(Foto: Nelson Perez - FFC)

Gerente de geral das categorias de base do Fluminense e peça chave no departamento de futebol profissional do Tricolor das Laranjeiras, Marcelo Teixeira fez um longo texto em sua conta pessoal do Facebook para falar a respeito do trabalho que desempenha. Sem esconder o orgulho do processo adotado nas categorias inferiores do Time de Guerreiros, o dirigente destrinchou algumas das ações, através de sua conta pessoal no Facebook.

Confira:

 
 
 

Nos últimos dias a imprensa tem destacado bastante a utilização na equipe profissional dos jogadores formados nas divisões de base do Fluminense.

O clube chegou a uma marca impressionante de 18 jogadores utilizados esse ano e que foram formados em Xerém.

Escrevo esse texto por que gostaria de esclarecer e destacar algumas coisas e deixar claro que existe um projeto e uma filosofia por trás disso tudo que está acontecendo e sendo falado.

A chegada do treinador Abel e do gerente de futebol Alexandre Torres, ambos formados na base do Fluminense, e que hoje estão a frente do futebol profissional do clube, foram o ponta pé inicial para colocar em prática uma nova ideia de futebol no Fluminense. Uma nova filosofia.

Também é preciso destacar que esta utilização excessiva de jogadores formados em casa, está ocorrendo também muito em função das fortes restrições orçamentárias que foram impostas ao departamento de futebol. Sabemos que não se faz futebol apenas com jovens. Com atletas da base. Atletas experientes sempre serão fundamentais para qualquer projeto de futebol vencedor.
A nova gestão do presidente Abad, que iniciou em Dezembro de 2016, estabeleceu novos procedimentos de trabalho para o futebol, onde este terá que andar de forma totalmente alinhada com o departamento financeiro.
E assim, tendo que arcar esse ano com valores financeiros extremamente relevantes que foram assumidos em 2015 e 2016, o Fluminense viu seu fluxo de caixa para o ano de 2017 totalmente comprometido e bastante aquém de suas possibilidades de arrecadações. E com isso não restou outra opção para o clube, com objetivo de que as contas voltem a ficar equilibradas, que não fosse uma grande restrição financeira para todas as áreas e principalmente para o futebol.
O Fluminense só contratou um jogador em 2017. Sinto falta na imprensa de informações que destaquem quantos atletas cada clube contratou na série A. E quanto se gastou com essas contratações. Chega a ser inacreditável que um time com apenas uma contratação no ano, a custo zero, esteja conseguindo uma performance como a atual, onde por exemplo, o título do campeonato carioca diante de um adversário com um orçamento três ou quatro vezes maior só não veio por conta de uma arbitragem bastante infeliz no último jogo do campeonato.

E hoje começa a ficar bastante claro para todo o mercado do futebol que o trabalho realizado pelo treinador Abel Braga e pelo gerente de futebol Alexandre Torres + comissão técnica e demais integrantes do depto de futebol aliado ao projeto de base que começou a ser desenvolvido a cerca de três/quatro anos atrás, vem sustendo e fazendo com que o Fluminense tenha certo destaque no ano de 2017, mesmo diante de todas as grandes dificuldades citadas anteriormente.

E nosso projeto de base, que como citei começou a três/quatro anos atrás, pode ser considerado diferente do que vemos atualmente no mercado de futebol brasileiro.
Não sei dizer se é melhor ou pior, digo apenas que e diferente. Hoje existem vários clubes com excelentes profissionais fazendo grandes trabalhos de formação de atletas no Brasil. Impossível apontar que é melhor ou pior.

Mas o Fluminense seguiu um caminho diferente de todos. Um caminho próprio. Com objetivos definidos e bastante claros que tem como uma das metas criar uma identidade/marca própria de formação e desenvolvimento de atletas dentro do cenário do futebol brasileiro, sul-americano e mundial.

