O Itaú BBA, banco de atacado, investimentos e a tesouraria realizou uma análise financeira dos 12 maiores clubes brasileiros. Constatou que quatro vivem situação preocupante: Atlético-MG, Corinthians, São Paulo e Vasco. Com relação ao Fluminense, a avaliação preliminar é a de que vem trabalhando com “os pés no chão”.

Veja abaixo o exame de César Grafietti, superintendente de crédito do Itaú BBA e responsável pelo estudo financeiro dos clubes brasileiros,com base em dados públicos, seja publicados na mídia ou divulgados por cartolas, sobre o exercício do último ano e o orçamento da atual temporada dos grandes nacionais:

 
 
 

ATLÉTICO-MG: Imprevisível

Prevê arrecadar R$ 45 milhões com venda de atletas. De fato já começou a fazer. Vendeu Pratto, nome importante, por R$ 21,5 milhões e atingiu metade da sua necessidade. Mas é um clube que costuma gastar muito. Ele está tendo de voltar ao mercado de vendas para recuperar um pouco do investimento que foi feito lá atrás e gerou um custo enorme, um custo incompatível com a capacidade de geração de receita do clube. O Atlético-MG é um clube que depende muito da televisão, muito da torcida. Tem um alcance de publicidade menor. Então, a venda de atleta para ele é fundamental. É isso que esta fazendo. Ao mesmo tempo contratou Elias. É uma gestão um pouco errática nesse sentido porque tem necessidade de confirmar que é um clube grande, mas ao mesmo tempo está numa região econômica mais limitada. O alcance do Atlético-MG é menor do que os clubes de São Paulo e Rio de Janeiro. Ele acaba fazendo além do que pode e isso gera esse desequilíbrio. Gera a necessidade de vender atletas para fechar a conta.

Gestão tem de ter muita cautela e conservadorismo. Eles vislumbraram a possibilidade de fazer dinheiro muito rápido com uma empresa completamente desconhecida no mercado. Esses saltos muito grandes têm um risco. Era melhor ter ficado com uma remuneração menor, mas mais estável, do que se arriscar. O Fluminense teve o mesmo problema, mas se saiu melhor.

BOTAFOGO: Boa surpresa

Ano passado, o Botafogo terminou melhor do que se esperava. É uma boa surpresa do final de 2016 para o começo de 2017. Até trouxe o Montillo, mas foi uma contratação pontual. A torcida está animada, está contribuindo, o time fez bom Campeonato Brasileiro com os recursos disponíveis. Ou seja, focou muito mais em uma boa gestão esportiva do que no gasto financeiro exagerado. Botafogo tende a ser uma boa surpresa nos próximos anos se mantiver essa capacidade de gestão e se entender onde pode chegar.

CORINTHIANS: Pressão financeira

O Corinthians anunciou que tem de arrecadar R$ 48 milhões em venda de atletas para ajudar nessa conta. Até agora não vi alguma venda. E teve algumas contratações, mas o clube gastou pouco. Vai aumentar o custo por conta de salário. Jadson é um jogador que vai custar caro. Alguns outros jogadores que vieram talvez não sejam tão caros, mas tem o Jô e alguns outros que vão aumentar o custo básico do Corinthians. Ao mesmo tempo, não gastou em aquisições e isso ajuda a equilibrar as contas. Mas o Corinthians vai continuar com uma pressão enorme para vender atletas no meio do ano. E se olharmos o elenco hoje não vemos um grande nome para ser vendido e gerar a receita necessária. Tanto é que não vimos nenhuma grande especulação em relação aos jogadores do time nessa primeira janela do ano. Isso significa que o Corinthians entra 2017 pressionando para vender atletas, pressionado porque tem de resolver os custos do estádio. Esse é o cenário para a atual temporada.

A análise do que o clube fez neste início de ano aponta uma conscientização. De certa forma, fez uma troca. Cedeu atletas, trouxe outros. Nada muito caro e dentro das possibilidades financeiras. Me parece que há uma visão dentro do clube de que é preciso fazer ajustes nas contas para ultrapassar os anos mais difíceis. Tanto que teve a história do Drogba, mas claramente tinha de ter um projeto de marketing por trás para ajudar no pagamento do salário porque era muita coisa para o clube na situação que ele está. Vai passar um 2017 bastante pressionado

CRUZEIRO: Sem prévia

O Cruzeiro não divulgou publicamente o orçamento da atual temporada. Por isso é um clube que não tem qualquer projeção feita pelo Itaú BBA sobre este ano.

FLAMENGO: Controlado

É clube que conseguiu controlar os gastos, os investimentos ao longo desses último cinco, seis anos, e agora tem condição de fazer as contratações que está fazendo, sem pagar com grande dificuldade os salários dos atletas.

FLUMINENSE: Pés no chão

É um clube redondinho. Não vem fazendo loucuras. Desde a saída da Unimed, a direção percebeu o tamanho que poderia ter de gastos. Esse ano liberou o Cícero para o São Paulo. Ou seja, aliviou a folha salarial. É um clube que tem uma visão mais moderna, mais profissional. Já vinha em um bom caminho. Deve seguir com os pés no chão.

