No próximo sábado, dia 08 de junho, acontecem as eleições presidenciais no Fluminense. Na disputa, dois candidatos: Mário Bittencourt, da chapa “Tantas Vezes Campeão”, e Ricardo Tenório, da chapa “Libertadores”. Um dos dois será o mandatário tricolor no próximo triênio e assumirá o comando no dia 10 de junho. Ambos concederam uma entrevista ao portal Globoesporte abordando sobre diversos assuntos do clube. Confira a entrevista completa de Mário Bittencourt:
Você se intitula de oposição, disputou a última eleição contra Abad e não são poucas as suas críticas ao atual presidente. Mas há um passado de parceria com Peter Siemsen, ex-presidente que tinha como maior base de apoio a Flusócio, assim como Abad. O que mudou nesse período? Como explicar para o torcedor que de fato esse é um grupo diferente e com ideias diferentes para o Fluminense?
Todos nós que participamos da política atual do Fluminense – e quando falamos de um clube de futebol falamos de paixão, não estamos de partido político, por isso que sou contra os partidos políticos no Fluminense e não faço parte de nenhum e nunca fiz, você jamais vai ver o meu nome inscrito em qualquer partido político do Fluminense. O Tenório, por exemplo, que é nosso adversário, também foi vice-presidente da gestão do Peter. Meu caso é ainda mais de dedicação à instituição sem partido político porque eu trabalhei nas duas gestões do David Fischel, nas duas do Horcades e nas duas do Peter.
Só não trabalhei na do Abad. Quando a gente se intitula verdadeira oposição, é porque nosso discurso, desde o dia em que eu saí, é um discurso coerente. Eu não participei e não me aproximei da gestão que está saindo agora porque entendia esses últimos anos que a segunda gestão do Peter somada à gestão do Abad é a sequência de gestões mais catastróficas da história recente do clube. Não vou comparar, por exemplo, à ida para a terceira divisão, que aí foi a gestão da Vanguarda Tricolor, que virou Unido e Forte e que depois virou Frente Ampla, que hoje apoia o Tenório, com Antonio Gonzalez, que foi o vice-presidente que levou para a Série C, com Diogo Bueno, que foi o vice financeiro responsável pelas dispensas do whatsapp. Quando eu digo oposição, eu digo oposição ao discurso, oposição à gestão executiva do clube. Porque todos nós, algum dia, já convivemos até dentro da gestão.
E no meu caso, a ida para a vice-presidência de futebol não teve um caráter político, na verdade. Eu era advogado do clube e fui convidado na época pelo Peter e pelo Celso para assumir a vice-presidência de futebol, o Fluminense havia acabado de sair daquele problema do STJD, estava sendo massacrado – os torcedores diziam que seriam 19 clubes contra nós – e eu, por ter uma posição firme na defesa da instituição, fui colocado no cargo de vice-presidente de futebol muito mais para que o Fluminense pudesse ter à frente do futebol alguém de personalidade forte, que defendesse o Fluminense institucionalmente, para podermos enfrentar o ano de 2014. Aí quando sai o patrocinador, eu acabei ficando pelos mesmos motivos. Quem é que vai enfrentar a saída de um aporte que montava times importantes, fortes, e acabei ficando por causa disso. Mas todos nós, de alguma forma, já fizemos partes da gestão. Mas os dois candidatos de oposição em 2016 fomos eu e o Celso. A Vanguarda, que depois virou Unido e Forte e que hoje é Frente Ampla estava com o Abad, saiu no meio da gestão e agora volta para o lado de lá com a mesma colcha de retalhos. Ou seja, estão se juntando todos que sobraram para poder disputar a eleição.
Você foi vice de futebol entre maio de 2014 e fevereiro de 2016. Foi um período que englobou a saída da Unimed-Rio, então patrocinadora que investia e comprava direitos econômicos de jogadores que reforçariam o Fluminense. Ocorre que na transição para o retorno do controle do futebol ao clube, atletas – com parte dos direitos pertencentes à empresa – foram negociados. O volante Jean, por exemplo, vendido ao Palmeiras, entra na sua gestão. Unimed-Rio entrou na Justiça cobrando o que entende ter direito dessas negociações, ou seja, alega que não recebeu do Fluminense. São seis ações que totalizam R$ 35 milhões, informação que está no balanço financeiro. Por qual motivo o Fluminense não repassou o que era de direito da Unimed-Rio? Celso Barros, seu candidato a vice, era o então presidente da patrocinadora. Não existe aqui uma incompatibilidade, um conflito de interesses?
Com relação à decisão de repassar, cabia ao presidente do clube. O cargo que eu exercia não era de poder diretivo. O vice de futebol não tem nenhum tipo de ingerência sobre isso e sequer pode assinar contrato – estatutariamente é de responsabilidade do presidente. Essa decisão foi dele, na época, de não repassar. Não conheço, sequer, o teor dos processos. E quanto a participação do Celso, ele era presidente da empresa, salvo engano quando as ações foram ajuizadas ele já estava no período de saída dele, e hoje ele não tem nenhum tipo de vínculo, não é cooperado da Unimed e a cooperativa segue com as demandas dela em relação ao Fluminense e não há nenhum tipo de conflito. Conflito zero, justamente pelo motivo de ele não fazer mais parte. E estando à frente do Fluminense, por óbvio que o Fluminense será defendido, ainda mais de minha parte, que fui advogado do clube por muitos anos. Não há nenhum tipo de conflito com relação a isso.
Por ser advogado, saber dos riscos, não tinha margem para conversar com o presidente e alertá-lo sobre?
Acho que ele tomou a decisão na época muito baseado na questão financeira do clube. Acredito eu que ele tenha tomado uma decisão financeira. Não passou por nós. Não passou pela avaliação da minha parte jurídica – é um outro escritório que faz, inclusive – justamente porque havia uma posição minha de vice-presidente de futebol. O que, na verdade, a gente fez foi a venda do jogador. Há discussão sim, no processo. Não é uma discussão tão jurídica, ela é mais comercial do que jurídica. Porque terá de se fazer uma avaliação pela questão da valorização ou não do jogador. Não é uma ação de cobrança pura e simples, é uma discussão que passa por uma questão comercial de que se um jogador foi comprado por um valor e vendido por outro valor. Acho até que é uma discussão que passa por esse sentido, pericial até. Mas não conheço os autos, nunca peguei para avaliar.
