Mil novecentos e noventa e oito. Em plena disputa de Série B, um garoto, então com 13 anos, rumava com o pai para a sede histórica do Fluminense. O objetivo? Comprar uma camisa tricolor, tão maltratada por aqueles gestores e seus antecessores. No alto de sua inocência, embora em profusão de hormônios devido à tenra idade, trajava a camisa do Athletic Bilbao.

2Uma camisa bonita, comemorativa dos 100 anos do clube espanhol. Ao chegar na Álvaro Chaves 41, barrado. Normas do Fluminense: proibido adentrar a sede com outro manto que não o Tricolor.

 
 
 

O jovem argumentou que andaria apenas alguns metros com a finalidade de adquirir o verde, grená e branco na Flu Boutique. Com esforço, o pai decidira presentá-lo com a camisa tricolor, dispender o suado dinheiro dele no clube, que, na ocasião, já pisava no seu torcedor. Afinal, depois de dois rebaixamentos, era penoso ainda ter de vibrar com Bruno Carvalho, Gil Baiano, Sérgio Alves e companhia.

Impedido. De camisa comum, o pai, muito contrariado, teve de deixar o filho louco em frente àquela que achava ser sua casa. Voltou para sua verdadeira residência com o prêmio nas mãos. Escudão do lado esquerdo, patrocínio da Oceânica à frente, MTV às costas e, posteriormente, choro por mais uma queda de divisão.

Em 2016, o maior ídolo contemporâneo do Fluminense, com semblante choroso, deixa o clube que garantia amar e que prometera encerrar a carreira dizendo não ser mais possível continuar. Dez minutos depois de pronunciar aquelas palavras vazias, utiliza as dependências da agremiação por onde marcou 170 e tantos gols, dois títulos brasileiros e um Carioca, veste a camisa de outra e, jubiloso, manda um recado acalorado para os torcedores do Galo mineiro.

O garoto cresceu. Ganhou uma profissão, formou seu caráter e entendeu o que é o Fluminense. Sofreu pra cacete, sorriu, se emocionou, vibrou, chorou…

O ídolo? Na visão de muitos deixou de ser. Talvez volte ao hall quando suspender as chuteiras negras. Para aquele menino de então 13 anos nunca foi. Quem bate, esquece. Quem apanha, não.