A primeira coisa que a gente precisa falar sobre a estreia é isso: Amigos, o Fluminense foi prejudicado num lance que determinou o resultado da partida.
Eu sou um defensor do VAR. Acho que traz justiça pro futebol e até em lances interpretativos, dá muito mais respaldo pra tomada de decisão.
Mas o que foi aquilo ontem?
Everaldo faz o gol, num chute forte, no canto, o goleiro faz o movimento (o mesmo que faria caso o Luciano não estivesse ali) e simplesmente não alcança. Nem jogando a luva pegaria aquela bola.
A sala lá de cima chama o cara, que vai, olha a imagem, procura um toque do Luciano, procura, procura, procura mais e acha uma anulação que ele jamais acharia numa Itaquera lotada ou no próprio Maracanã caso o adversário fosse outro.
Simplesmente porque no dia seguinte seu nome estaria estampado negativamente em todos os canais de TV aberta e a cabo do país.
O Fluminense, caso o normal acontecesse, venceria o jogo, mesmo jogando mal.
Dito isso, a gente pode agora analisar o desempenho do Fluminense. Que realmente não foi bom.
No dia 02/03 o Manchester City venceu um jogo duríssimo contra o Bournemouth por 1 a 0. Na coletiva pós jogo, Guardiola dispara: ” … as pessoas devem entender como é difícil atacar 11 jogadores…”
Guardiola está no seu clube há três anos, escolhe seus jogadores e com os escolhidos impõe seu modelo.
No domingo seu Manchester City venceu outro jogo contra um adversário bem mais fraco por 1 a 0 também, com 70% de posse de bola, 605 passes completados e com um gol que o juiz deu por centímetros, nesse caso com o acerto da tecnologia; Há 2 rodadas do fim do campeonato, precisou da justiça que a tecnologia traz para continuar na liderança.
Voltando ao Fernando Diniz. Diniz, diferentemente do Guardiola, está no clube há 4 meses, não escolhe o jogador que quer e mesmo assim vem tentando implantar sua forma de jogar.
Ontem foram 68% de posse de bola, 561 passes e 33% de trocas no terço final do campo.
São números um pouco piores que os de ontem do City, modelo que Diniz se inspira, como ele próprio já disse.
Mas são bons números, já que 33% de sua posse no campo ofensivo é ótimo, ficar todo esse tempo com a bola livra o Fluminense de perigo por 68% do tempo de jogo.
Mas é preciso mais. Evidente que é preciso mais.
A gente apoia a ideia, a criação de um novo modelo e quiçá de uma identidade para o futebol que o Fluminense joga. A gente já chegou no estágio que é o padrão. Dá pra reconhecer o time do Fluminense em campo.
Porém é absolutamente necessário que Fernando, sua comissão, os analistas de desempenho e o Angioni trabalhem de forma integrada (existe isso no Fluminense?) para que essa ideia de jogo (que é apoiada por boa parte da torcida) seja alvo de constantes revisões, mudanças, flexibilizações para que deixe de ser apenas uma ideia e encontre no campo prático, sucesso na sua execução, algo que, definitivamente, ainda não ocorreu quando falamos de grandes jogos.
Pra que a gente possa começar a entender alguns erros eu vou usar dois conceitos aqui pra esclarecer a crítica que acho justa ao Diniz nesse momento:
Posição: é o que o jogador fala que é. Atacante, lateral, zagueiro…
Posicionamento> onde o jogador se posiciona em relação ao esquema tático da equipe.
Como o Fluminense fica muito tempo com a bola a escalação do Fluminense baseado no posicionamento dos seus jogadores passa a ser essa:
Rodolfo, Bruno Silva (cobertor do Gilberto), Nino, Ferraz e Caio. Airton, Allan, Luciano. Gilberto, Yoni e Everaldo.
Problemas: O time ataca com pouca gente. Nino, Bruno Silva, Ferraz e Airton fazem uma linha de 4 jogadores, que até impedem uma quantidade grande de contra-ataque adversário mas que, com a bola não agride, não rompe o meio e chega na frente.
Dois deles são zagueiros. Os outros, meio campistas que raramente rompem linhas de marcação. Dificulta.
Quando o Diniz mudou e colocou o Pedro, a direita com Gilberto e Yoni passou a ser tão explorada quanto à esquerda com Caio e Everaldo (o lado forte do Fluminense). E o time melhorou, teve chance e fez o gol mal anulado que garantiria a vitória.
Já passou da hora de barrar o Bruno Silva. E Diniz não faz isso ou porque está lhe faltando coragem, já que o cara é um dos líderes do elenco, veio do Cruzeiro (já disse aqui que a troca foi ruim) pra ser titular ou porque é teimoso.
Como acredito que Diniz é um cara inteligente, é fato que está tentando acomodar o Bruno no time numa função que ele possa ser útil e isso está cobrando um preço, principalmente nesses jogos contra times muito fechados e que o Fluminense precisa de mais gente que saiba jogar entre linhas e com pouco espaço.
Bruno não sabe. Bruno ontem deu 61 passes. Pros 3 de frente, teoricamente mais decisivos, Everaldo, Luciano e Yoni foram apenas 9, 8 pro Luciano que vem buscar mais atrás o jogo.
Bruno tem 32 anos, fará 33 daqui a pouco e alguns meses de bom futebol na carreira, pelo Botafogo, jogando em transição, num modelo muito diferente. Não pode e não deve ter esse status.
Fernando Diniz ainda é uma ideia. É um cara que pensa futebol acima da média, é corajoso pra jogar e precisa sim de tempo para implementar seu modelo.
Mas as ideias estão no campo abstrato. Trazê-las para o campo prático é o papel do treinador.
Diniz precisa de tempo para que isso aconteça. Cabe a nós garantirmos esse tempo. Mas não podemos absolvê-lo das críticas quando erra.
Errou contra o Santa Cruz. Errou ontem. Se a inspiração é Guardiola é necessário que dê atenção especial aos meio campistas.
Lembram da frase que coloquei aqui outro dia?
“Diga-me com que meio campistas andas e te direi que time és”
Esse meio campo trava seu time, atrapalha a execução do seu modelo e coloca seu trabalho em xeque.