O Fluminense atrasou parcelas do Ato Trabalhista, o que gerou risco de exclusão. No demonstrativo financeiro de 2018, há a confirmação da possibilidade de exclusão do Programa de Modernização da Gestão e de Responsabilidade Fiscal do Futebol Brasileiro (PROFUT) por atraso no pagamento de parcelas. Sem o pagamento de impostos, não há a emissão de Certidão Negativa de Débito (CND), fundamental para, por exemplo, patrocínio de empresas públicas e captação de recursos incentivados. O Fluminense virou réu, recentemente, em novas ações judiciais trabalhistas e cíveis que cobram pagamentos atrasados de jogadores, empresários e fornecedores. Isso gera as famosas penhoras. Tudo isso demonstra a grave situação financeira. Uma dívida enorme e o total comprometimento do fluxo de caixa, o dinheiro do dia a dia, o que resulta no atraso de salários. De onde vai sair o dinheiro para mudar a realidade? Qual o plano para reverter a situação?
Com relação ao Ato Trabalhista, até onde sei, as parcelas não estão atrasadas. O Fluminense vem pagando o Ato Trabalhista. A grande dificuldade é que a linha de corte do Ato Trabalhista é de novembro de 2011. Só entra no Ato os processos que foram ajuizados até novembro de 2011. De lá para cá, o Fluminense aumentou a dívida fora do Ato. E aquelas dispensas por whatsapp ao final de 2017, que geraram, com multas – que eles parcelaram e não pagaram – uma dívida de R$ 100 milhões só na área trabalhista. E o que acontece? O Fluminense paga R$ 1,5 milhão por mês fixo, tem uma parcela do ProFut, que aí sim está atrasada, que gira em torno de R$ 1 milhão, e, além de pagar isso e a folha salarial do clube e dos jogadores, o Fluminense tem penhoras que, somadas, chegam a R$ 100 milhões. E é isso que engessa o fluxo de caixa. Ou seja, eu tiro dinheiro de caixa para pagar os parcelamentos, as folhas salariais tanto do futebol, quanto de funcionários do clube, só que, diariamente, eu sofro penhoras de R$ 8 milhões, R$ 7 milhões, R$ 5 milhões. E é por isso que vocês acabam vendo que o clube vende um jogador, o dinheiro não entra, porque chegam essas penhoras e você tem que pegar dinheiro emprestado. O serviço da dívida desses empréstimos que o Fluminense pegou na gestão Abad, só de juros, são de R$ 65 milhões, justamente porque não consegue.
Como, então, candidato, a situação será tratada?
Nosso primeiro ato será tentar parcelar novamente os débitos trabalhistas, esses que estão fora do Ato Trabalhista. Ou seja, estender a linha de corte, para que possamos jogar isso para a fila. Obviamente teremos que aumentar esse valor. Porque se a gente conseguir, o tribunal não vai permitir que aumentamos a quantidade de pagamento sem uma contrapartida. E aí sim, alinhando o pagamento das dívidas trabalhistas – não gosto nem de usar a palavra equacionar, porque é organizar, hierarquizar o pagamento da dívida, porque aí eu sei quanto eu pago e não tenho mais penhora. E aí voltar a pagar o ProFut. Porque a gente não paga o ProFut? Porque temos a penhora nas contas e não tem dinheiro para pagar. É simples. Nós tendo fluxo de caixa, olhando e dizendo “vamos gastar X milhões por mês incluindo Ato Trabalhista, ProFut, salários, encargos, enfim, tudo isso, aí sim eu consigo atrair os investidores. A grande dificuldade que o Fluminense tem hoje de atrair investidores é que todo e qualquer plano financeiro que é criado, a taxa de juros é muito alta porque o clube não tem fluxo de caixa. Então quem vem, sabe que vai ter bloqueio e fala “vou emprestar, mas vou colocar a taxa de juros lá em cima para ter a garantir de, se o clube não me pagar, quando receber, receberei com muito mais vantagem financeira”.
A nossa ideia é hierarquizar o pagamento das dívidas, organizar as finanças do Fluminense. É muito simples eu chegar para vocês e falar: “vamos pagar, vamos ter alguém para botar um dinheiro”. Argumento demagógico de campanha. Temos que organizar o pagamento para que o investidor e até um patrocinador master olhe e diga eu vou botar meu dinheiro e ele realmente vai para o jogador, e não para as penhoras.
Tudo isso demanda negociação, candidato. Como?
E acho que a grande solução nossa passa pelo Sócio Futebol. Se conseguirmos fidelizar 50 mil torcedores do Fluminense a um tíquete médio de R$ 60, por exemplo – aí vai ter gente que vai ter plano de R$ 30, outro de R$ 40, gente que vai ter R$ 100, de acordo com a possibilidade de cada um. O Bahia, por exemplo, criou o Sócio Futebol chamado “bermuda e chinelo”, que é para pessoas que ganham apenas um salário mínimo e pagam R$ 20 para ver todos os jogos do Bahia. Conseguiram 5 mil novos sócios assim. Então se tivermos 50 mil tricolores sócios, pagando uma média de R$ 60, temos uma média de R$ 3 milhões por mês. Isso é muito mais que um patrocínio master. Não tem nenhum que pague R$ 36 milhões por ano a um clube de futebol. Acho que a recuperação financeira do clube passa pelo programa de Sócio Futebol, para que o torcedor, o Sócio Futebol, seja o principal ativo financeiro do Fluminense, para que possamos colocar para dentro muito Sócio Futebol e deixar bem claro que todo dinheiro investido pelo Sócio- Futebol será todo destinado para o futebol, como é nos outros clubes.
