Foto: Lucas Merçon/FFC

A diretoria do Fluminense decidiu por interromper o trabalho de Fernando Diniz após a péssima campanha no Brasileiro. Efetivou Marcão, mas, pelo que já foi noticiado, mudou de ideia e busca um treinador no mercado. Mas na opinião de Jessica Cescon, jornalista do GE, há uma necessidade maior por jogadores do que por técnico.

Na opinião da profissional de comunicação, o Fluminense pratica um mau futebol muito mais em função das peças que dispõe do que pelo modelo de jogo aplicado. Confira abaixo, na íntegra, a postagem no portal do GE:

 
 
 

Desempenho ruim, a falta de resultados e a lanterna do campeonato foram determinantes para o Fluminense desistir de jogar de um jeito que praticamente só ele sabia. Mandou o autor da fórmula de jogo que lhe rendeu o título da Libertadores embora e decidiu dar início a um detox do que vinha praticando, quase como se precisasse se livrar de algo que não prestava para sobreviver. Um processo que leva tempo a acontecer, enquanto a cobrança é por uma recuperação rápida.

O plano do Flu parece claro: apagar o quanto antes aquela identidade e instaurar uma nova, para voltar a ser competitivo. Como se fosse culpa daquela ideia peculiar a falta de competitividade do Fluminense neste ano. De fato, é fácil argumentar contra a ideia de jogo do Diniz, porque ela consiste, de uma maneira bem resumida, em brincar com o perigo. O time aparenta ser vulnerável para atrair o adversário na arapuca… Bem, não é preciso discorrer sobre ela, porque todo mundo já a conhece. Acontece que no fim da era Diniz, vimos um Flu que parecia mais uma presa da sua própria armadilha do que o predador.

Mas era mesmo o sistema do Diniz que fez o Fluminense se tornar tão pouco competitivo? Porque o que vemos em campo é um time extremamente lento. Claro que o grupo ainda não se despiu das ideias enraizadas de Diniz e, a bem da verdade, vai levar bastante tempo para os jogadores automatizarem novas associações em campo – o que por si só já contraria a ideia de uma resposta rápida que a troca de treinador às vezes promove. Quero dizer que em campo o Fluminense sofre porque está num ritmo bem abaixo dos seus oponentes e isso independe da característica de jogo ou do treinador que o comandar.

Até mesmo contra o Grêmio, equipe que desde o ano passado demonstra falta de saúde física para sustentar sua própria organização tática, o Fluminense reagia com atraso. Parece que o problema é mais complicado de resolver: o ritmo mais lento na tomada de decisão e na execução das ações tem a ver com o perfil dos seus jogadores, perfil esse que foi endossado na janela do início do ano.

E aí tem algo importante. A ideia de jogo do Diniz era a única capaz, ao meu ver, de suportar jogadores com o perfil de extrema técnica mas sem explosão física. Um outro padrão tático e estratégico – que é o que o Fluminense decidiu buscar – vai exigir ainda mais da parte física dos jogadores. No futebol atual, só para sustentar a compactação e a ocupação de espaço, seja num jogo construído, seja num de transição (neste ainda mais) a saúde física é determinante. Há algumas alternativas, é claro, como a pressão pós-perda e uma construção que não exija participação ofensiva de todos os homens do meio. De qualquer modo, é um enorme desafio encontrar o equilíbrio com o elenco que o Fluminense tem.

É importante frisar que o Fluminense campeão da Libertadores tinha sua intensidade, que aparecia na rapidez com que dominava e passava a bola, por isso fazia tanto sentido ter jogadores prioritariamente técnicos. Quando perdia a bola, recuperava imediatamente, evitando uma recomposição e um jogo de transição. Não tinha um índice de perfeição na execução da sua ideia, mas contava com a boa fase dos seus jogadores num ambiente vencedor criado por Fernando Diniz.

Nessa história toda, faria muito mais sentido permitir ao treinador autor de uma ideia vencedora, na qual foram baseadas as contratações do início do ano, a oportunidade de se recuperar, do que iniciar um processo de detox que demanda tempo. E que joga o Fluminense, pelo menos por ora, na vala dos comuns, daqueles que não fazem nada de diferente em campo. Consolidar de verdade um DNA significa suportar o processo de ajustes, de derrotas e correções. Nenhuma ideia de jogo resiste ao longo de anos sem percalços pelo caminho (excetuando aquelas produzidas por Pep Guardiola, e olha que ele também fica triste de vez em quando). E o DNA de um time só é consolidado com o tempo.

Ou seja, agora é um Fluminense que entre uma partida e outra tenta apagar da memória dos jogadores o que eles fizeram por mais de um ano e dar uma nova lógica a ser seguida. Tudo isso enquanto carrega o peso de pontuar pra não cair. Mas a salvação pode estar próxima: a janela do meio do ano precisa ser aproveitada pelo clube a fim de corrigir a característica do elenco já que agora o flerte do Fluminense com o perigo não é mais parte de uma estratégia”.