GRÊMIO: No caminho

Neste ano, o Grêmio pode ser um caso interessante. Tem uma gestão profissionalizada, um CEO, foi campeão da última Copa do Brasil e fez uma série de controle de custos. Vendeu atletas, reduziu a folha salarial. Está fazendo um trabalho interno super bem feito. Ou seja, está em um caminho bem interessante.

INTERNACIONAL: Abusou dos erros

Os números de novembro já apontavam para um prejuízo de R$ 60 milhões. O Inter errou muito. Abusou do direito de errar. É um clube que vendia muitos atletas para fechar a conta. Sempre vendeu e vendeu bem. Até porque forma bem. Mas não teve vendas relevantes mo ano passado. Isso apertou demais o fluxo de caixa. Quando você entra nessa roda, ela não pode parar. No ano que ela para o clube se arrebenta. Você tem uma receita que entende ser recorrente, mas ela não é. Quando ela parar você vai atrasar salário, vai atrasar premiação. Vai atrasar tudo. Vai fazer dívidas novas ou vai atrasar.
O que eu senti agora é que mudou a gestão. É uma gestão que tem visão completamente profissional. São pessoas do mercado financeiro e que estão fazendo algo bastante profissional. Mas o Inter ainda vai passar apertado esse ano. As receitas caíram muito. O clube vai depender muito do programa de sócio-torcedor e terá de reduzir custos. Já dispensou o Alex. Vai fazer ajustes. A Série B é uma boa oportunidade para reduzir custos e você se reestruturar. Você consegue se organizar meio que obrigatoriamente.

PALMEIRAS: Ordem na casa

A questão da Crefisa como patrocinadora do Palmeiras é importante, mas tem todo um trabalho do Paulo Nobre [último presidente] que foi importante para colocar ordem na casa. É um clube que hoje tem mais governança, tem mais controle. A soma desses fatores é que permite o clube contratar tão bem. É claro que, nos volumes que ele está contratando, tem muito do suporte dado pela Crefisa. Seja via patrocínio ou com ajuda direta na contratação. Mas não podemos desmerecer o trabalho que foi feito.

SANTOS: Organização

Vimos uma melhor organização do Santos ao longo do último ano. Pelo que percebi dos números intermediários de julho, é um clube que conseguiu organizar seus custos, tem um elenco mais enxuto, não é um elenco caro, teve a entrada de dinheiro de TV e assim conseguiu colocar em ordem a dívida. Não vemos notícias do Santos atrasando salários. Não é um clube que fez loucuras. Não fez nenhuma aquisição que mudasse o patamar de custos dele. A minha visão é que o Santos conseguiu se organizar. Ele age de acordo com o que pode.

SÃO PAULO: Enxugando gelo

No fim do ano o São Paulo mostrou aos conselheiros um orçamento que precisava arrecadar R$ 60 milhões em vendas e ainda assim ficaria com um deficit de R$ 7,5 milhões. Na prática, tinha de vender R$ 67,5 milhões porque não existe divulgar orçamento com prejuízo, ou com deficit. Tem de divulgar no mínimo 0 a 0. Podemos até fazer uma conta simples: o São Paulo já vendeu neste primeiro semestre David Neres por R$ 40 milhões, sendo que pode vir a receber mais R$ 10 milhões no meio do ano, que depende de performance do atleta, número que ainda não dá para considerarmos. Então, são: R$ 67 milhões menos R$ 40 milhões do neres, menos R$ 5 milhões do Oscar, menos R$ 20 milhões do Lyanco, que é uma venda que dizem que já aconteceu. Vai sobrar R$ 2 milhões de deficit. Em tese, com isso o clube praticamente fechava a conta do ano. Teve de vender, vendeu, resolveu o problema e toca a vida.
Quando você trabalha numa empresa que tem necessidade de caixa estrutural, você vende ativo para resolver o problema. Vende um terreno, vende uma planta, para colocar o dinheiro em caixa e resolver seus problemas. O São Paulo está vendendo os atletas, os ativos, para comprar outros e para fechar a conta do ano. Vai chegar o ano que vem e provavelmente ele vai ter os mesmo problemas atuais. Do ponto de vista esportivo o torcedor deve estar feliz, e tem de estar mesmo porque foram boas contratações, mas do ponto de vista financeiro o São Paulo está enxugando gelo, está dando voltas. Continua tendo de vender atletas, atletas de potencial e ainda assim continua sem pagar a conta. Quando os dirigentes veem a público e dizem que o clube está com a situação semeada, eles passam a falsa impressão de que está semeada mesmo, mas sem estar.

VASCO: Futuro nebuloso

É difícil imaginar o que espera o Vasco neste ano. Temos pouca informação. Mesmos os balanços publicados são confusos. Pensando no que passou, temo pelo Vasco nessa gangorra. Já caiu e voltou. Caiu de novo e voltou. Temo, sim, pelo futuro.