E para concluir, dizer que para tudo isso, trouxemos conosco um profissional, que é o Paulo Veiga, um tricolor de quatro gerações, que conhece bastante essa questão de finanças, do mercado financeiro. Ele que desenhou o plano para nós, com metas de curto, médio e longo prazos, para que possamos chegar e, de primeira, organizar o pagamento da dívida e, aí sim, ir ao mercado buscar o aumento do Sócio Futebol, um patrocínio master, a briga pelo aumento das cotas de televisão – se vencermos a eleição, o Fluminense será o clube que mais vai lutar para reorganização das cotas de TV, por uma melhor distribuição, e para isso defendo uma criação de uma associação nacional de clubes que discuta os direitos comerciais dos clubes em bloco – e cumprir nossa obrigação, pagando salários, pagando encargos, o que ajuda demais o desempenho do time.
No ano passado, o Fluminense arrecadou pouco com patrocínios no futebol, somente R$ 12 milhões. Em um clube com dificuldades, é uma fonte de receita que pode ser melhor explorada. Foi ao mercado conversar com possíveis parceiros? Já dá para prometer algo nesse sentido? Contrato com a Under Armour termina em breve. Alguma conversa com fornecedora em andamento?
Posso adiantar, desde que não fale nomes, porque existem questões de confidencialidade. Patrocínio master temos boas conversas com duas empresas que não me autorizam falar se eu não vencer a eleição. E fornecedora de material nós já recebemos uma proposta de uma empresa de fora do Brasil, e aí explico a vocês que não vou dizer o nome porque foi pedido para que não fosse dito o nome. E, sendo muito transparente, a empresa não procurou só a gente, procurou o Fluminense e os candidatos e pediu confidencialidade – a chapa adversária falou o nome da empresa, mas eu não vou falar, porque um clube começa a mostrar sua seriedade quando não usa essas coisas politicamente, e eu não vou destruir essa relação de início. E temos outras duas conversas com uma outra empresa de fora e uma empresa do Brasil. As conversas estão boas, diria até que estão avançadas, mas temos que conhecer o contrato com a Under. Sei que termina em dezembro, parece que já anunciou que não fica. Mas temos que avaliar até questões de multa se for já para sair agora ou se for para encerrar no fim do ano. Mas estamos bem avançados aí.
O Fluminense tem média de público de 12.474 pagantes nesta temporada. Já chegou a jogar para 2 mil pessoas neste ano, e o melhor público do ano não chegou aos 30 mil. Esses números preocupam? Com quais ações diretas você pretende trazer o torcedor tricolor de volta ao estádio?
A média é baixa, concordo. Acho que a relação do Fluminense com o Maracanã pode ajudar bastante. Porque a gente passa a fazer a gestão do estádio, e tendo um estádio para gerir você pode mexer em uma série de situações especialmente com relação ao próprio Sócio Futebol, ao marketing, enfim, construir situações onde você atraia o torcedor.
Mas acho que o retorno dos ídolos e de um time de futebol, que não necessariamente vai ser um time galático como já foi em outras épocas, mas um time de futebol que tenha ídolos, que tenha 3, 4 jogadores de altíssimo nível – e a gente tem que ser criativo, porque em razão da situação financeira do clube é importante que a gente tenha criatividade e conte com a vontade desses jogadores de voltarem ao Fluminense – acho que isso faz com que a gente tenha o torcedor de volta ao estádio. Então nosso plano para isso é fortalecer o programa de sócio-futebol e trazer de volta grandes jogadores, para que o torcedor possa ter vontade de sair de casa e ir ver o Fluminense brilhar.
E há outras ações como preço de ingresso e ações de marketing que podem fazer o torcedor voltar para o estádio?
Sim, sim. Quando falei sobre utilizar o estádio foi justamente isso. Criar situações muito vinculadas à questão do marketing para atrair o torcedor. Temos um projeto chamado “Casa Fluminense”, que é uma ampliação, uma adaptação do “Tricolor em toda terra”, que o Fluminense tinha – que a gente achava um bom projeto e não sei porque parou. Temos vontade de criar esse “Casa Fluminense”, que é uma espécie de evento nos dias de jogos do Fluminense. Quando o Fluminense for jogar fora, faremos um “Casa Fluminense” onde estiver jogando. E quando jogar no Rio, utilizaremos o estádio para fazer o “Casa Fluminense”, com questões interativas, lounge, shows, com participação do torcedor, no que chamamos de “Match Day”, para que o torcedor possa chegar ao estádio mais cedo, comprar camisa, ter ídolos autografando camisas até dentro do Maracanã mesmo. E há, inclusive, a ideia de fazer o “Casa Fluminense” em lugares específicos, não necessariamente nos estádios. Fazer o “Casa Fluminense” na zona oeste, na baixada, para que a gente atraia esse torcedor. Um dos nossos projetos é que se o torcedor for Sócio Futebol a participar do “Casa Fluminense”, o Fluminense coloque, por exemplo, transporte. Vans que levem ao jogo. Há muitas reclamações de gente que mora distante que há jogos à noite, por exemplo, que têm receio de irem sozinhas. Então, se o Fluminense montar uma operação que a van passe no bairro do cara e leve ao Maracanã, a gente crê que consegue trazer todo mundo de volta.
E os ingressos?
Questão do preço dos ingressos posso dizer que vamos batalhar bastante, para que a gente possa transformar o Maracanã, pelo menos nos jogos do Fluminense, em um estádio também popular. Acho que os preços dos ingressos, hoje, são inacessíveis a uma parte da população. Se você colocar uma conta de 4 a 5 jogos por mês ou o cara vai para o Maracanã ou compra leite para o filho. É por isso que alguns clubes do Brasil, como o caso do Bahia, já estão criando planos que possam atrair a parte da torcida com menos capacidade financeira. Isso vai ser uma bandeira nossa.
O voto online é outra bandeira a nossa. Importante destacar isso. Viajamos pelo Brasil palestrando e é incrível como o Fluminense tem uma boa quantidade de sócios fora do Rio de Janeiro – e podia ter muito mais. O que percebemos no torcedor de fora é que o maior orgulho dessas pessoas de serem sócios é poder votar, quer exercer a cidadania tricolor, participar do processo. E a distância do cara das Laranjeiras é difícil poder vir votar. Então queremos instaurar no primeiro ano de gestão, já desenvolver a ferramenta agora para chegar com condições de poderem votar.
