Trinta minutos do primeiro tempo da terceira rodada do Campeonato Brasileiro: Grêmio 3 x 0 Fluminense. Terceira derrota em três jogos.

 
 
 

Quatro meses de trabalho do Fernando Diniz, treinador que vem tentando implementar um modelo de jogo diferente de tudo o que se viu anteriormente no clube e de tudo o que se trabalha nas divisões de base.

Ali, às 19:30 do domingo, parte da torcida do Fluminense pedia a troca do treinador.

Ali, às 19:30 de um domingo de maio, a palavra rebaixamento começou a ser incessantemente repetida ao projetar o futuro do clube num torneio que acaba em dezembro.

O texto de hoje vai fugir um pouco do campo e bola.

O que proponho hoje é uma reflexão pra nós, torcedores do Fluminense.

Eu começo pela conclusão, que seria a mesma caso tomássemos uma goleada: Nós precisamos defender o trabalho do Fernando Diniz. Nós precisamos entender que a construção de um bom time é fruto de um processo que envolve muitas variáveis e que leva tempo.

Tempo…

Não o temos. Jogamos três competições, jogamos quarta e domingo, viajamos. Como vamos atuar dessa forma se não há tempo pra treinar?

Mas quem determina esse tempo? Eu? Vocês? Os jornalistas esportivos?

Por que o Fluminense não tem tempo?

Eu começo dizendo: O Fluminense tem todo tempo do mundo. Todo tempo que quem estiver à frente do clube decidir ter.

Se há planejamento, se há convicção no modelo escolhido, se há confiança no trabalho do treinador, nas metodologias empregadas, se o que se busca é além de usar esse modelo no futebol profissional, usá-lo na base, com trabalho integrado a ponto de o jogador quando subir para o profissional não estranhar a forma de jogar, por que não dar esse tempo?

Se o Fluminense mudar de treinador ele vai ser campeão brasileiro?

Se o Fluminense mudar de treinador um possível rebaixamento será evitado?

Se o Fluminense mudar de treinador a vaga na Libertadores fica mais próxima?

Raymond Verheijen, treinador holandês, propôs uma interessante reflexão:

“No mundo do futebol, a maioria das pessoas quer proteger o status quo tradicional porque tem medo de se equivocar. É uma subsociedade primitiva na qual não se tolera críticas e onde as pessoas preferem preservar e defender ideias estabelecidas…”. E completa: “Falta fazer muitas coisas de maneira inteligente no futebol”.

Nitidamente há uma torcida, ainda um pouco invisível, para que não dê certo.

Amigos, é fato que a proposta do Fernando Diniz é um caminho mais difícil. Saída de bola limpa, jogo associativo, construção coletiva.

Isso num clube que, por gestões calamitosas, luta para pagar a salário.

O caminho, que já seria complexo num ambiente de boa gestão, ganha ares de impossível no Fluminense.

Mas a torcida comprou a ideia. Isso é um fato.

E se a gente como torcedor comprou a ideia, gosta de um Fluminense protagonista, por que não dar esse tempo?

Critiquemos pontualmente.

Escalar Airton e Bruno Silva juntos no meio campo contra um adversário que vai nos pressionar é um erro. Bruno e Airton são importantes em algumas situações, mas nessa específica possuem dificuldades notórias.

Escalar o Allan adiantado pra fazer um papel de meia e jogar de costas é um erro.

Tentar sair jogando pelo chão, sem bola longa, quando há 5 ou 6 jogadores adversários na nossa defesa pra roubar essa bola perto do gol, pode ser um erro em alguns momentos (perdemos do Santos assim).

Colocar o Yony pra fazer parte da função do Everaldo (corredor pelo lado acompanhando lateral) foi um erro.

Haverá outros. É um processo. Diniz está trabalhando com competições em andamento, com jogadores chegando, saindo, vai testar nos jogos e quando errar, o Fluminense vai perder pontos. Faz parte.

Mas a ideia permanece. A coragem pra jogar permanece. E essa eu apoio integralmente.

O que o Fluminense fez domingo, o que foi esse domingo?

Com qualquer treinador que tivemos no clube nos últimos anos, ao empatar lá em Porto alegre, o Fluminense recuaria e sofreria pressão o jogo todo.

O Fluminense, esse Fluminense, foi pra dentro virar o jogo. Virou, tomou o empate, sofreu pressão, mas nunca deixou de buscar a vitória, mesmo com um time e elenco inferiores. Isso é uma ideia.

Uma ideia que não tem como não apoiar. Porque é grande, é corajosa.

Na última quinta-feira, o excelente jornalista Carlos Eduardo Mansur, em sua coluna, lançou a seguinte tese com a qual concordo plenamente:

“O jogo mudou nos últimos anos, de uma era de conservadorismo para o surgimento de sistemas mais ofensivos. E o padrão do jogar bem mudou. O que talvez conduza a outro fator.  Grandes marcas perseguem um posicionamento, um lugar de destaque num mercado multibilionário. Nele, a disputa por interesse global é movida a astros e a um jogo atraente. Para tanto, futebol ofensivo se tornou uma fórmula perseguida”.

Ele falava da Champions League obviamente.

E eu trago para a nossa realidade. Na busca por um parceiro, um patrocinador qual o Fluminense que a gente quer vender?

O time que luta pra não cair, que joga se defendendo da segunda divisão, da torcida que está sempre apavorada ou o Fluminense que encara, que briga, que busca protagonismo nos jogos, não importando o adversário. O Fluminense corajoso com sua torcida que vai junto?

Terceira rodada. Quatro meses de trabalho. Paremos de falar em rebaixamento. Vamos falar em Libertadores.

A fala do Diniz antes do jogo está valendo pra nós também, vale para o Fluminense como um todo:

“Cada segundo, cada respiro, Vitória”

Amanhã é dia. Coloca a blusa, vai pra rua, estufa o peito, entra no Maraca e empurra esse time pra frente.

Não sei se vai ganhar. Nunca sabemos.

A certeza é a de que vamos jogar como grandes:

“Grande, grande, grande pacaralho”. Nada é mais Fluminense que isso.