Quase um mês após a última postagem, a Flusócio publicou novo texto em seu blog oficial. Informou o motivo de o clube seguir atravessando um momento delicadíssimo nas finanças, mesmo com redução considerável na folha de pagamento do futebol. O maior grupo político de apoio à gestão Pedro Abad culpa administrações anteriores pela dificuldade econômica. Diz que a falha do próprio grupo foi na falta de diligência. Na última parte do post pede apoio da torcida e o fim da “pregação de ódio, de abandono nos jogos e de saída de sócios é algo que não ajuda a nossa instituição”. Confira na íntegra:
Pelas Três Cores
Há décadas o Fluminense sofre com graves problemas financeiros. Temos uma dívida de mais de R$ 631 milhões, construída ao longo de toda nossa história. Embora boa parte disso esteja embutida em refinanciamentos, é um fardo pesado demais para o momento do clube. O problema principal são as dívidas bancárias altíssimas, acima dos R$ 110 milhões, o fluxo de caixa comprometido e as despesas financeiras com juros e atualização monetária, que consomem boa parte do orçamento de aproximadamente R$ 220 milhões. Por exemplo, só com juros bancários foram gastos mais de R$ 11 milhões no ano de 2017.
A diretoria atual está se esforçando, embora ainda não seja suficiente. Para o ano de 2018, os poucos investimentos priorizaram jogadores escolhidos por scout técnico e sem custo de aquisição, tais como Nathan Ribeiro, Dódi, Gilberto, Jadson e Luan Peres. A folha de pagamento do Depto de Futebol, considerando jogadores, funcionários e encargos, precisou ser reduzida de aproximadamente R$ 7 milhões para pouco mais de R$ 3 milhões. Mas mesmo assim o Flu tem dificuldades para honrar seus compromissos. Os motivos são inúmeros, mas dentre os principais podemos citar os seguintes:
1) No início do ano, a Procuradoria Geral da Fazenda Nacional (PGFN) impôs ao clube um bloqueio de 30%de todas as receitas para pagamento de multa relativa ao caso Wellington Nem, vendido em 2013, transação que no entendimento da PGFN desrespeitou um bloqueio integral de receitas vigente na época, algo que na prática inviabilizava o clube. Mas o próprio Governo Federal já celebrou por lei acordos de refinanciamento (REFIS e PROFUT) das dívidas que deram origem ao bloqueio do dinheiro naquela época. Enquanto o Fluminense questiona a situação judicialmente, com esforço o clube conseguiu junto ao STJ, via liminar, uma redução para 15% do bloqueio atual nas receitas. Desta forma, o Tricolor conta atualmente com apenas 85% de sua receita orçada para 2018;
2) Em meados de 2017, o TJ-RJ decidiu impor ao Fluminense uma revisão no contrato que o clube possui com a Odebrecht. Com o Maracanã fechado e sem previsão de reabertura, o clube entrou na Justiça para fazer valer seu contrato nas vésperas da partida contra o Liverpool-URU, pela Copa Sul Americana. E conseguiu. Mas na sequência a empresa alegou desequilíbrio por conta da mudança no plano de negócios, com a retirada do escopo da concessão, por parte do Governo do Estado do RJ, do Edifício Garagem e do Shopping que estavam previstos para as áreas do Museu do Índio e do Célio de Barros, respectivamente.
O Consórcio Maracanã passou então a pleitear a cobrança de aluguel e outros itens que não estavam previstos no contrato inicial com o Fluminense, pois na prática sobrou apenas o “match day” como principal forma de remuneração do contrato de concessão. O TJ-RJ infelizmente acatou essa tese via liminar, impondo ao Fluminense um custo médio de R$ 480 mil para jogar no estádio, dentre despesas operacionais e aluguel de R$ 100 mil fixos por partida (para o CRF, o custo é maior). Com isso são necessários cerca de 17 mil pagantes, considerando ingresso de R$ 50,00 (inteira), para zerar os custos do borderô. Infelizmente, no campeonato brasileiro de 2018, apenas no jogo contra o São Paulo esse patamar foi alcançado; em todos os demais o Fluminense “pagou para jogar” com prejuízo médio de R$ 200 mil por partida;
3) Penhoras: Neste ano as contas do clube já sofreram penhoras para pagar alguns processos antigos, por exemplo, a dívida com o gerente financeiro Humberto Palma, principal executivo da gestão Horcades, e com o jogador Dieguinho, que atuou no clube em 2009. Outros problemas do gênero também aconteceram.
