– Nunca fui convidado para trabalhar no Flamengo. Nunca. Tive uma conversa com a diretoria do Flamengo no fim de 2012, assim que acabaram de ganhar a eleição. Foi conversa sobre conceito de futebol. Não fizeram proposta, estava empregado no Coritiba na época. Conversaram com vários profissionais, e a acabaram contratando o Paulo Pelaipe. É um profissional que eu respeito. Depois disso, nunca houve conversa ou convite. Só especulações. Essa coisa de diretor cobiçado eu não gosto porque o futebol cresceu nessa questão da especulação. Personagens foram criados em cima desse tipo de especulação. Um diretor executivo não pode ser exposto dessa maneira. Acaba criando situações que inviabilizam o meu trabalho. Não recusei propostas de grandes clubes, aceitei continuar no Coritiba. Queria viver todos os ciclos. Tenho batalhado para tirar esse protagonismo da direção executiva.
Trabalho do Coritiba
– Agradeço demais ao Coritiba. Deu para mim uma oportunidade de desenvolver quatro anos de trabalho que sinceramente são muito raros nos dias de hoje. Profissional com esse nível de responsabilidade, de exposição. Poder ficar quatro anos. Não tenho nada a lamentar da minha saída do Coritiba. Foram muitas coisas implementadas que nunca mais vão sair do Coritiba. Só posso agradecer de ter participado, por ter conquistado quatro paranaenses, chegamos duas vezes na final da Copa do Brasil. Me capacitou para alçar um novo voo.
Projeto no Fluminense
– Eu tinha muita vontade de voltar para o Rio. Já estava na minha cabeça. Apesar de ser mineiro, tenho residência no Rio. O Fluminense era um clube que quando saí, acabei pedindo para sair em 2009, quando conversei com o presidente da época e com doutor Celso Barros, estava saindo para me preparar para voltar. Saí porque era o segundo numa escala hierárquica. Alexandre Faria era o coordenador e eu era o gerente de futebol. Fui para o Coritiba para dar um salto. Virei superintendente de futebol no Coritiba. O Fluminense conquistou dois brasileiros nos últimos quatro anos. Foi campeão da Copa do Brasil em 2007, vice da Libertadores em 2008. O Fluminense tem todas as condições, está num grande centro, está crescendo, se estruturando, investe, maior patrocínio dos últimos 15 anos. Qual clube tem um único patrocinador nos últimos 15 anos, que participa da gestão, contribui com isso? É extremamente importante. Espero continuar nesse processo de conquistas que o Fluminense teve nos últimos anos, contribuir para o processo de profissionalização que o clube vem fazendo nos últimos anos. Cheguei para um processo de acesso para a Série A, e em 24 horas tudo virou.
Reformução do planejamento com permanência na Série A
Essas estratégias de montagem têm de ser feitas de forma interna. O que sempre falo é que um clube como o Fluminense precisa ter sempre equipe forte, independentemente da divisão. Fluminense forte é obrigação. Da onde vem o investimento? São estratégias internas. Quem tem legitimidade para falar são essas pessoas dentro da escala hierárquica. O fato de o Renato (Gaúcho) estar aqui, é a quinta vez dele no clube, a certeza de que teremos uma equipe forte, dá segurança ao meu trabalho. Não tenho problema com esse processo, mas me resguardo. Não sou veículo para expor essas questões. Minha função é executar essas estratégias.
Mercado está mais complicado esse ano?
A renovação dos contratos dos direitos de televisão no final do ano de 2012 gera um aumento dentro do mercado, inflaciona o mercado. Principalmente na questão salário. É uma resposta natural do mercado. Quando isso acontece, é natural que a temporada que segue a esse pico seja uma temporada de retração. Quando tem excesso de consumo, gera inflação. Já era uma movimentação esperada. Cada vez mais a gente vê pessoas dentro dos clubes preocupadas com essa austeridade financeira, e isso é muito positivo. Precisa encontrar um meio termo para nivelar essa expectativa do futebol brasileiro. Todo mundo quer mudança de postura, mas o nível de cobrança continua o mesmo. A gente precisa encontrar uma fórmula para equilibrar esse processo.
Reforços a caminho?
Eu, como executor dessas estratégias, sou eu quem está no mercado executando o que patrocinador, vice-presidente, aquilo que definimos. Quando eu me posiciono sobre negociações, gero três efeitos. Inflacionando jogador, seus agentes sentem eles valorizados. Quando verbalizo isso e não consigo executar, cai num outro efeito: prometeu e não conseguiu cumprir. E tem o terceiro efeito: o atleta que está no meu elenco. Imagina o seu diretor comentando que quer um novo setorista. O processo é exatamente esse.
Recebeu carta branca no clube?
Ninguém pode ter carta branca no clube. Porque o clube é uma instituição centenária que tem poderes. Quando começa a dar para profissionais autonomia e soberania, está colocando essas pessoas em igualdade ou superioridade a instituições centenárias. Qualquer profissional precisa ter alçada de trabalho. A gente não pode criar personagens para funções. Autonomia é fazer por si só o que é determinado por alguém. Soberania é estar acima de qualquer coisa. Carta branca é soberania. Ninguém pode ter carta branca.
Relação com jogadores
Tenho muita necessidade de estar próximo. Acredito que 70% do meu trabalho ele vem da relação interpessoal, da confiança que estabelece com o atleta. Mostrar para eles que também sou profissional de futebol, que também sustendo minha família com dinheiro do futebol, que sou parceiro deles. É fundamental para o sucesso do trabalho. Como venho da área técnica, vivi minha vida toda dentro da equipes como atleta, auxiliar, preparador físico, supervisor, gerente, sei da importância do contato diário. Você não pode confiar com passo atrás e nem desconfiar com passo à frente. Precisa rapidamente criar relação de confiança. É fundamental. A gente precisa trabalhar a humanização de ídolos criados, precisam de apoio, saber que pessoas estão preocupadas com ele fora de campo. Tudo que acontece fora impacta muito no rendimento. É esse trato, esse feeling, essa percepção que nos dá capacidade de entender e compreender algo no futebol. Futebol é mais do que você sente, do que você vê. Hoje em dia, nem sempre o que está vendo é o que está acontecendo.
Cuidados com Walter
Eu não acredito que o Enderson (Morereira) era a única pessoa que fazia isso no Goiás com Walter para ter o desempenho dois dois últimos anos. Não quero assumir e não tenho pretensão de ser a pessoa certa para isso. Vou fazer o meu máximo com minhas características para isso. Todos terão responsabilidade para que não só o Walter, mas todos os atletas possam ter o melhor rendimento.
Cartilha do Ximenes
A palavra cartilha acabou ficando pejorativa. Penso que normas de comportamento dentro de um clube, manual de procedimentos, todos devem ter. O Fluminense já tem algumas coisas, com a chegada do Renato modificamos algumas coisas nas rotinas que o Renato tem, contribuí também dentro do que penso. Manual de procedimento e de filosofia tem que ser de clube. É o profissional que tem de se adaptar ao clube. O trabalho de diretor executivo é criar processos que fiquem enraizados no clube. A gente quer deixar práticas que possam perdurar por anos e anos de clube.