Essa caixa-preta do quadro de sócios eleitores do Fluminense é algo que me incomoda bastante. Eu quero abrir isso de verdade. Temos que, lá na frente, se disputarmos novamente uma eleição, ganhar no debate de ideias, não com esses métodos ultrapassados e politiqueiros de segurar lista, de manter em uma caixa-preta. O voto online e o portal da transparência, que vamos criar, vai facilitar bastante para o torcedor ver um Fluminense claro.
Você mencionou “trazer ídolos”. Durante sua campanha nomes como Fred, Thiago Neves e Thiago Silva foram mencionados. Seriam alguns desses? Houve conversas?
Sim. Estamos pensando em trazer sim. Isso é fato público e notório. Não há nenhuma conversa do ponto de vista contratual, até porque todos estão empregados e jogando em seus respectivos clubes e seria uma deselegância de nossa parte negociar contratos ou valores nesse sentido. Mas há conversas sim com os três sobre a possibilidade da volta. Eu e Celso já falamos pessoalmente com eles. Já pensamos em montar algum plano que envolva, inclusive, a participação do sócio-torcedor entendendo que aderindo aos planos poderemos ter uma capacidade maior de trazer esses jogadores. Eles sabem, por óbvio, que as condições financeiras do Fluminense não permitem que eles retornem com valores muito altos, muito elevados. Por isso que eu digo que tem que ser uma vontade dos dois lados, os dois quererem retornar esse encontro. Posso dizer a vocês que os três já manifestaram o posicionamento que se um dia voltarem ao Fluminense vão entender nossas condições e vão retornar. Eu diria a você que pelo menos dois desses três a possibilidade é muito grande já para 2020.
Mas como contratar jogadores desse porte se o Fluminense não paga salários? Não faria nenhuma loucura, faria?
Lembra que eu falei de criatividade? A criatividade significa fazer com que eles estejam envolvidos no projeto de marketing do Fluminense, como vários clubes fazem pelo mundo. Aquisição você não vai ter. Então se falar na questão de finanças, nenhum deles virá para o Fluminense comprado. Até porque já estão em uma idade que dificilmente alguém pagará qualquer valor para tê-los. Então o que a gente imagina são operações que eles possam vir sem custo de aquisição e construindo parcerias, atraindo patrocinadores, para que parte dos salários, por exemplo, sejam custeados por alguma empresa, que até utilize a imagem deles, e montando um planejamento para que o sócio-futebol esteja engajado no retorno desses jogadores. E entendendo a realidade salarial do Fluminense hoje. O Fluminense hoje não tem condição de, vou falar especificamente do caso do Thiago Silva. O Thiago tem total certeza que os números que ele recebe na Europa são incompatíveis com o futebol brasileiro. Nem passa por essa discussão. Ele já falou que só volta a jogar no Brasil se for no Fluminense. Se ele quer realizar esse desejo – eu converso muito com ele através do Marcão, que é muito amigo do Thiago – e sempre que conversamos o papo gira em torno da questão da estrutura. Ou seja, ele gostaria muito de ter uma boa estrutura para ele poder trabalhar, até porque ainda quer jogar uma Copa do Mundo. Ele é muito correto, muito preocupado com a questão de estar engajado no clube que joga, também com a questão da Copa América, enfim. São conversas preliminares de amigos: “o dia que eu puder voltar, eu vou voltar para o Fluminense. E aí temos que montar situações em que possamos fazer com que o clube tenha condições”. E aí a minha principal ideia, quando ele fala em estrutura, e ele tem total razão, é que possamos concluir as obras do centro de treinamento, para que possamos ter uma estrutura melhor ainda para poder atrair esses jogadores novamente.
Você falou sobre voto online. Na última eleição, o último presidente do Fluminense foi eleito com 2.126 votos.
Apesar de ser uma votação que não parece expressiva, dos quatro grandes do Rio, por exemplo, o Fluminense é o clube que tem mais votos em sua eleição, porque abre para o Sócio Futebol, que já votou na última eleição. No Flamengo, que se intitula um clube extremamente popular, não abre para seu torcedor votar. Então, o Fluminense é muito mais democrático e popular que o Flamengo. E isso não tem nada a ver com clubismo, pelo amor de Deus. Estou analisando. No Vasco, creio que vote o Sócio Futebol. No Botafogo já não vota, tem uma média de 800 a 1000 votantes. O Fluminense teve mais de 4 mil votantes em 2016. Acho que essa eleição de 2019 será o grande divisor de águas. Porque 2016 foi a primeira vez que o Sócio- Futebol votou.
Até 2013, votavam só os sócios contribuintes e proprietários. Acho que a eleição de 2013 teve algo em torno de 1.900 votos. E em 2016, dos 4 mil que votaram, 48% já foram do Sócio Futebol. Além disso, os outros sócios contribuintes e proprietários, não podem ser lidos como não futebol. É o meu caso, eu sou sócio patrimonial do clube, não sou Sócio Futebol, mas sempre votei olhando minha relação com o futebol. Calculamos que dos outros sócios, metade são pessoas ligadas ao futebol. Acredito que hoje, para esta eleição, tenhamos cerca 65% de eleitores que vão votar ligados com o futebol. E como faremos para aumentar isso? Aumentando o programa Sócio Futebol e desenvolvendo o voto online para que o torcedor possa votar com uma senha, de casa, e tenha a possibilidade de decidir o destino do clube. Uma eleição como a do Inter tem um número de votantes absurdos porque o cara vota pelo computador. O cara ter que se deslocar até as Laranjeiras, sem ser voto obrigatório… Acho até que a eleição de 2016 foi uma votação expressiva. Foi a maior votação da história do clube.
Opositores da atual gestão criticam com frequência a concentração de poder nas mãos do presidente do clube. Isso é um problema? Acha que o Fluminense poderia ser mais aberto ou democrático?