4) O mercado de patrocínios infelizmente segue recessivo com a crise que assola o país. Outros clubes como Vasco e Corinthians sofrem sem patrocinadores master e o nosso também atrasou algumas parcelas. Os patrocínios menores que eram expressivos, como a Frescatto, infelizmente tiveram que se desligar por conta do aperto financeiro.
5) Nosso número de sócios não é suficiente para fazer frente às despesas e nem para equilibrar em investimentos com nossos rivais, é preciso crescer neste item. A torcida é o suporte econômico da sua paixão em qualquer clube e se não for desta forma, investir torna-se um desafio quase intransponível.
6) Até o fim da parceria com a Unimed, que rescindiu com o clube em dez/2014, havia o investimento que provocava o sopro de competitividade que nos permitia sonhar. Mas desde jan/2015 o parceiro se foi, sofreu intervenção federal da ANS, e de uma hora pra outra o clube foi obrigado a fazer 100% do seu futebol sozinho. Essa saída sem transição também contribuiu para um aumento abrupto das despesas;
Hoje está claro que, em janeiro de 2015, o Fluminense deveria ter apostado em sua base e em reforços pontuais. A estratégia de elenco para 2018 precisava ter sido usada já em 2015. Mas a decisão de celebrar novos contratos caríssimos (e muitas vezes longos) com os jogadores que tinham patamar salarial Unimed agora cobra seu preço. Ainda houve aumento de gastos com Ronaldinho, Oswaldo, Cícero e Pierre, atletas caros que chegaram em meados do ano, na esteira dos recursos extraordinários oriundos da venda do Gerson, a melhor da história do clube, e das luvas do contrato Globo para 2019-2024. Em 2016, o padrão de gastos continuou com as contratações de Henrique Dourado, Henrique, Marquinhos, Richarlison e os equatorianos Sornoza e Orejuela, todos com elevado custo de aquisição. Apenas no intervalo entre 2015 e o início de 2016 tivemos cinco comissões técnicas, com todos os custos de rescisão que representam seus desligamentos. Ainda houve investimento alto no Centro de Treinamentos, este ao menos um ativo importante para a eternidade, e gastos elevados na adesão ao PROFUT e na quitação da dívida com o Porto pela contratação do atacante Walter. O grande problema foi fazer tudo ao mesmo tempo.
Nós da Flusócio também falhamos, pois poderíamos ter sido mais diligentes, assim como todo o Conselho Deliberativo da época, que era uma composição com os grupos Tricolor de Coração, Democracia Tricolor e Ideal Tricolor. Todos os principais grupos que hoje se apresentam como oposição tinham cargos no Conselho Diretor da gestão Peter Siemsen. São exemplos disso Cacá Cardoso (pertencente ao grupo Flu 2050, Vice Jurídico até 2015), Sady Monteiro Jr (pertencente ao grupo Tricolor de Coração, Vice Financeiro em 2015 e 2016), e Mário Bittencourt (hoje também integrante da Tricolor de Coração, Vice de Futebol de 2014 até o campeonato carioca de 2016). Embora hoje esteja claro que tais investimentos à época estavam sendo realizados com receitas que não eram ordinárias, ninguém atuou para impedir tais contratos. Pelo contrário, alguns dos que agora se colocam como solução foram tomadores diretos de muitas daquelas decisões. Hoje o clube infelizmente paga o preço delas em suas finanças.
Mesmo com o desgaste da perda de narrativa por também ter sido aliado na gestão anterior, o presidente Pedro Abad se propôs a dar o “cavalo de pau” que precisava ser dado, e vem mantendo o mesmo norte de redução de despesas para reequilíbrio orçamentário desde o início do seu mandato, além de manter uma única comissão técnica até o pedido de demissão do treinador Abel Braga.
Mas apenas reduzir o custeio não basta. O grande desafio é subir o patamar de receitas para atingir novamente o reequilíbrio econômico, algo que só será possível através de dinheiro extraordinário. Uma vez recuperada a estabilidade financeira, o Flu naturalmente voltará a intensificar investimentos para crescer de forma sustentável.
Se a torcida estiver junto, o Fluminense tem todas as chances de se reerguer. Sim, o clube já suportou situações piores e sempre será viável se todos os tricolores estiverem no mesmo barco, mesmo nos momentos difíceis. A pregação de ódio, de abandono nos jogos e de saída de sócios é algo que não ajuda a nossa instituição.