Técnico que passou pelo Fluminense entre 2014 e 2015, Cristóvão Borges está aproveitando o período de confinamento em virtude da pandemia do novo coronavírus para estudar e preparar sua volta ao mercado. O treinador falou em entrevista ao jornal O Globo como tem aproveitado o tempo em casa.
— Sou um cara que fico muito em casa, então eu me adaptei rapidamente. Mas, como tudo no Brasil, fizemos e estamos fazendo tudo errado. Vamos acabar tendo o maior confinamento do planeta. Mesmo antes da pandemia, como dei uma parada no futebol, já estava meio confinado. Estudo três vezes por semana, três horas por dia, em casa. Arrumei um parceiro de estudos porque não funciono bem sozinho. Estou tirando de letra o confinamento – iniciou, explicando de onde veio a vontade de iniciar tal período de estudos:
— Quando acabou meu último trabalho no Vasco, em 2017, eu não estava gostando do que estava acontecendo, do meu trabalho, dos resultados e do que meus times estavam jogando. Refletindo, decidi parar e buscar respostas. Nós, treinadores, sempre reclamamos da falta de tempo para treinar, do calendário, do desgaste, mas é reclamação que acontece desde que eu jogava, na década de 1980. Pensei em qual é a influência disso no jogo que estamos jogando no Brasil. Resolvi então me juntar a um amigo português (José Quadros), muito antenado, também treinador, e fomos estudar. Ele é meu auxiliar. Isso foi no começo de 2017, antes que digam que procurei um português por causa do Jorge Jesus (risos).
Cristóvão Borges comentou também o que tem sido tema de estudos entre ele e seu companheiro.
— De tudo. Estou sabendo de tudo que está acontecendo no futebol mundial. Estudamos todos os times, todos os modelos. As dificuldades que as equipes enfrentaram, as soluções que encontraram, que não encontraram. Conclui meu curso na CBF, da Licença Pro. Durante anos não tivemos quem ajudasse na formação, mas isso mudou. Participei de congresso da Confederação Espanhola, também estavam Mauricio Pochettino, Arsène Wenger, Seedorf – falou.
Sincero, Cristóvão Borges ainda mencionou quais aspectos não estava aprovando no seu trabalho, o que o fez circular por diversos clubes sem conseguir um trabalho mais longevo.
— Como treinador, me vi refém. Olha a rotatividade do futebol brasileiro. É muito grande. Você não consegue terminar um trabalho, definir um modelo de jogo, colocar ideias em prática. Temos em média três treinadores em um time por temporada. Isso tem influência no jogo. Ficamos reféns do que é menos difícil, que é o jogo reativo. Ele dá mais confiança porque é simples. Enquanto o mundo joga com variações táticas, estávamos presos. Isso está começando a melhorar. Em vez de reclamar, eu fui me preparar. Hoje, depois de três anos, estou pronto, eu me preparei para conseguir estruturar minhas equipes da maneira que eu quero no menor prazo possível. Na minha volta, tive uma experiência curta, mas que já me deu um feedback de tudo que investi – disse, mencionando a rápida passagem que teve pelo Atlético-GO.
Incrivelmente, Cristóvão ficou apenas nove partidas à frente do time goiano. Por lá, até teve um bom aproveitamento. O técnico atribui a rápida saída a um problema com o presidente do clube.
— Cheguei lá, o time já tinha disputado a pré-temporada e o primeiro jogo. Tive dois treinos para colocar a equipe em campo para jogar. Estávamos bem, vencemos o maior rival (Goiás) por 3 a 0, nos classificamos na Copa do Brasil. Mas mesmo com tudo isso, fui demitido (com seis vitórias, dois empates e uma derrota) porque existia incompatibilidade com o presidente. Adson Batista é um presidente personalista, que cuida do clube muito bem. Mas ele se assustou com a ofensividade.
Quando comandou o Fluminense, Cristóvão Borges esteve à frente da equipe por 58 jogos, com 28 vitórias, onze empates e 19 derrotas. Ele, em seus tempos de jogador, também defendeu o clube. O treinador era meia e atuou pelo Tricolor entre 1979 e 1983. Disputou 102 jogos, fez 26 gols e foi campeão carioca em 1980.