Criamos um Projeto de Plano de Carreira para os atletas formados na base. Criamos um Projeto Internacional. Estabelecemos um projeto de Performance junto com Michael Johnson Performance (que esse ano fomos obrigados a encerrar devido a restrições orçamentárias). Colocamos curso de inglês na base em parceria com a escola de idiomas Brasas. Assumimos o controle e a gestão total de um clube na Europa (cujo o custo anual representa a metade do salário de um bom jogador da equipe principal do Flu). Estabelecemos uma Metodologia própria de formação e desenvolvimento de atletas de alta performance. Fizemos inúmeras viagens internacionais com objetivo de qualificação pessoal e profissional dos atletas e profissionais da base do Flu. Criamos uma grande rede de Escolas de Futebol, Guerreirinhos, ligadas tecnicamente e metodologicamente as divisões de base do clube. Integração maior do futsal, através de métodos e plano de carreira para os profissionais do Futsal, com a Academia de Xerem. E desenvolvemos ainda diversos outros projetos de menor porte que também suportam e turbinam o processo de formação e desenvolvimento de atletas realizado em Xerem.

Seis pilares servem como sustentáculos de nosso projeto de formação e desenvolvimento de atletas: 1 – Filosofia e Gestão; 2 – Identificação de Talentos; 3 – Metodologia de Formação; 4 – Qualificação de Profissionais; 5 – Projeto Internacional; 6 – Infraestrutura e Tecnologia.

Tenho orgulho de destacar o lema que criei e que hoje serve como “Norte” para a filosofia e para o trabalho desenvolvido na base do Flu: “Faça uma melhor pessoa que teremos um melhor jogador de futebol”.

Essa filosofia está totalmente entrelaçada com a criação de nosso clube na Europa, onde possibilitamos aos nossos atletas uma oportunidade única de desenvolvimento pessoal (“Faça uma melhor pessoa e teremos um melhor jogador de futebol”) dentro de um país Europeu, através do aprendizado de uma nova língua (a língua oficial de nosso clube é o inglês e nossos atletas ao pisar em solo europeu recebem aulas diárias de inglês), vivenciar novas culturas (nosso clube está situado a uma distância pequena de capitais europeias importantes como Viena, Budapeste, Bratislava, Praga), experimentar novos hábitos alimentares, viver num clima e temperatura bastante adversa e completamente diferente do Brasil, conviver com pessoas (europeus) com mentalidade completamente diferente da brasileira, viver por conta própria e com isso assumir maiores responsabilidades em sua vida pessoal, distância da família e amigos e por fim, não menos importante, ter a vivencia e experiência dentro de um futebol totalmente diferente do brasileiro, onde as exigência físicas e táticas, principalmente, são muito mais fortes e complexas do que a que vivenciam no futebol brasileiro. Importante destacar que o treinador de nossa equipe na Europa é Europeu e com certificado UEFA Pro, grau máximo ofertado pela entidade maior do futebol europeu.

Vale destacar também que nosso clube na Europa ainda ajuda na Qualificação dos profissionais da base do Fluminense, que tem a oportunidade de “estágio” na Europa por períodos determinados de tempo. Hoje já são quatro profissionais da base do Flu com experiência de ao menos 6 meses de Europa.

O STK Fluminense Samorin, tem definido 8 objetivos claros num projeto que foi colocado no papel e que serve como base para todo o trabalho que é realizado.

E um desses objetivos, que é estabelecer e ampliar a marca do Fluminense no mercado europeu vem avançando de forma significativa.

Partindo para nosso terceiro ano de projeto, ainda um bebê recém-nascido, adotaremos a partir da próxima temporada um novo escudo na camisa que incorpora as cores verde, branco e grená, adotaremos o nome STK Fluminense Samorin, seguiremos usando a camisa do Fluminense em metade dos jogos, avançaremos nas transmissões dos jogos para o Brasil através da internet, avançaremos e intensificaremos o processo de comunicação única Fluminense Brasil e Fluminense Europa via mídias sociais, principalmente. Enfim, são diversas ações que visam divulgar o trabalho de formação de atletas e a marca Fluminense.

Um novo grupo de dez jogadores da base do Fluminense está em fase final de preparação para embarcar para a Europa nos próximos dias. Serão os próximos a beber da fonte STK Fluminense Samorin. Farão parte da equipe principal e equipe sub 19 na temporada europeia 2017-2018.

Serão os próximos a participar, como estamos dizendo internamente, de nosso MBA ou pos graduação na Europa.
Hoje no elenco principal do Fluminense temos o orgulho de destacar que diversos dos jogadores que começam a despontar na equipe, tiveram a oportunidade de passar por alguns dos projetos que citei acima.

Mais da metade desse atletas da base que estão no profissional do Fluminense tem ao menos o nível intermediário de inglês devido a um de nossos Pilares, o Projeto Internacional.