Isso é uma questão estatutária. Ela não é centralizada do ponto de vista decisório. Ela é centralizada no ponto de vista de assinatura e aferição e tomada de última decisão. Como é que funciona um departamento de futebol, por exemplo? O treinador fala sobre um jogador, o departamento de scout apresenta os dele, o diretor executivo tem os nomes de interesse dele… São as pessoas técnicas. Quando isso chega ao vice ou ao presidente… É como funciona no meu escritório. Sou o dono, e as situações do escritório passam por mim para eu poder avaliar. Mas estamos sentados aqui fazendo a entrevista e tem 30 advogados no 10º andar fazendo centenas de defesas. E aí meu sócio assina ou eu assino. Passa pela gente, mas em 80% dos casos as decisões tomadas pelos advogados são referendadas por nós.
Muito importante fazer essa diferenciação porque não tem como o presidente saber no dia a dia de tudo o que acontece no clube, então, é uma questão de confiança nos profissionais do clube. Se a gente vencer, teremos o Celso no futebol, e essa é a grande vantagem da nossa chapa: ter um cara que vai ser eleito comigo para estar à frente do futebol para olhar, ter uma segunda opinião. Se amanhã o futebol decide trocar a comissão técnica, o presidente pode estar de acordo ou não. Se eu estiver de acordo, não significa que escolhi monocraticamente. Agora, que a gente precisa evoluir e há no nosso plano de gestão um Conselho Gestor, chamado de G6, onde estará o presidente, o VP Geral, mais trÊs VPs eleitos pelos outros VPs mais um consultor que vai ser o Paulo Veiga, quem vai cuidar das nossas finanças, acho que a tua pergunta está nessa linha. Dar subsídios para os presidente tomar as melhores decisões.
Agora, transformar o clube em empresa, com a atual legislação, é morte. A Lei Pelé prevê, mas nenhum clube faz. Por qual motivo? Todo mundo que virou SA, voltou atrás. Com a legislação atual, a insegurança jurídica é a morte. Hoje. Existe um projeto em Brasília, e sou apoiador para que se crie um Estatuto do Futebol e para que se crie um modelo empresarial do futebol. Aí, sim. Sem a concha de retalhos que é a nossa lei, podemos pensar em mudar a forma estatutária de o clube ser gerido.
O técnico Fernando Diniz continuaria no time? E qual é a avaliação sobre o diretor de futebol, Paulo Angioni, e todo o departamento?
Essa é uma decisão que vai passar pelo Celso e por mim. A gente tem falado muito sobre essa questão, não é a primeira pergunta que é feita em relação a isso. Até o momento desta entrevista, a gente acha que o trabalho é bom. Não só do Fernando como do Paulo. Agora, há logicamente a preocupação com a questão dos resultados. Mas nós entendemos que o material humano que ele tem pode melhorar. Ou seja, o time precisa ter algumas peças melhores para que a gente possa avaliar melhor o trabalho dele. Gostaria de ver o trabalho do Fernando com jogadores um pouco mais experientes e técnicos. Nosso elenco titular, dentro das possibilidades financeiras, por isso entendo que o Paulo fez um bom trabalho, é até superior às nossas condições. Pedro, Ganso… Caio Henrique, Gilberto… são jogadores bastante interessantes e técnicos. Agora, não existe nada no futebol que seja imutável. Ainda mais falando de um clube gigante como é o Fluminense. A princípio, até o momento desta entrevista, a ideia é manter toda a equipe que está lá trabalhando.
Pedro é o jogador mais valorizado do elenco. Recentemente, o presidente Pedro Abad se comprometeu a não vendê-lo antes da eleição, apesar do interesse de clubes do futebol europeu. É possível mantê-lo até o final da temporada?
Como torcedor, penso que ele não saia nunca. Gostaria que ele ficasse para sempre assim como o Marcos Paulo e o João Pedro. Como presidente do clube, eu prometo me esforçar para que eles fiquem o máximo de tempo possível. Quando eu digo isso, o torcedor precisa ter clareza, isso não depende só do clube. Depende do atleta também. Quando o atleta recebe uma proposta financeira… e aí há necessidade de falar em mudança de legislação. Antigamente, esse controle era muito mais do clube.
Agora, passa por uma decisão do atleta. Se ele recebe uma proposta salarial irrecusável, dificilmente ele vai querer seguir. A nossa ideia, minha e do Celso, é que o Pedro jogue no Fluminense pelo menos mais duas temporadas. Ele e os meninos. Mas isso não depende apenas da nossa vontade, caso a gente vença a eleição. Depende de uma série de situações financeiras. Eu acho que ele precisa inclusive voltar a performar no futebol brasileiro, após a volta da lesão. Ele precisa de, no mínimo, essas duas temporadas para chegar mais maduro lá. Caso a venda acontece no futuro, seja uma venda que a gente sofra com a saída do atleta, mas que tenha uma remuneração interessante. Vamos tentar mantê-lo, mesmo sabendo das dificuldades financeiras do clube e da força do mercado europeu.
Manterá a parceria com Flamengo e renovará a concessão do Maracanã?
Sobre o Maracanã: vamos renovar a concessão, sim. Vamos manter a parceria com o Flamengo, sim. O Fla-Flu é uma marca. Acho que esses dois clubes, nos últimos anos, não terem usado esse nome foi um equívoco. O Fla-Flu é o clássico, do ponto de vista de nome, eu arriscaria dizer, mais conhecido do mundo. Nunca me esqueço de uma entrevista que vi na véspera da Copa de 1998, na França, na qual um jornalista brasileiro perguntava a um francês o que ele conhecia do Brasil, e a resposta foi Pelé e Fla-Flu. Então, o clássico é muito conhecido. Vamos manter a parceria e utilizar o estádio, isso é uma das nossas propostas, torneios contra clubes de fora do Brasil.
Gostaria muito de conversar com o Maracanã para ver se existe a hipótese de, nos dias de jogos do Fluminense com nosso mando, a gente possa utilizar o nome do Nelson Rodrigues no estádio. É uma ideia semelhante a do San Siro e Giuseppe Meazza, em Milão, onde jogam Inter e Milan. Já que o Maracanã é dos dois e tem como nome Mário FIlho, um torcedor do Flamengo e irmão do Nelson, caberia a gente mudar o nome quando joga o Fluminense. Seria muito legal.
Para o longo prazo, tem a reforma de Laranjeiras. Como isso vai funcionar? Está alinhado com o grupo Laranjeiras XXI?
