os culpados? Amigos, a transmissão da Globo de ontem foi VERGONHOSA. O Vasco é colocado como vítima. Como ser vítima se você descumpre o contrato, descumpre decisões judiciais, inflama a torcida para servir de massa de manobra para pressão mesmo com ordem expressa para o jogo com portões fechados?
E junto com a Globo quase todos os canais. Nas redes sociais uma horda de jornalistas fazendo gracinha, opinando sem sequer se darem ao trabalho de correr atrás da informação e fazer jornalismo de verdade.
Triste país que tem no futebol o grande retrato de sua desorganização e péssimos exemplos – incensados por uma mídia incompetente – de respeito às leis e instituições.
Segue o jogo.
CURTA
– Vasco nos venceu com um clima absolutamente favorável no Maracanã. Uma vergonha. Vergonhe que eles não terão. 1 a 0 sem um chute a gol. 1 a 0 em gol de cruzamento errado. Flu foi bem superior, mandou no jogo, ficou com a bola e criou três chances muito claras (Luciano, Gonzales e Everaldo), sem conseguir fazer o gol. Nosso elenco é limitado e isso vai acontecer mais vezes do que gostaríamos. Mas o trabalho do Diniz é muito bom e nos enche de esperança.