Satisfação enorme testemunhar o amadurecimento desse processo depois de um longo caminho percorrido.

Num texto que escrevi no começo desse ano, destaquei que todo o trabalho no futebol que envolve filosofia e metodologia para formação e desenvolvimento de atletas jovens, deve ser encarado como de longo prazo.

De forma prática, estamos a quase quatro anos construindo e desenvolvendo uma ideia de projeto na base do Fluminense. Está claro que muita coisa foi feita, porém está muito claro também que ainda temos muito o que fazer. Estamos talvez passando da fase de curto para médio prazo. O longo prazo ainda está a frente no horizonte.

E por saber disso, existem planos, objetivos, sonhos e claro, um planejamento de trabalho em direção a esse futuro. Em direção a esse longo prazo.

Porém o que é mais interessante e muito desafiador nessa história toda são os “issues” que temos que enfrentar e procurar endereçar da melhor forma possível para que esses projetos de longo prazo possam dar resultado, mesmo sabendo que quase todos eles são “issues” inerentes ao futebol brasileiro (e claro, muito prejudiciais a realização de um trabalho de excelência em formação de jovens atletas que sempre é de médio/longo prazo):

1 – Imediatismo – no futebol brasileiro, isso faz parte de nossa essência como povo que somos, o amanhã tem pouca importância. O hoje tem muita importância. Ninguém quer saber de projeto de médio/ longo prazo. Todos querem resultados imediatos. Não existe visão de futuro. Se não ganhou hoje, não presta. Se ganhou, é o melhor. A paciência não existe. O pavio é curto. Muitoooo curto por sinal.

2 – modelo político dos clubes – no Fluminense, alguns clubes pior, a cada três anos eleição. Eleição não, guerra. Nada importa nas eleições dos clubes que não seja a vitória nas urnas. “Um lado é excelente e o outro lado não presta.” Claro que isso afeta ou ameaça diretamente ou indiretamente qq trabalho de médio/longo prazo, já que constantes mudanças são realizadas nos deptos de futebol de acordo com os grupos políticos que vencem as eleições.

3 – situação social e econômica do país – esse ponto afeta diretamente o futebol brasileiro e a formação de atletas. Sabemos que a grande maioria de nossos jogadores vem de camadas sociais mais baixas. E temos inúmeros problemas sócias no país que afetam, principalmente, essas camadas da sociedade. Muitos dos meninos carregam problemas familiares graves que claro, afetam diretamente sua formação como ser humano, sua formação como pessoa. Temos um ensino público que não recebe a devida atenção das autoridades, que não recebe os devidos investimentos financeiros necessários. E se não tem atenção e investimento não pode ter alta qualidade. E assim, não conseguimos dar a educação necessária para nossos jovens cidadãos. E isso também afeta a formação como ser humano de nossos meninos. Quando tocamos nesse ponto fica claro o por que de nosso lema: ” Faça uma melhor pessoa e teremos um melhor jogador de futebol”

4 – ausência de um calendário nacional para as divisões de base – cada estado do país hoje trabalha da forma como entende. Seja no calendário de competições, seja nas regras dos campeonatos ou seja na atenção dada para as competições de base. São questões que interferem diretamente no trabalho de base que são desenvolvidos pelos clubes brasileiros.

Esses são pontos principais. Existem outros menores sem dúvida alguma.

Mas enfim, somos brasileiros. Estamos acostumados, lamentavelmente, a enfrentar problemas no dia a dia, que não deveriam nos ser impostos. Mas por um lado talvez isso seja bom pra gente. Somos mais “fortes”, mais criativos, mais batalhadores e mais insistentes. Talvez por isso temos os melhores jogadores do mundo.

Para finalizar, legal e muito importante destacar que todo esse trabalho da base do Fluminense só existe por causa de pessoas. Não vou citar nomes aqui por que senão ficaria o dia todo escrevendo, pois temos muita gente envolvida no processo. Um ambiente de trabalho sadio, alegre, motivador, desafiador, com pessoas dedicadas e apaixonadas pelo que fazem. Esse é o segredo por trás de tudo: pessoas.

Orgulho e gratidão a todos os envolvidos no trabalho de base do Fluminense são os melhores sentimentos que carrego comigo todos os meus dias”.