Com relação a Laranjeiras, eu conheço o projeto de revitalização. Existem pessoas que estão na chapa adversária que estão no projeto assim como existem pessoas que participam do projeto que estão na nossa chapa. O conselheiro Sergio Poggi foi quem me entregou o projeto para estudar. Eu gostei, o projeto não pode ser político. Tem de ser da instituição. Posso garantir que, se a gente vencer, vamos tentar reformar para que a gente jogue partidas com menos público, sabendo que existe documentação em vários órgãos e isso depende de uma série de questões burocráticas. Haverá apoio institucional, sim. A revitalização não impede ter, no futuro, um estádio próprio.
Mas aí tem de se pensar em um estádio do tamanho do Fluminense, entre 40 e 50 mil lugares. Em tese, então, não se precisa usar o Maracanã. O modelo do estádio próprio, defendido por algumas pessoas, de 19 ou 20 mil pessoas no Parque Olímpico, eu sou contra neste momento. Não há lógica em brigar por um estádio próprio com capacidade pequena, um pouco maior do que Laranjeiras e sem estudar a vontade e as possibilidades de o torcedor ir a esse estádio. O Maracanã é o estádio, creio que do mundo, com mais facilidade de acesso. Se chega de todo lugar. No meu plano de gestão, criei uma Diretoria de Assuntos Estratégicos para avaliar justamente essa questão da demanda do torcedor. Fazer pesquisa para ver onde se concentra a maior parte dos torcedores do Fluminense e qual seria o melhor local para ir ver os jogos. Hoje, continuo achando que o melhor lugar é o Maracanã. No futuro, se houver uma oportunidade de terreno em local acessível, incluindo Niterói, Baixada e Zona Norte, a gente pensa. Hoje a gente defende o Maracanã e a revitalização de Laranjeiras.
Laranjeiras como está no projeto, certo? Sem usar dinheiro do clube?
Isso. Sem o Fluminense investir. Não tem como. Quem não paga salário e imposto não tem como pensar em fazer outro equipamento. O que eu digo para todo mundo é… Tenho Laranjeiras abandonada, Xerém, CT, Maracanã e vou fazer outro? Pelo amor de Deus. As pessoas dizem: “o torcedor vai comprar as cadeiras”. Sim, mas e o custeio? Quem vai pagar a manutenção do estádio? Quem vai pagar os funcionários para fazer a manutenção? Quem vai pagar para cortar a grama? Para limpar os vestiários? Quem vai pagar a luz? Tem o custeio. É uma sandice.
CT foi inaugurado sem estar concluído. E continua sem estar. Planos para finalizá-lo?
Ele foi inaugurado sem estar pronto. Foi de maneira eleitoreira em outubro de 2016 sem nenhum quarto pronto, sem os três campos estarem prontos, sem a rua de acesso pronta, o que gera uma série de transtornos e vocês sabem disso. Então, olha a loucura: fizemos um CT e gastamos um caminhão de dinheiro com hotel. Pois, nos treinos de dois período, não tem onde o jogador dormir. Se gasta o mesmo dinheiro hoje quando se treinava em Laranjeiras.
É o que falo do equipamento: se cria um novo e gasta-se o dobro. Aliás, não gasta. Pois hoje vai aos hotéis, se hospeda e não tem condição de pagar. Há uma série de restrições de hotéis ao clube, eles não aceitam mais. Vamos acabar os quartos, vamos rediscutir o plano arquitetônico do CT. Conheço alguns muito bacanas pelo Brasil. O do Fluminense é o que tem a torre mais alta, a maior quantidade de andares. Os demais têm menos quartos. Vamos ver se vamos fazer aquela quantidade mesmo de quarto ou se vamos otimizar. E tem de reformar mesmo. Tem muita coisa pronta lá destruída por erros de projeto. Então, vamos arrumar isso e dar melhores condições de quem trabalha no Fluminense assim como quem exerce suas funções lá no dia a dia.
Avaliação sobre Xerém. O que acha do trabalho? O que pretende fazer?
É a joia do Fluminense, a joia da nossa coroa. De 20 anos para cá, melhorou muito. Mas pode melhorar muito mais. Principalmente em relação a estrutura. Hoje é organizado e limpo. É digno. No passado não era assim. Xerém pode ser ainda mais moderno. Temos alguns projetos. A lei de incentivo permite que se reforme o CT da base. Temos alguns projetos prontos para captar recursos para isso. Com relação aos profissionais que lá estão, o diretor Marcelo Teixeira saiu. A gente vai implementar lá trabalho com um novo profissional, estamos conversando com dois ou três da área.
Vamos avaliar, saber a quantidade de profissionais que lá estão. A gente tem uma ideia de criar uma coordenação específica para cada categoria. Não só ter uma coordenação geral, mas um coordenador para cada categoria. Vamos criar a VP de Divisão de Base. Xerém sempre ficou na VP de Futebol. Como o Celso ocupará a VP Geral e vamos suprimir a VP de Futebol, que ficará na mão do VP Geral, a gente quer que tenha um VP não remunerado que vá a Xerém todos os dias para nos repassar o que está ocorrendo lá. É humanamente impossível o presidente ou que quem cuide do futebol profissional pegue o carro e vá a Xerém todos os dias. Temos essa pessoa, ela estará acima dos profissionais contratados.
É muito básico o nosso projeto, mas o Fluminense não faz o básico. Sem fazer o básico, não se faz as grandes coisas. Criamos um modelo no qual em caso de venda de cada jogador formado em Xerém, um percentual que estimo em 10% seja direcionado para a base. Se Xerém nos deu o Pedro, eu não preciso ir ao mercado contratar um Pedro. É mais do que justo e inteligente tirar um percentual para investir novamente em Xerém. O custo de Xerém é de R$ 20 milhões por ano. Se faz uma venda de um jogador por 20 milhões de euros… e pega 10% disso, ou seja, 2 milhões de euros, que totalizam R$ 10 milhões, se paga 50% do ano de Xerém. Isso não é feito hoje. É uma ideia nossa e, em caso de vitória na eleição, vamos implementar.
