Quando o Fluminense anunciou as contratações no início do ano, já se sabia que uma delas viria pra ser titular: Keno. O Fluminense ano passado, na saída do Luiz Henrique, sentiu muita falta de um jogador de lado de campo, drible e poder de decisão pra romper defesas que se fecham contra um time que joga sempre em cima.
A reposição com Marrony não funcionou e Diniz precisou reestruturar o time. E como ele fez isso e manteve o Flu competitivo e jogando bem?
Primeiro com Matheus Martins. E essa reestruturação não foi apenas uma substituição simples. Saiu um jogador posicional e entrou um jogador que flutuava pelo campo tendo a localização da bola como referência.
Matheus fazia saída de bola, apoios, lado de campo e foi muito importante num time que abandonou o posicionamento tradicional pra se organizar e trabalhar em torno da bola.
Isso não mudou quando Diniz optou por Yago, num momento em que Matheus teve uma queda de rendimento no time titular mas continuou sendo um jogador importante saindo do banco. E o time, coletivamente, se acostumou a jogar dessa forma, num trabalho autoral do Fernando e reconhecido por todos como revolucionário.
Ainda assim, havia a impressão de que faltava sim, poder de decisão no terço final do campo. E Keno foi o cara escolhido pra fazer esse papel. Virou titular. E o Flu voltou a ter um jogador mais posicional e menos fluido no campo.
Mas Diniz fez mais mudanças que ficaram muito claras nesses últimos dois jogos. Diniz tem optado por um ataque mais posicional. Keno aberto de um lado. Árias do outro pra tentar alargar o adversário. Por dentro Ganso mais adiantado, por trás do centroavante, muito colado na última linha defensiva adversária. E isso não está funcionando.
Não funcionou no primeiro tempo com o Flamengo. Diniz muda e o time melhora no segundo tempo.
Mas ele aposta de novo nessa estrutura contra o Volta Redonda e não funciona de novo. E dessa vez, ele vai até o fim dessa forma.
Árias fez seu pior jogo no ano. Preso na ponta direita no primeiro tempo e em parte do segundo. Preso na ponta esquerda a partir da entrada do Marrony que foi jogar no lado direito.
Ganso mais adiantado não tem nenhuma condição. Precisa estar de frente pro jogo, precisa estar mais com a bola e organizar o time.
O Fluminense ontem (12), assim como foi contra o Flamengo, fez apenas uma jogada trabalhada que resultou numa grande chance de gol. Comparado a 2022 é muito pouco.
Há lógica na tentativa. Em 22 o Flu jogou muito bem com um Luiz Henrique aberto. Mas Luiz é um jogador muito superior a Keno e Ganso podia ir mais atrás que Nonato chegava toda hora na frente por dentro, característica que Martinelli não possui.
Depois, com a saída de Nonato e Luiz, a solução foi Martinelli e um jogador flutuando (Matheus Martins, depois Yago). E o time foi bem.
O Fluminense não fez reposição pro Nonato. Mas contratou dois caras que podem praticar a função que Matheus Martins e Yago praticaram em 2022: Lima e Gabriel Pirani.
O excelente trabalho de 2022 precisa de evolução e não de reconstrução. Voltar a usar o lugar da bola como referência. Trazer Ganso de volta pra organização, optar por um Árias mais fluido.
Se o Fluminense tivesse um jogador com poder de decisão altíssimo pelo lado, até valeria um sacrifício coletivo por conta dessa individualidade. Mas não tem. Keno não tem sido esse cara. E, portanto, a solução é o coletivo.
E o coletivo hoje pede a volta de um sistema menos rígido, como o Fluminense teve em 2022 no pós-venda de Luiz Henrique.
Tá muito clara a melhora do time sem David Braz e Keno, como foi no Fla-Flu e, principalmente, fazendo os jogadores trabalhem em torno da bola.
O jogo com o Volta Redonda foi de muita pobreza ofensiva. E ficou barato. Fábio fez duas belas defesas e Nino fez falta no gol do Fluminense. Keno pode ser mais útil entrando no segundo tempo.
O Fluminense de 2022 elimina esse bom Volta Redonda. O Fluminense travado de 2023 vai ter muita dificuldade.