Queremos ainda separar a conta de resultados. A conta de Xerém tem de estar separada do futebol. Assim, a gente tem como saber exatamente quanto custa. Xerém tem, do sub-11 ao sub-20, mais ou menos 250 atletas. Isso me preocupa. Tem muitos atletas emprestados, e o Fluminense, entre os quatro grandes do Rio, é o clube com mais jogadores registrados em contrato na CBF. Bem mais do que o Flamengo, um clube com mais poderio financeiro. Isso é preocupante e vamos olhar isso.
Outra coisa que o guarda-chuva do Marcelo Teixeira englobava era Samorin. Concorda com o projeto ou não? A direção já começou um processo de descontinuidade, mas ainda não efetivou – ficará para o próximo presidente. E o diretor da filial europeia disse que gostaria de conversar com o próximo presidente. Eles têm interesse em continuar com a parceria. Continua ou não continua?
Já encerrou. A direção encerrou. Isso é caso encerrado para gente.
Quanto você gastou na campanha? Houve apresentação em hotel e no Salão Nobre do Fluminense. Há a contratação de pessoal, distribuição de camisetas e de panfletos. Quem está pagando isso? Qual o custo total da candidatura?
Ela é feita por doações. Não temos o custo final pois é paga no dia a dia justamente pois as doações entram diariamente. Curiosamente, ela custa mais barata do que a eleição de 2016. É uma campanha de período mais curto, então, se gasta menos. O orçamento não foi fechado pois algumas coisas surgem no meio do caminho, como panfleteria e camisas. São doações de tricolores e de amigos. Tivemos, por exemplo, uma boa doação de camisas, de um tricolor quem tem uma malharia. Ele doou as camisas para gente diretamente. Depois, temos de saber quanto que custaria isso. Faremos um orçamento final disso.
A equipe que se doa na campanha é de forma gratuita. O Eduardo Mitke, o Luis Monteagudo, o Douglas Branco… são pessoas que se doam gratuitamente. Tanto que as nossas reuniões de campanha acabam 2h, afinal, as pessoas saíram dos seus trabalhos. São todos conselheiros. Os custos ainda têm a festa, que o mais caro foi o aluguel do Salão Nobre do clube. Gastamos R$ 14 mil nisso. E tem ainda a equipe da agência que faz os nosso vídeos, a mesma da campanha de 2016. É isso. O custo não é nada perto do que é dito pelos opositores, que falam em milhão. Posso dizer que não chega nem perto de ⅓ disso.
Sobre sua relação com Ricardo Tenório. Vocês trabalharam juntos em 2009. Você como vice, ele como gestor de futebol. Ele te sucedeu como vice de futebol na gestão Peter em 2014. Você foi vice na chapa com ele na última eleição, e até pouco tempo concorriam juntos para esta eleição. O que aconteceu nesse meio tempo para vocês romperem e porque você que tomou essa iniciativa?
A saída dele está mais do que explicada. Não é um ataque, mas é uma realidade: ele tem projeto pessoal de ser presidente do Fluminense. É justo, lícito e democrático. A gente vinha juntos há um ano com o Celso. O grupo todo, incluindo nós três, o de apoio e do Celso, entendia que os critérios para concorrer à eleição deveriam ser técnicos. Especialmente com critérios de pesquisa. Nisso ficou muito claro que, dos três, ele não era o candidato naquele momento com melhores condições de concorrer com adversários possíveis. Curiosamente, esses adversários estão com ele agora. Ele queria impor a sua vontade unilateral dizendo que a gente teria uma candidatura única e que não haveria oposição. Curiosamente, ele está do outro lado com essas pessoas que ele dizia que não iriam concorrer ao pleito. A gente tinha uma avaliação criteriosa para isso.
O que nos chateou foi a forma como ele fez. Em uma segunda-feira, tivemos uma reunião. Ficou combinada uma reunião para a semana seguinte na qual dividiremos a cabeça da chapa, ele apertou a mão de todos e dois dias depois soltou uma nota para a imprensa dizendo que estava saindo pois não concordava com as nossas propostas e os nossos métodos. Mas durante um ano ele concordou, não? Mudou de ideia nos últimos 40 dias. É um direito dele.
Então não considera ter havido traição?
Não. Foi uma decisão dele. O mundo da política é de gente grande, de pessoas que entendem a vida com questões de momento. Ele entendeu que deveria ir sozinho. Não acho que houve traição. Acho que ele foi imaturo de sair de um grupo consolidado para concorrer sozinho e mais imaturo ainda para se juntar com pessoas da velha política do Fluminense e do Rio de Janeiro, pessoas que passaram pelos governos Garotinho, Cabral, Pezão. Políticos com condenações por improbidade administrativa, transitada em julgado.
E qual é a principal qualidade do seu adversário?
A maior qualidade dele se encerrou há 40 dias. A maior qualidade dele era estar junto de um projeto de recuperação do Fluminense. A partir do momento que ele sai para surfar essa onda pessoal, essa qualidade de pensar o Fluminense em bloco deixa de existir.
O Fluminense não disputa uma Libertadores desde 2013. Nos últimos anos, perdeu protagonismo no cenário brasileiro. Pelo que o Fluminense brigará nos próximos três anos e meio de uma eventual gestão sua?
O Fluminense tem de brigar por tudo o que for disputar. Todas. Turno, Taça Guanabara, Taça Rio, Carioca… O que é importante é ser transparente: com a diferença de receita nos clubes, ganhar o campeonato de ponto corrido se torna mais difícil. A quantidade de lesões em um campeonato de nove meses.. um clube que não tem pelo menos, e falo com conhecimento de causa por ter sido VP de futebol em 2015 tendo perdendo 13 jogadores de alto nível, 22 jogadores de alto nível, a chance de vencer nos pontos corridos é menor. Na Era do Brasileiro de pontos corridos, o campeão sempre esteve entre os quatro clubes que mais gastaram dinheiro.
Se no futuro aumentarmos a nossa receita e pudermos formar um elenco de alto nível, o Brasileiro será novamente o nosso alvo. Hoje o Fluminense precisa focar nas competições de mata-mata e no Carioca. Precisa disputar a Copa do Brasil como se fosse a sua competição de maior visibilidade. A CBF já a premia melhor do que o Brasileiro. Temos de buscar a Libertadores, que é uma obsessão minha e de todo o tricolor. Até vai parecer um contrassenso: com o tamanho da receita hoje, o Fluminense tem mais possibilidade de ganhar a Copa do Brasil, a Libertadores e a Sul-Americana do que o Brasileiro.
São menos jogos, a torcida faz diferença e, por vezes, se classifica para a Libertadores em uma condição de estar em um grupo mais difícil, mas são campeões de outros países que já desfizeram os seus times. A nossa meta é voltar a ser campeão carioca. O Fluminense ganhou quatro nos últimos 30 anos. É um absurdo para um time que até pouco tempo era o maior campeão estadual. Além de centralizar no mata-mata, tem de ter cuidado mínimo e equilíbrio de não largar o Brasileiro. O Fluminense não pode se dar ao luxo de ter uma queda abrupta de cota caso acontece um revés de não ficar na primeira divisão. Se cair, a receita vai para o lixo. Eu fui contra ter poupado jogadores afora em Curitiba. Não podemos ter sete jogos e cinco derrotas no começo do Brasileiro. É perigoso.
O Conselho Diretor muda agora, mas o Conselho Deliberativo continuará o mesmo até o fim do ano. Como fazer para governar nesse período com tantos conselheiros de oposição? Já iniciou esse diálogo? Qual é a resposta?
Abad não nos procurou até agora, acho que deveria ter feito. Deveria ter procurado os dois candidatos para falar da transição. Mas acredito que, em caso de vitória nossa, poderemos conviver com os profissionais do clube por pelo menos 30 dias para receber as situações.
É o que se tem no momento sobre o Conselho. Tem de se conviver com o atual. O que me preocupa é que o presidente do Conselho Deliberativo, Fernando Leite, presidente da Assembleia Geral, quem criou as regras da eleição, é o conselheiro número um da chapa adversária. Não faz questão de esconder isso. Ele tem causado uma série de problemas a nós, com relação à foto da urna, a questão dos números, a questão da lista. Ele pode ter a preferência de voto, mas é um absurdo o presidente que vai coordenar a eleição declarar abertamente, usar camisa do candidato e fazer parte da chapa de um candidato. Se a gente vencer a eleição, teremos um presidente do Conselho da chapa adversária e mais um Conselho do atual presidente. Vamos ter de ter muita habilidade. Vai ser complexo e trabalhoso instalar os pilares de governança que queremos nesses meses. Pretendo ir preparando o clube e espero que o diálogo prevaleça.
Quais os planos para reforma estatutária?
A principal mudança é a questão do centro de resultados. Não chamo de centro de custos, afinal, conversando com as pessoas da área, o conceito moderno é centro de resultado pois há receita e despesa. A principal mudança é a questão de dividir as receitas. Do futebol é só do futebol, as receitas do olímpico é do olímpico.
Nomes da equipe?
Temos alguns nomes definidos e vamos anunciá-los. Se comparar com as eleições convencionais, um presidente da República anuncia seus ministros após a posse. Ainda não sou presidente do Fluminense. Além disso, os nomes têm de ser aprovados no Conselho Deliberativo. Tem de ser votado. Temos mais de um nome para cada cadeira. O VP de futebol de base será Rui Reinzger, que já foi diretor de base no passado e foi colocado para fora pela atual gestão. O VP jurídico será um advogado renomado do Rio, especialmente na área criminal e tributária, Heraldo Yunes. Paulo Veiga vai cuidar das finanças, mas não será o VP. Teremos um vice. Ele será o nosso profissional dedicado ao Fluminense para isso. As outras anunciaremos em caso de vitória. Além dessas, o Celso cuidará do futebol, o que já anunciamos.
Na gestão de VP de futebol, entre maio de 2014 e fevereiro de 2016, havia a Unimed-Rio como patrocinadora. Ou seja, o clube tinha maior poder de investimento. Em 2015, já sem o parceiro, a transição foi feita com as contratações de Marlone, Victor Oliveira, Giovanni, Guilherme Santos, João Felipe, Vinícius e Lucas Gomes e a manutenção de nomes como Diego Cavalieri, Gum, Jean, Wagner e Fred, com contrato renovado. Como avalia esse período? Acredita que o Fluminense tinha condições financeiras de arcar com a manutenção desses jogadores?
Das cinco renovações, dois foram vendidos no primeiro ano. Não pode ter gerado prejuízo. Wagner foi vendido para China. Jean, em dezembro. Os contratos eram longos pois eram jogadores com contrato da Unimed, que saiu no meio do caminho. Fred foi vendido para o Atlético-MG, ou seja, também entrou dinheiro no caixa do clube. Acho que foi por R$ 10 milhões. Além disso, o jogador mais importante da história do clube não pode ser considerado um prejuízo. Só por uma gestão caótica e que pensa o Fluminense de forma pequena. Gum e Cavalieri permaneceram, e todos esses citados continuam jogando na primeira divisão do Brasileiro em alto nível. Há quatro ano, enxergava isso e hoje eles continuam.
Fred, inclusive, ganha mais hoje no Cruzeiro. A alegação para a saída do Fred foi financeira, porém, logo que ele saiu a folha do Fluminense aumentou em R$ 2,7 milhões com as contratações de Dudu, Maranhão, Aquino… O ano de 2015 é o ano que o Fluminense mais faturou e teve o maior superávit do departamento de futebol. Gerson e Kenedy foram vendidos no meu período como VP. Por fim, cumpri um orçamento. A folha comigo jamais ultrapassou, com encargos, R$ 5 milhões mesmo com jogadores desse quilate. É óbvio que o Fluminense tinha condições de pagar. Essa pergunta, na verdade, deveria ser feita ao presidente Peter que pegou R$ 100 milhões adiantados na TV Globo e torrou o dinheiro em 2016 para eleger o candidato dele, o Abad. Que, às vésperas da eleição, declarou que as finanças estavam equacionadas. A dispensa do Cavalieri, por whatsappp, foi o que gerou prejuízo. Se ele tivesse sido vendido, emprestado ou doado, o Fluminense não teria de pagar nada a ele.